Antonio Amorim – Acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Quando falamos sobre a cultura negra no Brasil, devemos levar sempre em consideração todo o contexto histórico e estrutural o qual permeia tais debates, principalmente no Mês da Consciência Negra. Neste sentido, o Brasil e seus entornos geográficos sofreram processos históricos que levaram a perpetração da escravidão, desigualdade, racismo, entre outras mazelas sociais que estão enraizadas em nosso cotidiano.

A priori, a teoria de Michael J. Shapiro e as Cartografias Violentas) das Relações Internacionais nos ajuda a entender que quando abordamos debates raciais no âmbito da América Latina, em especial no Brasil, não significa fazer referência a um “espaço” específico do globo, e sim compreender a reprodução de uma forma institucionalizada de dominação racial, onde uma minoria branca controla e disciplinariza grupos étnicos afrodescendentes.

De maneira objetiva, as Cartografias Violentas são construções sociais de imaginários geográficos que, ao serem articulados às questões de identidade-diferença, criam antagonismo que orientam políticas de segurança (SHAPIRO, 1999). Ou seja, no Brasil, as políticas de segurança pública têm um viés discriminatório ligado à cor da pele e reforça o racismo estrutural oriundo desde os tempos da escravidão e nunca foi combatido de forma efetiva pelo Estado.

Ainda dentro desse debate, deve-se ressaltar também que além da violência policial, a população negra representa grande parte da ocupação carcerária no país. E apesar do longo e violento processo aculturativo, a cultura africana não foi destruída, mas persistiu, mesmo esfacelada. Pode-se notar isso pelo sincretismo, principalmente religioso, tão evidente quando se abordam os aspectos culturológicos      da questão religiosa (MARCONI, PRESOTTO, 2010).

Ademais, é inevitável ressaltar a importância da cultura negra na construção histórica e cultural do Brasil, isso vêm desde a importância do negro na Economia Brasileira durante os ciclos econômicos do país, através da sua mão de obra até a sua herança cultural-religiosa, como na música através do Samba e instrumentos musicais como tambores e o berimbau, na culinária com comidas típicas regionais como vatapá, acarajé, o bobó etc. Embora tais heranças sejam de grupos étnicos diversos em graus culturais, eles deram uma contribuição valiosa à cultura brasileira.

Não obstante, reflexos internacionais como o Movimento “Black Lives Matter (Vidas Negras Importam)” reverberaram tais debates em nosso país pela rotina de violência racista ainda vigente em todo continente americano. O Ativismo digital desse movimento cobra a união da sociedade branca para que não se feche os olhos diante da violência principalmente policial, que se acostumou e banalizou o genocídio de jovens negros nas favelas ou a ser complacente com a ausência de representatividade em posições de destaque no Brasil.

Portanto, diante dessa abordagem devem ser ressaltadas as características geográficas e históricas que levaram a “normalização” do racismo na América Latina. O compromisso de lutar diariamente contra práticas de injúria e violências físicas é de suma importância para que se reforme uma sociedade mais igualitária e justa, além de ações em redes digitais, deve-se buscar o fomento de campanhas permanentes a fim de apoiar à causa, para que não seja necessário mais sangue derramado de vidas inocentes para ter consciência e engajamento na pauta racial.

REFERÊNCIAS

“Vidas Negras Importam” chacoalha parcela de brasileiros entorpecida pela rotina de violências racista. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-06/vidas-negras-importam-chacoalha-parcela-de-brasileiros-entorpecida-pela-rotina-de-violencia-racista.html . Acesso em: 12 nov 2021.

Proporção de negros nas prisões cresce 14% em 15 anos, enquanto a de brancos cai 19%, mostra Anuário de Segurança Pública. Disponível em: https://www.google.com/amp/s/g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/noticia/2020/10/19/em-15-anos-proporcao-de-negros-nas-prisoes-aumenta-14percent-ja-a-de-brancos-diminui-19percent-mostra-anuario-de-seguranca-publica.ghtml . Acesso em: 12 nov 2021.

Shapiro, Michael J. (1999), Cinematic Political Thought: Narrating Race, Nation and Gender. Edinburgh: Edinburgh University Press.

Marconi, Marina de Andrade; Presotto, Zelia Maria Neves. Antropologia: UMA INTRODUÇÃO. 7 ed.  – 3. reimpr. São Paulo: Atlas, 2010.