Pablo Oliveira Gomes – acadêmico do 6º semestre do curso de Relações Internacionais da Unama.

No dia doze de dezembro do ano de 2012, ou 12/12/12, uma resolução histórica foi aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU): o acesso à saúde foi reconhecido como uma prioridade máxima para o desenvolvimento sustentável da humanidade. Assim essa data ficou marcada como o Dia Mundial da Cobertura Universal da Saúde.

Baseado na premissa de que todos os povos e comunidades devem ter acesso a serviços de saúde de qualidade  sem que precise investir muito dinheiro, essa mobilização que conta com mais de mil instituições espalhadas ao redor do globo busca espalhar informações acerca da necessidade de sistemas de saúde fortes e resilientes, além de dar vozes a milhares de pessoas que aguardam por  um serviço de saúde de qualidade, como faz a UHC2030.

A UHC2030, da sigla em inglês Universal Health Coverage, é uma plataforma que busca unir a sociedade civil, organizações internacionais, iniciativa privada, a academia e organizações governamentais para colaborarem entre si para acelerar o processo da cobertura universal de saúde, visto que isso é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável promovidos pela ONU em sua Agenda 2030 (UHC2030, 2021).

Essa mobilização – digna e importante – esbarra, porém, na hipocrisia quando vista pelas lentes da pandemia de COVID-19, uma vez que em frente à um problema de saúde global os Estados lutam entre si para aquisição de insumos para a produção de vacinas, além das vacinas em si, de forma que os países ricos gozam de sua vantagem política e deixam de lado países mais pobres. (EL PAÍS, 2021)

Segundo a própria OMS (2021), o continente africano é o que menos vacinou no mundo, e um dos países que se pode  citar como exemplo é a República Democrática do Congo, que vacinou cerca de 0,24 pessoas, a cada 100. Esse índice é recorrente em outros países, como mostra o Mapa 1 abaixo:

Mapa 1 – Total de doses administradas a cada 100 habitantes (2021)
Fonte: WHO – CORONAVIRUS

Observando a recorrência dessa situação, é significativo dizer que deixar esses países mais pobres ao léu é uma ameaça a todos, visto que mesmo que grande parte da Europa e outros países ricos vacinem sua população, novas variantes podem surgir em outros lugares menos desenvolvidos, como aconteceu no caso da variante Ômicron (BBC, 2021).

Assim, o Dia Mundial da Cobertura Universal da Saúde nos faz refletir: qual o futuro que queremos para a humanidade se em situações de emergência lutamos uns contra os outros, e não nos ajudamos?

É  dever de todos criar um ambiente menos conflituoso, de forma que as relações de poder sejam cada vez mais substituídas por um sistema de ordem e justiça, e é isso que Andrew Linklater escreve ao procurar possibilidades de uma mudança sistemática nas relações internacionais. (FRANÇA, 2007)

Linklater fala que,  para que essa mudança possa acontecer, três transformações devem ser essenciais: (1) criação de relações mais universalistas, (2) diminuição das desigualdades e (3) maior sensibilidade às diferenças culturais. Então, dessa forma, seriam criadas comunidades políticas com uma ética universal e onde as diferenças possam ser respeitadas. (FRANÇA, 2007)

Além disso, para a instauração dessa comunidade cosmopolita devemos questionar o porquê de atualmente muitas pessoas terem suas vozes caladas, excluídas ou negligenciadas (FRANÇA, 2007). Comunidade científica, analistas políticos, porta-vozes africanos entre outros alertaram para com o descaso na situação africana e, obviamente, não foram ouvidos.

Por fim, entendemos que plataformas de integração como a UHC2030 são muito importantes por criarem um ambiente de diálogo entre muitas comunidades, e ambientes como esse podem ser a semente para uma comunidade cada vez mais cosmopolita, que lute contra as desigualdades e busque uma integração maior. Assim, a mobilização para a cobertura universal da saúde é válida, digna e um ponto super importante para que possamos caminhar juntos, como um único povo, a um futuro mais próspero.

Referências

Biblioteca Virtual em Saúde. “Saúde para todos”: 12/12 – Dia da Saúde Universal ou Dia da Cobertura Universal de Saúde. Publicado em: _______. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/saude-para-todos-12-12-dia-da-saude-universal-ou-dia-da-cobertura-universal-de-saude/>. Acesso em: 09 de Dezembro de 2021.

Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama. 12 de Dezembro é o Dia da Cobertura Universal em Saúde. Publicado em: 11 de Dezembro de 2020. Disponível em: <https://www.femama.org.br/site/br/noticia/12-de-dezembro-e-o-dia-da-cobertura-universal-em-saude>. Acesso em: 09 de Dezembro de 2021.

UHC2030. Taking action for universal health coverage. Publicado em: _______. Disponível em: <https://www.uhc2030.org/>. Acesso em: 10 de Dezembro de 2021.

NARANJO, José. O barril de pólvora da pandemia na África: o desafio de um continente sem vacinar contra a covid-19. El País. Publicado em: 05 de Dezembro de 2021. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/internacional/2021-12-05/o-barril-de-polvora-da-pandemia-na-africa-o-desafio-de-um-continente-sem-vacinar-contra-a-covid-19.html> Acesso em: 10 de Dezembro de 2021.

BBC. Ômicron: falta de vacinas contribuiu para surgimento de nova variante na África? Publicado em: 01 de Dezembro de 2021. Disponível em: < bbc.com/portuguese/internacional-59494616 >. Acesso em 10 de Dezembro de 2021.

FRANÇA, Kelly Ribeiro. Uma discussão sobre a ampliação (…) – (2. Ampliação da Comunidade Política – Cosmopolitismo e Ética Dialógica em Andrew Linklater.) – Dissertação (Mestrado em Relações internacionais)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em < https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/10849/10849_3.PDF >

WHO CORONAVIRUS. Vaccination – Total doses administered per 100 population. Disponível em: <https://covid19.who.int/>. Acesso em: 10 de Dezembro de 2021.