Peter Wesley Mendes Barauna – Acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais da Unama

Desde 2016, com o lançamento do filme Invasão Zumbi, passando pelo vencedor de melhor filme do Oscar de 2020, Parasita, o cinema sul coreano vem ganhando destaque na mídia internacional. Filmes como Minari (2020) e o “dorama ou kdrama” — termo popularmente usado para classificar dramas vindos de regiões asiáticas — Round 6 (2021), mostram essas produções audiovisuais com identidade e marcas da cultura sul coreana. Nesse sentido, essa temática abre espaço para discussões sobre identidade e orientalismo nos dias de hoje.
O grande momento dos filmes sul coreanos parte da ascensão econômica e movimento cultural, Hallyu (Onda Coreana). Dentro dela, elementos como música (k-pop), dramas (k-dramas), filmes, moda, comidas, cosméticos, turismo e o estudo da língua são resultados dos investimentos em sua cultura, visando alavancar de forma positiva a imagem do pais para o resto do mundo (SILVA, 2020).
Em contrapartida, um tema que permeia esse contexto está relacionado aos “remakes”, que são refilmagens feitas de alguma obra, comumente por estúdios hollywoodianos em filmes de origem estrangeira. Como exemplo disso, filmes asiáticos como Oldboy, Il Mare e Hachiko Monogatari ganharam novas versões ocidentais como Oldboy: Dias de Vingança, A Casa do Lago e o emocionante Sempre ao Seu Lado acabam por se tornar novas narrativas das versões originais. Desta forma, suprimindo a identidade que eles carregavam, como também sustentando as marcas do orientalismo.
De acordo com o autor Stuart Hall (2006) sobre identidade, umas das concepções feitas por ele é a de sujeito pós-moderno; em que indivíduo não tem uma identidade fixa ou permanente, mas sim tendo ela formada e transformada continuamente em relação as formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 2006). Com isso, o autor fala que a identidade nacional através da cultura é um discurso que visa construir sentidos, além de influenciar e organizar tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos, trazendo o sentimento de identificação e pertencimento da nação da qual fazemos parte (HALL, 2006).
Convergente com a discussão sobre identidade, o autor Edward Said discute o Orientalismo através do livro “Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente” (2007), na leitura o autor fala que o orientalismo seria uma visão política da realidade que promovia a diferença entre ocidente e oriente, e assim a partir do momento que o ocidente começa a produzir “remakes” ou filmes ocidentais sobre o contexto asiático, há a construção de identidade e pensamentos a respeito desse povo (SAID, 2007).
Desse modo, o orientalismo se desenvolveu ao longo da história fazendo com que ele se aprofunde e endureça essa distinção. No mais, esse fenômeno se manifesta através do poder intelectual que explicava o comportamento dos orientais, e fornecia a estes uma mentalidade e atmosfera que permitia que os europeus lidassem com os orientais. Influenciando tanto os chamados orientais, quanto os chamados ocidentais europeus (SAID, 2007).
Deste modo, a partir do momento que esses “remakes” surgem, a identidade que foi construída na narrativa do filme original é apagada ou suprimida, onde as características passam pelo processo do orientalismo, atribuindo a identidade “oriental” de forma rasa ao personagem, lugar ou traço asiático presente no filme. Além disso, é importante ressaltar para a escala de alcance de produções hollywoodianas. De modo que essas refilmagens se tornam mais suscetíveis a se tornarem mainstream, ou seja, coisas que são aceitas e consumidas pela maioria das pessoas.
Portanto, vale ressaltar a importância da “preservação” e a visibilidade desses filmes, uma vez que eles carregam as identidades sul coreanas como pode ser visto em A Criada (2016) que se passa na Coreia dos anos 30 durante a ocupação japonesa, Parasita (2019) que mostra conflito de classes, em Minari (2020) onde uma família coreano-americana está em busca do sonho americano ou em Round 6 (2021) que traz na sua trama pautas como xenofobia e migração e entre outros temas. Como conclusão, as produções sul coreanas ajudam a conhecer e entender novas culturas, em contrapartida, ainda permanece empecilhos como o caso dos “remakes” e produções do “ocidente” sobre outras culturas “diferentes” causando problemas como estereótipos e em casos mais extremos, xenofobia e discursos de ódio.

REFERÊNCIAS:


HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 2006.


SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007


SILVA, Maria Cristina Brigo da. Soft Power e a Hallyu: Um olhar para o desenvolvimento da Coreia do Sul. Florianópolis, 2020 Trabalho de Conclusão de Curso (Relações Internacionais). Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/16784. Acesso em: 1 nov. 2021.