Amanda Araújo – Acadêmica do 4° semestre.

Ficha Técnica

Direção e Produção: Dennis Villeneuve
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Elenco Principal: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson

A ficção científica emergiu em meio aos diversos gêneros cinematográficos como uma das grandes apostas de Hollywood, especialmente quando se trata de adaptações. A exemplo disso, é possível citar grandes franquias adaptadas para o cinema, tais quais “Jogos Vorazes”, “Jurassic Park” e entre outros
Duna é um clássico da ficção científica, escrito por Frank Herbert, em 1965. O livro teve sua primeira tentativa de produção cinematográfica em 1984, no entanto não obteve muita aprovação crítica e nem audiência. Deste modo, o remake lançado em 2021 carregou a pressão, não só de fazer jus à obra original, mas também superar o fracasso do primeiro longa.
A história se passa em um futuro distante, com uma tecnologia avançada e diferente, sem a presença de computadores, robôs ou qualquer máquina eletrônica. Ao decorrer da narrativa, o telespectador é apresentado à Arrakis, planeta fictício que é responsável pela riqueza de todo o sistema planetário.
Isso se deve ao fato de que o planeta é o único que possui a especiaria que rege toda a economia dos povos, a Melange – uma espécie de narcótico produzido naturalmente – a qual movimenta todo o comércio e as viagens intergalácticas, sem a especiaria, os navegadores seriam incapazes de traçar rotas.
Melange é a chave para os poderes proféticos do protagonista, Paul Atreides (Timothée Chalamet), herdeiro de uma das casas mais influentes e a responsável pelo deserto de Arrakis, chamado de Duna pela população nativa.
Aos olhos comuns, Duna pode ser visto como mais uma ficção científica de um ritmo lento e arrastado, com histórias individuais bem detalhadas e um tanto demoradas. No entanto, o filme, aos olhos de um internacionalista, é repleto de elementos que exemplificam a desigualdade e hegemonia econômica de uma parcela da população em detrimento da massa.
Segundo Susan Strange (1986), uma das principais economistas internacionais, aquele que possui mais dinheiro (a moeda de troca vigente) possui mais poder e, aqueles que possuem mais poder, sempre irão ganhar no final, não importa o que aconteça. Essa lógica é definida pela autora como “Cassino Capitalismo”, em seu livro de mesmo nome.
Contextualizando o conceito com o filme Duna, a moeda de troca, a especiaria Melange, é o instrumento dos Estados, que nos filmes são as casas. Mesmo a especiaria sendo encontrada no planeta Arrakis, a população nativa do mesmo vive em extrema pobreza, pois a matéria prima foi retirada sem seu consentimento e sem dar a eles uma parte.
Sendo assim, o mercado de Melange se tornou um oligopólio econômico e político, onde apenas os nobre detentores comandam as negociações comerciais. Strange (1986) chama isso de “Centralidade de Estrutura Financeira” e “Hierarquia Monetária”.
Nos primeiros segundos de filme, a personagem nativa de Arrakis diz que o seu povo só conhece a crueldade e, desde que os estrangeiros vieram e dominaram a produção de especiarias, os Fremen esperam sempre para saber quem serão os próximos opressores.
Essa fala demonstra o pensamento de outro economista, Thomas Piketty, o qual disserta em seu livro “O capital no século XXI” que as facilidades das famílias ricas e as penúrias dos mais pobres não são meras coincidências. Isso é o resultado da concentração de riquezas em uma minoria, a qual aumenta suas heranças em detrimento da economia de produção. (PIKETTY, 2014).
Em suma, Duna é uma ficção repleta de jogos políticos por poder, tal qual o sistema internacional e o mercado da especiaria é uma grande metáfora para o domínio de dinheiro e como ter a moeda de troca mais valiosa, configura uma vantagem sobre o jogo que é a economia internacional. Isso não vem sem consequências, os resultados das jogatinas são refletidos na multidão de pessoas à margem da pobreza, as quais tiveram suas oportunidades furtadas e que estão sempre em desvantagem.

REFERÊNCIAS

PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Intrínseca: Rio de Janeito, 2014

STRANGE, Susan. Casino Capitalism. Manchester University Press: Manchester, 1997.