
Anaclara Franco (acadêmica do segundo semestre de RI da UNAMA)
Brenna Dias (acadêmica do segundo semestre de RI da UNAMA)
Ruth Pinto de Souza (1921-2019) foi a primeira atriz brasileira a brilhar no teatro, televisão e cinema nacionais e internacionais. Nascida em 12 de maio de 1921 na Zona Norte do Rio de Janeiro, Ruth viveu em uma fazenda no interior de Minas Gerais até seus 9 anos, quando seu pai faleceu, e mudou-se com sua mãe e três irmãos para o Rio.
Filha de um agricultor e uma lavadeira, Ruth tornou-se a primeira atriz brasileira a ser reconhecida internacionalmente e tornou-se um símbolo de luta contra o preconceito racial e empoderamento feminino.
Em um período que pessoas negras eram proibidas de atuar, Ruth de iniciou a sua carreira no Teatro Experimental do Negro (TEN), tendo sua importância definida por (Almada, 1995), “[…] o TEN abriu suas portas e mostrou que o negro poderia dedicar-se à dramaturgia”. Assim, por meio desta oportunidade, a atriz se tornou um nome conhecido dentro e fora do TEN, foi também a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio.
Anos mais tarde, Ruth de Souza ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller, então passou o período de um ano morando nos Estados Unidos para estudar dramaturgia e outras artes, na American National Theater and Academy, Karamu House e na Universidade de Harvard.
Retornando ao Brasil, ela foi indicada ao prêmio de melhor atriz no festival de Veneza pelo seu papel no filme “Sinhá Moça”, em que não levou o prêmio por apenas dois pontos de diferença.
A presença do negro marcada por estereótipos ou ausência nas tramas reflete a importância da história de Ruth de Souza, “[…] pois se estabelece no período pós-guerra e num quadro em que as relações raciais brasileiras começavam a ser questionadas de modo sistemático em virtude dos graves acontecimentos internacionais” (ROSA, 2010, p.54).
Ruth de Souza se dedicava muito em seus papéis e lutava por uma construção séria e coerente das personagens, sendo crítica com os diretores acerca de seu trabalho. Um exemplo disso pode ser demonstrado em um relato da atriz, citado por (Jesus, 2004, p.32-33) “Ele contestou: ‘Toda negra se chama Bastiana!’ Retruquei com calma, mas firme: ‘Toda negra não, eu me chamo Ruth!”.
Mesmo sendo um símbolo do teatro, televisão e cinema, a própria atriz questionou o fato de ser considerada uma “estrela”, apesar de não ter protagonizado algo. E neste ponto é válido ressaltar que a reflexão da atriz pareceu mais uma crítica à dramaturgia brasileira e a falta de protagonismo negro.
A trajetória inspiradora e o seu pioneirismo refletem a existência do título de estrela dado a Ruth de Souza, que faleceu em 28 de julho de 2019, em decorrência de uma pneumonia. Em 2021, ela completaria seu centenário, quando recebeu uma homenagem através do Google Doodle, por ter aberto o caminho para muitos artistas negros no Brasil e no mundo.
Depois de mais de 70 anos de carreira, cerca de 20 anos de televisão, 30 filmes e obras no teatro, Ruth deixou um legado muito inspirador para as atrizes da atualidade.
Referências:
ROSA, Daniela Roberta Antonio. Eu me chamo Ruth!”: Reflexões sobre uma ‘estrela negra. Revista Espaço Acadêmico, v. 9, n. 106, p. 50-55, 2010.
ALMADA, Sandra. Damas Negras: sucesso, lutas, discriminação. Rio de Janeiro, Mauad Editora Ltda, 1995.
JESUS, Maria Ângela de. Ruth de Souza: A estrela negra. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2004.