
Arthur Rubens Silva Miranda – Acadêmico do 8° Semestre de Relações Internacionais da Unama
Debater a respeito do esporte nas áreas das Relações Internacionais, é procurar compreender que este era um tema pouco explorado e que não possuía relevância alguma por não estar atrelado aos motes centrais que eram bases de estudos das correntes teóricas clássicas. Porém, com a ascensão dessa esfera e o surgimento de inúmeras modalidades esportivas, notou-se que este elemento passou a ser caracterizado por moldar as identidades, e, principalmente, por ser um agente universal responsável por manter a relação entre os Estados, e, estruturar a manutenção e zelo da paz.
Diante disso, o futebol passa a exercer um papel fundamental, pois movimenta um dos maiores mercados financeiros, proporciona eventos globais, utiliza a mais alta tecnologia em transmissões e equipamentos esportivos, transformando atletas de todas as origens em ídolos internacionais, além de ser o esporte que trilhou uma vasta jornada, sem nenhum tipo de glamour e com poucos holofotes, até chegar ao patamar que se conhece hoje (FRANCO, Brasil Escola, 2021, s/p). Nas Relações Internacionais, por exemplo, o esporte é moldado como um regozijo capaz de expressar uma luta nacional, onde os atletas possuem o importante papel de representar os seus Estados e suas respectivas Nações.
Nesse contexto, a Copa do Mundo é a maior atração futebolística que já existiu. Desenvolvida por Jules Rimet, a competição tinha como intuito apresentar um elo de comunicação entre os povos do hemisfério Norte (setentrional ou boreal) e do hemisfério Sul (meridional ou austral). Além do mais, a ideia de criar um torneio assim derivava da seguinte questão: a primeira delas era o fato de Rimet ter atuado em sua juventude contra as desigualdades sociais, o qual acabou sendo ligado a política cristã. A segunda questão ocorre em 1897, quando se nota o surgimento do RSC (Red Star Club), um conjunto poliesportivo destinado à participação de operários, buscando estimular nesse clube aberto um convívio igualitário (PINTO, História do Mundo, 2021, s/p). A terceira e última questão era a tentativa da implantação e uso do esporte para estabelecer laços diplomáticos entre os países que estavam em guerra.
Então, somente com o surgimento da FIFA em 1904, e a eleição de Jules Rimet como seu presidente em 1921, a Copa do Mundo veio à tona pela primeira vez. Sediada no Uruguai em 1930, a Copa do Mundo contou com uma modesta participação europeia atribuída a dois motivos: muitos se negaram a realizar a viagem de deslocamento até o Uruguai. Outra questão levantada é o cancelamento de participações por conta da crise econômica que atingia o mundo desde 1929 (SILVA, Mundo Educação, 2021, s/p). Ademais, a escolha do Uruguai como sede ocorreu pelos seguintes fatores: tratava-se de uma nação influente desportivamente falando, pois representava a maior potência do futebol à época, quando já era bicampeão olímpico; e financeiramente, a candidatura uruguaia comprometeu-se a pagar todas as despesas das nações participantes (ibidem).
A escolha do Uruguai para ser sede de uma Copa do Mundo se deu devido a uma partida futebolística, onde Jules Rimet percebeu que o futebol apresentado pela seleção uruguaia (na época conhecida como Equipe do Uruguai) encantou os telespectadores presentes na partida, o que deu voz e notoriedade a América do Sul. Outro fator que corrobora, foi o fato do Uruguai ter sido bicampeão olímpico (1924 e 1928) e por comemorar o centenário de sua independência (1930), o que acabou pesando na hora da seleção do país sede. Além disso, ressalta-se também que a criação e realização da primeira Copa do Mundo, foi espelhada nos Jogos Olímpicos de Paris ocorrido em 1924, o qual era possível notar o enrijecimento de seu caráter diplomático esportivo e a difusão de premissas de paz e confraternização.
Com a crescente popularização do futebol, a Copa do Mundo se transformou em um dos principais eventos responsável por parar o mundo inteiro durante um período de 30 dias, onde irá servir como um instrumento de mobilização para dar voz ás várias expressões, fará a junção de uma grande massa populacional acarretando naquilo se conhece por choque cultural, e por estabelecer o sentimento de nacionalismo, além de procurar entender a sua relação com a política, onde nota-se que um esporte como o futebol é classificado como uma forma de teatro, em outras palavras, significa dizer que é um teatro das nações, nações que desfilam a partir das quais se testam as suas potências e soberania.
Nesse cenário, a teoria neoliberal passa a compreender o mundo como um emaranhado pela disputa de poder através dos acontecimentos ocorridos entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) durante o período da Guerra Fria (1947), o que acabou permitindo uma releitura de suas premissas teóricas para o mundo contemporâneo. Portanto, diante dessa reformulação, nota-se que é possível obter-se a paz e que esta é passível de construção, e que a cooperação utilizada entre os Estados é o método necessário para se alcançar esta paz.
Joseph Nye explica que a cultura de uma nação é uma fonte mais efetiva de Soft Power quando seus valores são bastantes abrangentes e universais, pois possuem uma maior capacidade de atrair outras culturas […] (GUIMARÃES e AMAZARRAY, 2011, p.148). E, tratando-se de Soft Power, Nye (2004) explica que essa concepção de poder é utilizada sem o uso da força, isto é, usa-se mais a persuasão do que a própria força, incluindo valores ideológicos, atração cultural, lideranças baseadas no compromisso e não somente na imposição. Através do Soft Power, um país pode formar sentimentos ligados à atratividade cultural, práticas de políticas internas e externas, e ideias, conquistando credibilidade no cenário internacional. Sendo assim, o esporte é uma ponte de conexão que busca aplicar o Soft Power como um instrumento de política externa e internacional sem que haja o uso de uma força militar.
A Copa do Mundo, por exemplo, é justamente a ponte de conexão entre o esporte e o Soft Power, pois através de suas convergências é possível observar, de certo modo, uma diplomacia esportiva, isto é, a prática das relações internacionais entre os Estados que no geral abarca uma associação governamental onde gera uma empregabilidade as pessoas (atletas) que se ligam ao esporte, carregando consigo a missão de propagar uma mensagem diplomática. No caso dos Estados, esse evento esportivo é utilizado como forma de amenização das tensões em suas relações diplomáticas, abrindo assim, novos cenários para uma nova conjuntura política.
Portanto, observa-se que o esporte permite um prestígio enorme que garante o resgate de características como ordem, segurança, apaziguamento e principalmente, humanidade. E que a Copa do Mundo no sistema internacional, de fato é um instrumento político capaz de engajar diversas nações com o intuito de promover a cooperação, garantindo assim a manutenção das suas relações diplomáticas.
REFERÊNCIAS
DE JESUS, Diego Santos Vieira. Juntos Num Só Ritmo? Diplomacia e Esporte Internacional. Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil, 2014.
GUIMARÃES, Bruno Gomes; AMAZARRAY, Igor. O Exercício Do Soft Power: Futebol e o Caso Brasileiro. InterAção|143, 2011.
NYE, Joseph. Soft Power: The Means To Success In World Politics. Academia Edu, 2004.
FRANCO, Giullya. “História do Futebol“; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/historia-do-futebol.htm. Acesso em 05 de novembro de 2021.
PINTO, Tales. Jules Rimet e a primeira Copa do Mundo. História do Mundo. Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/jules-rimet-e-a-primeira-copa-do-mundo.htm. Acesso em 05 de novembro de 2021.
SILVA, Daniel Neves. Copa do Mundo. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/educacao-fisica/copa-mundo.htm. Acesso em 05 de novembro de 2021.