Guerra de Canudos - História Enem | Educa Mais Brasil

A guerra de Canudos foi um dos episódios mais emblemáticos da história republicana Brasileira, exemplificando os conflitos sociais que, em certa medida, assolam nossa sociedade até hoje. Religiosidade contra secularismo, o campo contra a cidade, o campesinato contra o Estado.

O principal personagem do conflito era um andarilho religioso ascético chamado Antônio conselheiro. Considerado um santo por seus seguidores, após passar muitos anos vagando pelo Nordeste pregando e reconstruindo igrejas, começou a denunciar a nova república por ser um governo secular, portanto, aos seus olhos, ilegítimo.

Conselheiro assentou-se na região de Belo Monte (popularmente chamada Canudos) e atraiu inúmeros moradores da região, com a esperança de se livrar dos flagelos econômicos que assolaram o Nordeste, construindo uma comunidade coletivista e agrária. Conselheiro e seu assentamento foram vistos como uma ameaça pelas elites rurais, que pressionaram o governo republicano, caracterizando Conselheiro e seus seguidores como agitadores que queriam derrubar a República e reinstalar a monarquia (OXFORD, 2021).

O estopim da rebelião ocorreu em 1893, quando os habitantes de Canudos queimaram os documentos oficiais e se recusaram a pagar impostos. Duas expedições militares foram enviadas pelo governo da Bahia, mas foram repelidas, causando uma grande sensação midiática e pressionando ainda mais o governo. Uma terceira expedição foi enviada com tropas profissionais e artilharia importada da Alemanha; o seu sucesso resultou na morte da maior parte dos 25 mil habitantes de Canudos, assim como a decapitação post mortem de Antônio Conselheiro (CLÍMACO, 2017)

Mesmo não tendo uma forte ligação com o sistema internacional, a guerra de canudos permite abordar diversas análises, dentre elas a questão de noção de Estado-nação que se destaca devido à forte repressão imposta contra o movimento que surgia. O termo Estado-nação é muito presente nas Relações Internacionais, nele está inserido diversas dinâmicas, por ser a relação entre uma entidade política, Estado e uma unidade étnica e cultural, Nação (SANTOS et al, 2009).

            Desse modo, esse entendimento se torna uma relação de poder e, nesse sentido, essa relação é utilizada para legitimar discursos, conduzir ideologias e mascarar os reais interesses da política estatal em dominar o seu território e seu povo, bem como muitas vezes velar o uso da força e da violência na formação territorial e política do país (SANTOS et al, 2009). Muitas vezes esse trato está inclinado a favorecer as classes dominantes provocando sistemas de desigualdades e repressões.

            Segundo Nira Yuval-Davis e Floya Anthias (1989), o Estado é visto como uma estrutura gestora e/ou uma força dedicada à repressão, controle e coerção permitindo ao mesmo incorporar diversas instituições sociais cujos os papéis são privados (igreja, família, escola, mídia) fazendo com que ele se envolva em diferentes processos ideológicos, jurídicos e outros mecanismos repressivos (DAVIS et al, 1989). Assim, tanto o caráter de rebeldia contra as leis do movimento de Canudos, quanto a insatisfação das outras esferas “provocadas” como a religiosa e agraria/econômica contribuíram para que a barbárie fosse legitimada.

            Por fim, a campanha liderada por Antônio Conselheiro foi considerada ‘inimigo da nação” e demostrava a preocupação da liderança republicana com o progresso da unificação territorial e o que ela poderia provocar, uma vez que não podiam aceitar que dentro do Estado-Nação houvesse formas de um fazer econômico, político e cultural à parte do institucionalizado, já que toda essa dinâmica resultaria no enfraquecimento da soberania do Estado e das relações de poder instituídas (PINHEIRO, 2020).

       O conflito de Canudos representa características do Estado Brasileiro que já foram apontadas e criticadas por vários acadêmicos, essas características são duas:a primeira seria a de que o Estado Brasileiro foi criado e forjado em cima do sangue da sua população; e a segunda de que o exército brasileiro sempre foi mais utilizado para meios de repressão interna. Ao analisarmos o evento de Canudos principalmente aos olhos de Nira Yuval-Davis, vemos que as acusações anteriores tem respaldo e contexto ao juntarmos com o histórico não só de Canudos, mas também de outras revoltas que existiram no Brasil.

Referencias:

CLÍMACO Caio. 120 ANOS DO FIM DA GUERRA DE CANUDOS : UMA FERIDA EM ABERTO NO BRASIL. Revista Brasil de Fato. Canudos, 27 de Novembro de 2017. Disponível em https://www.brasildefato.com.br/2017/11/27/artigo-or-120-anos-do-fim-da-guerra-de-canudos-uma-ferida-em-aberto-no-brasil Acesso em 27 de Novembro de 2021.

DAVIS, NIRA YUVAL; ANTHIAS, FLOYA. Woman-Nation-State. 1989th ed. Palgrave Macmillan, 1989. 194 p.

OXFORD. RESEARCH ENCYCLOPEDIA LATIN AMERICAN HISTORY. Oxford University, 2021.

PINHEIRO, Robinson Santos; DUARTE, Tiaraju Salini. GUERRA DE CANUDOS (1896 – 1897): DA EMANCIPAÇÃO SERTANEJA À BARBÁRIE PROMOVIDA PELO ESTADO-NAÇÃO. Revista GeoNordeste, São Cristóvão, 16 04 2020. Artigo: Epistemologia da Geografia. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/geonordeste/article/view/12515. Acesso em: 25 nov. 2021.

SANTOS, A. R. et al. Estado-Nação: a emergência da identidade nacional para consolidação do Estado no Brasil. In: FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES: EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE E QUESTÕES DE GÊNERO, 3., 2009, Itabaiana. Anais eletrônicos… Itabaiana, UFS, 2009. Disponível em: <http://200.17.141.110/forumidentidades/IIIforum/textos/Liliane_de_Jesus_Dias.pdf&gt;. Acesso em: 26 nov. 2021.