Maria Bethânia Galvão e Natalia Antunes (acadêmicas do 4º semestre de RI da UNAMA)

Keity Oliveira (acadêmica do 2º semestre de RI da UNAMA)

As práticas culturais do saber popular amazônida são importantes para a compreensão da dimensão da identidade cultural dos povos dessa região. Nesse sentido a construção dessas práticas constrói saberes tradicionais, os quais devem ser preservados e respeitados, tendo em vista que a produção dos saberes confere identidade local, formalizando convenções sociais, de acordo com Linke (2011) “[…] É através destas convenções que surge uma identidade cultural, que se expressa de diversas maneiras […] Uma das maneiras de manter viva a identidade é preservar os símbolos destas práticas culturais […]”. Assim, o carimbó possui papel fundamental na formação sociocultural local até os tempos atuais, assim como corrobora com a miscigenação étnica-cultural da região por meio da união de elementos diversos, tanto nacionais quanto internacionais, a partir dessa característica complexa, o carimbó é considerado como estética da cultura ancestral brasileira.

O carimbó é uma manifestação artística que compreende um ritmo musical e a tradicional dança popular, originado na região norte do Pará pela fusão de elementos africanos, indígenas e europeus (ibéricos), sendo uma representação da ampla diversidade cultural existente entre os povos da Amazônia (Gomes, 2011; Gabbay, 2012 apud Alves & Pontes, 2017). De acordo com Costa (2011), o carimbó foi produzido e representado, historicamente, por setores populares, folcloristas, comunidades ribeirinhas, rurais e interioranos e/ou suburbanos, mas principalmente por povos indígenas e africanos e que posteriormente iria se tornar um dos maiores representantes da identidade cultural, social e ambiental da região amazônica no Estado do Pará.

Uma das grandes representações desse ritmo e dança está no município de Marapanim-PA, onde anualmente ocorre o Festival do Carimbó, consistindo em danças com pares e diversos instrumentos para as produções musicais por meio de tambores de madeira oca, chamados de carimbós ou curimbós (que significa “pau que produz som”) e alguns instrumentos de sopro como a corda e a percussão.

As letras, geralmente, trazem como representação o cotidiano do homem do campo e de pescadores, aspectos culturais, religiosos e místicos, assim como a exaltação da Amazônia e da fauna e flora da região (Costa, 2010 apud Alves & Pontes, 2017). No dia 11 de setembro de 2014, o carimbó foi declarado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, mostrando a sua grande importância e representatividade com os povos amazônidas (Brasil, 2014).

Para Alves & Pontes (2017), as expressões artísticas do carimbó, além de serem grandes correspondentes acerca da identidade cultural da Amazônia, também podem ser consideradas como estratégias de ensino dentro de uma perspectiva da Educação Ambiental – EA, pois por meio das composições musicais, pode-se observar a ênfase em problemas ambientais, representação do modo de vida amazônico, valorização de elementos culturais e ideias que visam a preservação e conservação de recursos naturais. Nesse viés, a propagação da EA por meio das manifestações populares como o carimbó possuem como objetivos:

“[…] a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes nas pessoas como forma de entender a realidade e nela atuar de maneira consciente e responsável, tendo em vista a qualidade de vida individual, coletiva e planetária […] (LOUREIRO, 2002 apud ALVES & PONTES, 2017, p. 2).

Portanto, a EA é compreendida com concepções que tem a presença da relação afetiva entre homem-natureza, valorização e proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, críticas que compreendem uma visão interdisciplinar sobre as problemáticas socioambientais, além da formação de indivíduos ecológicos que buscam por soluções acerca de adversidades ambientais por meio de legislações que integram o desenvolvimento econômico e sustentável e que podem ser construídas por meio das manifestações populares como o carimbó (Alves & Pontes, 2017).

Da mesma maneira, a manifestação cultural do carimbó é um elemento identitário da região, sendo um potencial de atração da região amazônica de investimentos científicos e econômicos – ecoturismo, desempenhando ação de soft power sobre a região, tornando-a mais atrativa e influente no âmbito internacional. Tal conceito está assentado fundamentalmente no potencial atrativo da universalidade da cultura (LOBO-FERNANDES, 2005), de forma a direcionar a Amazônia e o Brasil como protagonistas estratégicos nas temáticas de preservação cultural e ancestralidade.

Levando em consideração o debate construído ao longo do texto, pode-se afirmar que o carimbó é de suma importância, não só porque integra a identidade cultural amazônida, mas também porque tem um caráter educativo acerca da preservação e proteção da Amazônia, uma vez que essa manifestação popular reafirma, nas suas composições e suas danças, a vivência do caboclo ribeirinho e toda a grandiosidade da fauna e flora amazônica.

Diante o tema exposto, o estudo feito por ALVES & PONTES (2017) dialoga com a temática abordada, onde analisa as letras musicais do carimbó de Marapanim-PA relacionadas à cultura, meio ambiente e Educação Ambiental.

Por fim, é importante destacar o trabalho feito pelo BATUQUES – Grupo de Pesquisa em Patrimônio Cultural e Representações do Lugar do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura da UNAMA (PPGCLC), que tem como objetivo a compreensão das manifestações culturais da Amazônia praticadas por diferentes atores e grupos sociais a partir de um processo de interação entre saberes e fazeres no contexto de re (produção) e r (existência) de um espaço vivido. O grupo de pesquisa também possui um programa na Rádio Unama FM -105.5 aos sábados (16hrs) e domingos (10hrs).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Raynon Joel Monteiro; PONTES, Altem Nascimento. A cultura, o meio ambiente e a Educação Ambiental nas letras musicais do carimbó de Marapanim (PA). Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 12, n. 1, p. 155-164, 2017. Disponível em: < https://periodicos.unifesp.br/index.php/revbea/article/view/2387 > Acesso em: 24 de outubro de 2021.

BRASIL. Ata da 7ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, de 11 de setembro de 2014. Brasília, 2014. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/uploads/atas/20140276_Reuniao_Ordinaria__11_de_s > Acesso em: 24 de outubro de 2021.

COSTA, Tony Leão da. Música, literatura e identidade amazônica no século XX: o caso do carimbó no Pará. ArtCultura, v. 12, n. 20, 2010. Disponível em: < http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/11306 > Acesso em: 24 de outubro de 2021.

COSTA, Tony Leão da. Carimbó e Brega: Indústria cultural e tradição na música popular do norte do Brasil. Revista Estudos Amazônicos, Belém, v. 6, n. 1, p. 149- 177, 2011. Acesso em: 24 de outubro de 2021.

GABAY, M. A conquista do Amazonas: carimbó e jogo identitário no Pará. Anais IV Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular, São Paulo, p. 1-14, 2012.

GOMES, G.W.B. Festa híbrida: festividade de carimbó de São Benedito como processo comunicacional na Amazônia. Razón y palabra, n. 77, p. 1-13, 2011. Acesso em: 24 de outubro de 2021.

LOBO-FERNANDES, Luís. Soft power: o jogo de atracção cultural e as vantagens da cooperação. Revista Relações Internacionais: 06, junho, 2005. Disponível em: < http://www.ipri.pt/images/publicacoes/revista_ri/pdf/r6/RI6_rec01_LFernandes.pdf > Acesso em: 26 de outubro de 2021.

LOUREIRO, C.F.B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da Cidadania ecológica e planetária. In: LOUREIRO, C.F.B.; LAYRARGUES, P.P.; CASTRO, R.S. (Orgs.) Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. Acesso em: 24 de outubro de 2021.