Operation Barkhane - Wikipedia

Escrito por Leônidas Machado e Peter Wesley (4 semestre) e Matheus Virgulino (6 semestre)

A presença francesa na África Ocidental se remete, aproximadamente, ao século 16, época em que os portugueses estabeleceram as primeiras conexões com os povos ocidentais africanos (THE AFRICA CENTER, 1987), conexão essa que, até o século 18,  teve característica comercial, principalmente pelo estabelecimento de postos comerciais e economia girada em torno do comércio de escravos. Com os avanços industriais dos anos iniciais do século 19, a expansão e conquista pelo interior da África começa a se mostrar benéfica para as potências europeias residentes ali, portanto potências como Inglaterra e França preparavam planos para uma futura conquista do interior da África.

A campanha britânica expansionista era caracterizada por uma forte influência comercialista, enquanto que a francesa foi marcada pela militar, principalmente quando observamos que a primeira expansão da França para o interior ocidental da África foi feita sobre a direção do general Louis Faidherbe. A forte característica militar na expansão francesa seria um grande fator para explicar as reverberações, até hoje, no Modus operandis da França na região.

A atual atuação francesa na região contém um teor mais voltado pro combate ao terrorismo e ajuda às forças locais para manter a estabilidade local, como, por exemplo, em setembro do ano de 2021, onde uma unidade militar foi capaz de neutralizar o líder do Estado Islâmico na região do Mali (AL JAZEERA, 2021). Entretanto, não há somente “flores” nas operações da França na região; em 3 de janeiro, um helicóptero francês foi acusado de matar mais de 19 civis em uma operação que envolvia a tentativa de abate de homens armados suspeitos de serem um “grupo terrorista armado”.

Em uma perspectiva geopolítica a política Francesa na África ocidental demonstra uma clara utilização de smart power, este definido como a junção de forças tangíveis e intangíveis nas relações internacionais (OXFORD, 2018). Presente no fato que na mesma medida que mantêm laços históricos e culturais com os países Francófonos da região também aplica coerção econômica e presença militar na região. O objetivo apresentado da luta contra o terrorismo apresenta uma possibilidade de aumento de prestígio da França como ator internacional e apresenta uma justificativa em suas ações.

Em uma perspectiva pós-colonial, a presença e intervenções Francesas na África, sejam de cunho político, econômico ou militar, constituem uma continuação do imperialismo francês na região mesmo após a queda de seu império após a segunda guerra mundial. O pós-colonialismo compreende a política internacional como intrinsecamente relacionada à relações de poder em caráter hierárquico (CHOWDHRY e NAIR, 2002). A subordinação e dependência na relação entre o Sul e o Norte global é, portanto, uma estrutura de poder Eurocêntrica.

No caso da França e da África Ocidental, isso é demonstrado na continuação do uso do Franco como moeda em vários países mesmo com a mesma já sendo abandonada na França, que detêm o controle sobre sua emissão. A França construiu os sistemas políticos na sua esfera Africana ou “Françafrique” com a concentração de poder nas mãos do executivo, e, portanto, nas mãos das elites cujos interesses alinhavam-se com as demandas econômicas Francesas em seus respectivos países (DW,2020). A ação militar Francesa na África Ocidental, desse modo,é uma continuação da imposição de poder Francês nos povos Africanos que anteriormente estavam sobre seu domínio mais direto.

É inegável as marcas deixadas pela presença francesa na África Ocidental, desde a Conferência de Berlim (1884-1885), que inflamou as iniciativas colonialistas francesas, com os territórios e povos tendo suas estruturas modificadas através de políticas de assimilação cultural. Com o fim desse processo colonial, a França se prontificou em manter laços com as ex-colônias, assim mantendo também sua influência nesses territórios, pois, para a França, a África Ocidental soa como uma boa oportunidade para buscar prestigio internacional com suas ações voltadas ao combate ao terrorismo e auxilio as forças locais (PENNA FILHO, et al. 2014).

Referencias:

AFRICA AND FRANCE : AN UNFULFILLED DREAM OF INDEPENDENCE ?. (2020, September 03). Deutche Welle. Disponível em : https://m.dw.com/en/africa-and-france-an-unfulfilled-dream-of-independence/a-54418511 Acesso em 14 de Novembro de 2021.

CHOWDHRY Geeta, NAIR Sheila. POWER, POSTCOLONIALISM AND INTERNATIONAL RELATIONS. Routledge, 2002.

France says leader of ISIL group in Sahel has been killed. (2021, September 16). Breaking News, World News and Video from Al Jazeera. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2021/9/16/france-says-leader-of-isil-group-in-sahel-has-been-killed.

 French in West Africa. (n.d.). The Africa Center. Disponível em: https://www.africa.upenn.edu/K-12/French_16178.html.

PENNA FILHO, P.; KOFFI, R. B. A França Na África: As Intervenções Militares E Suas Motivações – O Caso Da Costa Do Marfim. Carta Internacional[S. l.], v. 9, n. 2, p. 156–172, 2014. DOI: 10.21530/ci.v9n2.2014.197. Disponível em: https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/197. Acesso em: 14 nov. 2021.

OXFORD. THE CONCISE DICTIONARY OF POLITICS AND INTERNATIONAL RELATIONS. Oxford University Press, 2018.

UN inquiry finds French air strike killed Mali civilians. (2021, March 30). BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-africa-56580589.