
Maria Bethânia Galvão (acadêmica do 4º semestre de RI da UNAMA)
Keity Silva de Oliveira (acadêmica do 2º semestre de RI da UNAMA)
A Amazônia, sendo um bioma de suma importância no plano nacional e internacional, ainda possui um urgente e crescente desafio: a erradicação do desmatamento na região. Por essa razão a discussão acerca da ciência como aliada ao desenvolvimento sustentável na região amazônica é imprescindível para seu firmamento à serviço da “floresta em pé”, feita de maneira a considerar a organização do bioma amazônico e os povos que habitam nessa.
Dentro dessa perspectiva, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) através de um relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) em 2021, a área desmatada na Amazônia, entre agosto de 2020 e julho de 2021, foi de 13.235 km², número maior desde 2006 (G1, 2021).
Tendo como base estes dados, se demonstra a alta taxa de incidência dessa problemática, principalmente por conta do modelo de desenvolvimento econômico agropecuarista, que tem como principais meios de ação, o predatismo exacerbado com a natureza, sem levar em consideração a importância de preservação e conservação dos recursos naturais que a floresta dispõe e que são fundamentais para o bom funcionamento dos biomas que se desenvolvem no Brasil.
A partir disso, segundo Becker (2012), a Amazônia com sua extensa e rica natureza, sinaliza para a crescente degradação pelo avanço da fronteira móvel agropecuária e que põem em pauta, a responsabilização do Brasil e em especial, do governo federal, para lidar com esse patrimônio natural como uma questão nacional, regional e global.
É neste contexto que se situa a contribuição da ciência e tecnologia como aliadas para a preservação ambiental na Amazônia que corrobora para o reconhecimento da questão ecológica, de modo a concretizar e conscientizar possibilidades hoje existentes para a implementação de um novo modo de produzir baseado no conhecimento e que seja capaz de utilizar o patrimônio natural, sem destruí-lo, e de alterar as relações sociais de poder.
Ademais, a ciência e tecnologia são ferramentas que podem ser usadas para a construção de um futuro e desenvolvimento sustentável, inclusive ajudando no combate do desmatamento e que já possui fortes avanços por meio de dispositivos criados em favor do meio ambiente.
Dentre essas iniciativas, têm-se a PrevisIA, uma ferramenta de inteligência artificial criada e lançada em conjunto pela Microsoft, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Fundo Vale que antecipa diversas informações de regiões com maior risco de desmatamento e incêndios na região (TecMundo, 2021). Por meio de imagens de satélites e topografias, a plataforma faz a análise e identificação de diferentes tipos de territórios ameaçados no bioma, incluindo Terras Indígenas (TI) e Unidades de Conservação e as informações são repassadas para organismos públicos que atuam dentro desse cenário para a criação de ações preventivas.
Por meio da democratização do uso de Tecnologia da Informação, a plataforma permitiu o engajamento de diversos usuários, tendo seu acesso aberto ao público e permitindo o controle do desmatamento na região amazônica. Além disso, a integração de tecnologias e técnicas de inovação estão cada vez mais permitindo um novo olhar para as problemáticas ambientais como o desmatamento e as mudanças climáticas, onde inclui-se também o uso de satélites, dados geoespaciais e sistemas de sensoriamento, sendo comumente usados pelo Imazon e pelo Inpe no Brasil e que são de suma importância na coleta de dados e fornecimento de informações.
Nesse cenário, os estudos acerca da bioeconomia, ou também conhecida como Terceira Via Amazônica, estão cada vez mais em crescimento, por meio dos quais se propõem um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, utilizando-se da produção e conservação de recursos biológicos por meio do conhecimento, da ciência, tecnologia e inovação para o fornecimento de informações, produtos e serviços, objetivando-se uma economia sustentável (Brasil de Fato, 2021).
Através disso, um grupo de cientistas coordenados por Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), lançou em 2016, a chamada iniciativa Amazônia 4.0, propondo uma economia da floresta em pé e na sociobiodiversidade amazônica, tendo como principal aliada a Indústria 4.0, visando a conciliação da preservação da natureza com a geração de trabalho e renda para as populações amazônidas por meio do uso de tecnologias advindas da Indústria 4.0 e que agregaria os conhecimentos das próprias comunidades sobre a biodiversidade local (Ihu Online, 2018).
A iniciativa possui semelhança com a ideia proposta pela geógrafa Bertha Becker, chamada de “economia do conhecimento da natureza”, sendo uma das pioneiras ao reivindicar uma revolução cientifica e tecnologia para a Amazônia como via de diminuição do modelo de desenvolvimento vigente que é baseado na lógica de uma “economia da destruição da natureza” (Becker, 2007). Segundo a geógrafa, o crescimento econômico da Amazônia é uma condição indispensável para uma inclusão social com conservação e preservação do meio ambiente. Nesse sentido, a ideia proposta por Carlos Nobre evidencia os investimentos em conhecimentos científicos e tecnológicos na Amazônia para o desenvolvimento sustentável.
Sobre a temática exposta ao longo do texto, a ciência e a tecnologia devem fazer parte do projeto de sustentabilidade na região Amazônica como forma de frear o desmatamento por meio de estudos do mapeamento da região, assim como a instalação de equipamentos que monitorem as atividades dentro do espaço. É imprescindível que tais tecnologias estejam comprometidas com a preservação da fauna e flora amazônica, e que considerem as vivências das comunidades tradicionais que a habitam, dessa maneira a ciência representará um meio essencial de superação da exploração estrutural colonizadora do agronegócio na Amazônia.
Diante do que foi exposto, evidencia-se o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), da Universidade Federal do Pará (UFPA) já mencionado anteriormente no Amazônia em Foco e que é referência na Amazônia no ensino em nível de pós-graduação em desenvolvimento regional sustentável. Tem como principais objetivos a identificação, a descrição, a análise, a interpretação e o auxílio na solução dos problemas regionais amazônicos, a pesquisa em assuntos de natureza socioeconômica relacionados com a região e a difusão de informações dentro da realidade amazônica, desenvolvendo e priorizando a interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Para mais informações, acesse:
Site Oficial do NAEA: < http://www.naea.ufpa.br/ >
Instagram do NAEA: < https://www.instagram.com/naea.ufpa/ >
Ressalta-se também os estudos feitos pelo Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS), criado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que tem como principais objetivos, a contribuição para o desenvolvimento regional, melhoria da qualidade de vida das pessoas, possibilitando o emprego de tecnologias sustentáveis na conservação dos recursos naturais, bem como o fornecimento de subsídios à implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento humano. Foi criado em 2011, unindo pesquisas na área de tecnologias sustentáveis para comunidades e alguns estudos do ambiente físico natural da Amazônia.
Para mais informações, acesse:
Site com os estudos publicados pelo GPIDATS: < https://www.mamiraua.org.br/gp-inovacao >
Site Oficial do Instituto Mamirauá: < https://www.mamiraua.org.br/ >
Instagram do Instituto Mamirauá: < https://www.instagram.com/institutomamiraua/ >
REFERÊNCIAS
Brasil de Fato – Iniciativa Amazônia 4.0 apresenta a bioeconomia como alternativa ao desmatamento. Coluna do Observatório de Política Externa Brasileira. Publicado em: 23 de julho de 2021. Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2021/07/23/iniciativa-amazonia-4-0-apresenta-a-bioeconomia-como-alternativa-ao-desmatamento > Acesso em: 12 de dezembro de 2021.
BECKER, Bertha. Ciência, tecnologia e inovação–condição do desenvolvimento sustentável da Amazônia. Parcerias Estratégicas, v. 15, n. 31, p. 15-34, 2012. Disponível em: < http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/view/496/472 > Acesso em: 12 de dezembro de 2021.
BECKER, Bertha; NASCIMENTO, Elimar; DE SOUZA VIANNA, João Nildo. Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2007. Acesso em: 12 de dezembro de 2021.
G1 Globo – Desmatamento na Amazônia passa de 13 mil km² entre agosto de 2020 e julho de 2021, apontam dados do Prodes. Publicado em: 18 de novembro de 2021. Disponível em: < https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2021/11/18/desmatamento-na-amazonia-passa-de-13-mil-km-entre-agosto-de-2020-e-julho-de-2021-apontam-dados-do-prodes.ghtml > Acesso em: 12 de dezembro de 2021.
IHU Online – Amazônia 4.0. A criação de ecossistemas de inovação e o enraizamento de uma nova bioeconomia. Entrevista especial com Carlos Nobre. Publicado em: 09 de agosto de 2018. Disponível em: < https://www.amazoniasocioambiental.org/pt-br/radar/amazonia-4-0-a-criacao-de-ecossistemas-de-inovacao-e-o-enraizamento-de-uma-nova-bioeconomia-entrevista-especial-com-carlos-nobre/ > Acesso em: 12 de dezembro de 2021.
TecMundo Ciência – Dia da Amazônia: a tecnologia pode ajudar a salvar o bioma? Publicado em: 05 de setembro de 2021. Disponível em < https://www.tecmundo.com.br/ciencia/224373-dia-amazonia-tecnologia-ajudar-salvar-bioma.htm > Acesso em: 12 de dezembro de 2021.