MOSCOW, RUSSIA – NOVEMBER 29: The World Cup trophy is seen on stage during the Behind the Scenes of the Final Draw for the 2018 FIFA World Cup at the Draw hall on November 29, 2017 in Moscow, Russia. (Photo by Lars Baron – FIFA/FIFA via Getty Images)

Arthur Rubens Silva Miranda – Acadêmico do 8° Semestre de Relações Internacionais da Unama

Debater a respeito do esporte nas áreas das Relações Internacionais, é procurar compreender que este era um tema pouco explorado e que não possuía relevância alguma por não estar atrelado aos motes centrais que eram bases de estudos das correntes teóricas clássicas. Porém, com a ascensão dessa esfera e o surgimento de inúmeras modalidades esportivas, notou-se que este elemento passou a ser caracterizado por moldar as identidades, e, principalmente, por ser um agente universal responsável por manter a relação entre os Estados, e, estruturar a manutenção e zelo da paz.

Diante disso, o futebol passa a exercer um papel fundamental, pois movimenta um dos maiores mercados financeiros, proporciona eventos globais, utiliza a mais alta tecnologia em transmissões e equipamentos esportivos, transformando atletas de todas as origens em ídolos internacionais, além de ser o esporte que trilhou uma vasta jornada, sem nenhum tipo de glamour e com poucos holofotes, até chegar ao patamar que se conhece hoje (FRANCO, Brasil Escola, 2021, s/p). Nas Relações Internacionais, por exemplo, o esporte é moldado como um regozijo capaz de expressar uma luta nacional, onde os atletas possuem o importante papel de representar os seus Estados e suas respectivas Nações.

Nesse contexto, a Copa do Mundo é a maior atração futebolística que já existiu. Desenvolvida por Jules Rimet, a competição tinha como intuito apresentar um elo de comunicação entre os povos do hemisfério Norte (setentrional ou boreal) e do hemisfério Sul (meridional ou austral). Além do mais, a ideia de criar um torneio assim derivava da seguinte questão: a primeira delas era o fato de Rimet ter atuado em sua juventude contra as desigualdades sociais, o qual acabou sendo ligado a política cristã. A segunda questão ocorre em 1897, quando se nota o surgimento do RSC (Red Star Club), um conjunto poliesportivo destinado à participação de operários, buscando estimular nesse clube aberto um convívio igualitário (PINTO, História do Mundo, 2021, s/p). A terceira e última questão era a tentativa da implantação e uso do esporte para estabelecer laços diplomáticos entre os países que estavam em guerra.

Então, somente com o surgimento da FIFA em 1904, e a eleição de Jules Rimet como seu presidente em 1921, a Copa do Mundo veio à tona pela primeira vez. Sediada no Uruguai em 1930, a Copa do Mundo contou com uma modesta participação europeia atribuída a dois motivos: muitos se negaram a realizar a viagem de deslocamento até o Uruguai. Outra questão levantada é o cancelamento de participações por conta da crise econômica que atingia o mundo desde 1929 (SILVA, Mundo Educação, 2021, s/p). Ademais, a escolha do Uruguai como sede ocorreu pelos seguintes fatores: tratava-se de uma nação influente desportivamente falando, pois representava a maior potência do futebol à época, quando já era bicampeão olímpico; e financeiramente, a candidatura uruguaia comprometeu-se a pagar todas as despesas das nações participantes (ibidem).

A escolha do Uruguai para ser sede de uma Copa do Mundo se deu devido a uma partida futebolística, onde Jules Rimet percebeu que o futebol apresentado pela seleção uruguaia (na época conhecida como Equipe do Uruguai) encantou os telespectadores presentes na partida, o que deu voz e notoriedade a América do Sul. Outro fator que corrobora, foi o fato do Uruguai ter sido bicampeão olímpico (1924 e 1928) e por comemorar o centenário de sua independência (1930), o que acabou pesando na hora da seleção do país sede. Além disso, ressalta-se também que a criação e realização da primeira Copa do Mundo, foi espelhada nos Jogos Olímpicos de Paris ocorrido em 1924, o qual era possível notar o enrijecimento de seu caráter diplomático esportivo e a difusão de premissas de paz e confraternização.

Com a crescente popularização do futebol, a Copa do Mundo se transformou em um dos principais eventos responsável por parar o mundo inteiro durante um período de 30 dias, onde irá servir como um instrumento de mobilização para dar voz ás várias expressões, fará a junção de uma grande massa populacional acarretando naquilo se conhece por choque cultural, e por estabelecer o sentimento de nacionalismo, além de procurar entender a sua relação com a política, onde nota-se que um esporte como o futebol é classificado como uma forma de teatro, em outras palavras, significa dizer que é um teatro das nações, nações que desfilam a partir das quais se testam as suas potências e soberania.

Nesse cenário, a teoria neoliberal passa a compreender o mundo como um emaranhado pela disputa de poder através dos acontecimentos ocorridos entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) durante o período da Guerra Fria (1947), o que acabou permitindo uma releitura de suas premissas teóricas para o mundo contemporâneo. Portanto, diante dessa reformulação, nota-se que é possível obter-se a paz e que esta é passível de construção, e que a cooperação utilizada entre os Estados é o método necessário para se alcançar esta paz.

Joseph Nye explica que a cultura de uma nação é uma fonte mais efetiva de Soft Power quando seus valores são bastantes abrangentes e universais, pois possuem uma maior capacidade de atrair outras culturas […] (GUIMARÃES e AMAZARRAY, 2011, p.148). E, tratando-se de Soft Power, Nye (2004) explica que essa concepção de poder é utilizada sem o uso da força, isto é, usa-se mais a persuasão do que a própria força, incluindo valores ideológicos, atração cultural, lideranças baseadas no compromisso e não somente na imposição. Através do Soft Power, um país pode formar sentimentos ligados à atratividade cultural, práticas de políticas internas e externas, e ideias, conquistando credibilidade no cenário internacional. Sendo assim, o esporte é uma ponte de conexão que busca aplicar o Soft Power como um instrumento de política externa e internacional sem que haja o uso de uma força militar.

A Copa do Mundo, por exemplo, é justamente a ponte de conexão entre o esporte e o Soft Power, pois através de suas convergências é possível observar, de certo modo, uma diplomacia esportiva, isto é, a prática das relações internacionais entre os Estados que no geral abarca uma associação governamental onde gera uma empregabilidade as pessoas (atletas) que se ligam ao esporte, carregando consigo a missão de propagar uma mensagem diplomática. No caso dos Estados, esse evento esportivo é utilizado como forma de amenização das tensões em suas relações diplomáticas, abrindo assim, novos cenários para uma nova conjuntura política.

Portanto, observa-se que o esporte permite um prestígio enorme que garante o resgate de características como ordem, segurança, apaziguamento e principalmente, humanidade. E que a Copa do Mundo no sistema internacional, de fato é um instrumento político capaz de engajar diversas nações com o intuito de promover a cooperação, garantindo assim a manutenção das suas relações diplomáticas.

REFERÊNCIAS

DE JESUS, Diego Santos Vieira. Juntos Num Só Ritmo? Diplomacia e Esporte Internacional. Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil, 2014.

GUIMARÃES, Bruno Gomes; AMAZARRAY, Igor. O Exercício Do Soft Power: Futebol e o Caso Brasileiro. InterAção|143, 2011.

NYE, Joseph. Soft Power: The Means To Success In World Politics. Academia Edu, 2004.

FRANCO, Giullya. “História do Futebol“; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/historia-do-futebol.htm. Acesso em 05 de novembro de 2021.

PINTO, Tales. Jules Rimet e a primeira Copa do Mundo. História do Mundo. Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/jules-rimet-e-a-primeira-copa-do-mundo.htm. Acesso em 05 de novembro de 2021.

SILVA, Daniel Neves. Copa do Mundo. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/educacao-fisica/copa-mundo.htm. Acesso em 05 de novembro de 2021.