Maria Clara Madorra – Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais.

O Bitcoin, a mais famosa moeda digital, foi projetada pelo misterioso pseudônimo Satoshi Nakamoto, de identidade nunca revelada, sustentando a ideia das apostas e da opacidade de pessoas físicas e jurídicas operantes no meio Glocal. No site de sua Organização, o bitcoin.org, o ativo em rede usa a tecnologia ponto-a-ponto para operar sem a necessidade de uma autoridade central ou banco; as transações com bitcoins são gerenciadas coletivamente pelos usuários da rede (BITCOIN.ORG, 2021). Além disso, o Bitcoin é código aberto, seu design é público, ninguém é proprietário ou controla o Bitcoin e qualquer um pode participar.
Na era do capital improdutivo em que vivemos, ou seja, com muitos investimentos voltados para o capital especulativo e com uma redução drástica nos investimentos da economia real, Ladislau Dowbor (2017), argumenta sobre as taxas mais altas de retorno e os juros atraentes explicarem o novo jogo do mercado.
Outrossim, percebe-se que as aplicações financeiras geram muito mais ganhos ao ano do que os PIBs de Estados nacionais, deste modo somos levados à crer que o dinheiro deixa de ser físico. Os chamados investidores, agora, atuam em uma rede blockchain que armazena os dados e as informações que geram e são gerados pelo cumprimento dos trâmites online, se despindo de boletos, DOCs e TEDs, com custos super reduzidos no sistema acessado por chaves.
Sob esse viés, regido apenas pela lei da oferta e da demanda, a dinâmica que se mostra há cerca de 12 anos ultrapassa o mercado das ações com a procura até por centavos de Bitcoins, os chamados Satoshis. Por exemplo, o americano Erik Finman ganhou, aos dezoito anos, seu primeiro milhão por conta de uma alta certeira em meados de 2003, sem correr o risco de ser confiscado ou de se ter alguma necessidade de declaração como, por exemplo, no famoso imposto de renda brasileiro.
Em vista disso, com a alegação de “colocar em perigo grave os ativos das pessoas”, na China, o Bitcoin foi proibido, apesar de o país ter interesse na prática e criptomoeda própria, sendo o ponto oposto da reta que o separa de El Salvador, que o adota como moeda corrente pondo em xeque suas contas públicas num oceano de instabilidades, onde navegam hackers e onde não há amparo, por não haver policiamento. No Brasil, mais de 15 mil mercantes já aceitavam a moeda no ano de 2015, de acordo com pesquisa feita pela Snapcard, deixando o real para trás em termos de valorização (AGÊNCIA OPEN).
Visto que, ao ameaçar a soberania monetária dos agentes nacionais, os States (Estados) podem facilmente ser subjugados pelos Markets (Mercados), Steve Forbes, presidente e editor-chefe da Forbes Media e duas vezes candidato às primárias republicanas nos EUA, afirma que “para o bem ou para o mal, uma nova era econômica se aproxima” (BARRÍA, C. 2021).
Portanto, concerta-se um planeta com novos equilíbrios de poder e interessados, inicialmente impulsivos, até compreenderem a lógica neoliberal da concentração de renda, interferindo diretamente na falta de produção, principalmente de um Estado pobre, que poderia estar na condição de auxiliado.
Ademais, dentro deste aparato tecnológico de investimentos de alto risco, anônimos mantém seu poder de compra acima das inflações e nenhuma empresa ou governo ou legislação controla com suas políticas monetária e/ou fiscal, apesar do montante da moeda, no momento desta redação, ser de R$ 336.846,22 (COINBASE, 2021). Ou seja, mais que uma ferramenta especulativa, constitui uma nova subtração energética que necessita da operação de colossais computadores para fluir, de acordo com a influência dos administradores do cartel comercial.
Assim, para alcançar, de novo, o esquecido estado de bem estar social, é necessário, como pontua Dowbor (2017, p. 37):

“(…) a geração de uma nova governança, para permitir que os recursos da sociedade voltem a ser produtivos: que as nossas poupanças gerem crédito barato para favorecer o consumo das famílias e a expansão da demanda, que o crédito de médio e longo prazo favoreça o investimento empresarial, que os recursos alocados em dívidas públicas passem a servir o investimento em infraestrutura e políticas sociais. Os recursos têm de voltar a ser produtivos”.

REFERÊNCIAS

DOWBOR, Ladislau. A era do Capital Improdutivo: a Nova Arquitetura do Poder, sob Dominação Financeira, Sequestro da Democracia e Destruição do Planeta. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

CELLAN-JONES, R. 2017. Tudo o que você precisa saber sobre a ascensão e – aparente – queda do bitcoin em 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-42485924. Acesso em: 27, outubro, 2021.

BARRÍA, C. 2021. Bitcoin: quem é quem na ‘guerra’ das criptomoedas (e como isso pode te afetar). Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/06/4930285-bitcoin-quem-e-quem-na-guerra-das-criptomoedas–e-como-isso-pode-te-afetar.html. Acesso em: 27, outubro, 2021.

INFOMONEY. Bitcoin (BTC). Disponível em: https://www.infomoney.com.br/cotacoes/bitcoin-btc/. Acesso em: 27, outubro, 2021.

OPEN. O que é Bitcoin, como funciona e qual sua importância?. Disponível em: https://www.agenciaopen.com/mercado/bitcoin-investimento-importancia. Acesso em: 27, outubro, 2021.

BRAISCOMPANY. 2021. De forma simples: como começar a investir em bitcoin?. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/especial-publicitario/braiscompany/braiscompany/noticia/2021/04/07/de-forma-simples-como-comecar-a-investir-em-bitcoin.ghtml. Acesso em: 27, outubro, 2021.

BITCOIN.ORG. Bitcoin é uma rede de pagamento inovadora e um novo tipo de dinheiro. Disponível em: https://bitcoin.org/pt_BR/. Acesso em: 27, outubro, 2021.