Peter Wesley e Leônidas Barbosa – Acadêmicos do 4º semestre de Relações Internacionais.

A relação entre a Coréia do Norte e Coréia do Sul é bem complexa, com algumas heranças da Guerra Fria como a separação dos Estados da península coreana, reivindicações fronteiriças, entre outras coisas mais antigas que advém das guerras e ocupações territoriais no final do século XIX e inícios do século XX. Esse conjunto fez essa “acalorada” relação se estender até os dias atuais. Nesse sentido, a relação entre a Coréia do Norte e Coréia do Sul carrega questões como conflitos políticos e ideológicos vindas da Guerra Fria, a Guerra da Coréia, e até a nuclearização.
A divisão da Coréia decorre dos eventos anteriores à Guerra da Coréia, passando pela guerra sino-japonesa em 1894-95, pela guerra russo-japonesa em 1904-05, até a Guerra da Coréia de 1950-53. Nesse sentido, com a tomada do Japão sobre o território Coreano, a Coreia se torna colônia do Japão, no entanto, essa dinâmica muda após a declaração da União Soviética de guerra contra o Japão. Por conta disso, a divisão do Paralelo 38 — demarcação que divide a Coreia em dois sistemas políticos opostos — surge por conta da decisão dos Estados Unidos, receoso da tomada da União Soviética sobre toda a península coreana. (OLIVEIRA, 2009).
O Paralelo 38 surge no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial, em que os lançamentos das bombas de Hiroshima e Nagasaki e a subsequente rendição do Japão, levaram o lado soviético a declarar guerra oficialmente contra o Japão e levando ao envio de tropas para a Coreia para facilitar a rendição das tropas japonesas presentes na região, fazendo com que os soviéticos trabalhassem em conjunto com os aliados, com o objetivo de instaurar a independência que a Coreia havia perdido. Nisso, o Paralelo 38 surge como um acordo “casual” entre Estados Unidos e União Soviética que dividiu a península coreana em zonas norte e sul cortando o país ao meio (SANTOS, et al, 2016). Por conta desses acontecimentos, a Coreia acaba se tornando espectadora do que ocorria no seu território tendo todas as tentativas de criar suas próprias organizações impedidas seja pelo lado soviético, que buscava tornar favoráveis as movimentações coreanas para o lado da União Soviética, e pelo lado dos EUA, que supria qualquer movimentação coreana alegando ser de caráter soviético.
Por fim, a Guerra da Coreia (1950) se torna o ato final dessas dinâmicas anteriores, de um lado a Coreia do Norte apoiada pela URSS, e posteriormente a China com o envio de soldados, inicia os primeiros ataques em direção ao Sul com o objetivo de unificar a península; de outro, a Coreia do Sul com apoio dos Estados Unidos e aval da ONU, com assistência militar dos outros Estados Membros. Com isso, a aproximação das tropas da ONU na fronteira com a China, faz o envolvimento chinês passar de ideológico para questão de segurança nacional (FELIPPE, 2016).
Após várias perdas, a guerra se “encerra” com o armistício negociado e assinado em 1953 pela Coreia do Norte e Estados Unidos, mas recusado por parte da Coreia do Sul. Desse modo, o resultado da guerra foi a perda de 3 milhões de coreanos, 5 milhões de refugiados, famílias separadas, 55 mil americanos mortos, 100 mil chineses mortos e grandes danos no que se refere à infraestrutura e capacidade produtivas coreanas (OLIVEIRA, 2009).
Muitas cicatrizes foram deixadas pelo conflito entre as duas Coreias, sejam elas culturais, econômicas ou, principalmente, territoriais. O cessar-fogo estabelecido em 1953 deixou zonas desmilitarizadas, com presença de fortificações, minas, cercas de arame farpado, armadilhas para tanques e soldados a postos (OGLOBO, 2018). Características como estas citadas anteriormente, mostram como o ser humano é capaz de moldar o ambiente em que ele se situa, inclusive a natureza. A escola de geopolítica integralizada comenta que a relação homem e natureza é determinada até onde a tecnologia deste mesmo permite (MAFRA,2006), ou seja, o homem pode sim alterar e moldar o meio em que este vive, sendo através de relações entre si (como a Guerra da Coreia, criando fronteiras que cortam e separam biomas, paisagens e entre outros), mas também admite que a natureza pode ser um fator que impeça meios de locomoção, sendo este apenas superado através da tecnologia (Rios que impossibilitam a travessia, invasão do espaço aéreo).
Complementando, a relação atual entre os dois países, Coreia do Norte e Coreia do Sul, ainda carrega marcas deixadas pelo seu passado e mesmo com isso, há o interesse das duas partes em recuperar as relações intercoreanas em uma relação estável e pacífica, no entanto, as negociações resultaram em nada. Outro ponto a ser levado em consideração é a influência que o Estados Unidos exerce sobre a Coreia do Sul, o que causa receio por parte da Coreia do Norte, assim como a grande posse de dispositivos bélicos por ambos os lados, principalmente o programa nuclear por parte da Coreia do Norte e a busca da Coreia do Sul em reforçar seu setor bélico com a finalidade de se desvincular da influência estadunidense (CNN, 2021).

REFERÊNCIAS

COHEN, Zachary. Coreia do Norte amplia fábrica de urânio para armas, indicam imagens de satélite. CNN Brasil. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/coreia-do-norte-amplia-fabrica-de-uranio-para-armas-indicam-imagens-de-satelite/. Acesso em: 15 out. 2021.

CONHEÇA Panmunjom, a cidade que volta a reunir as duas Coreias. O Globo. 2018. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/conheca-panmunjom-cidade-que-volta-reunir-as-duas-coreias-22268728. Acesso em: 16 out. 2021.

COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geopolítica: discursos sobre o território e o poder. São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1992. 374 p.

FELIPPE, Fabricia. Repensando A Guerra da Coreia: O Papel das Grandes Potências Na Criação e Perpetuação do Conflito na Península Coreana. In: III Encontro Regional Sudeste da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. 2019. Disponível em: https://www.erabedsudeste2019.abedef.org/resources/anais/12/erabedsudeste2019/1570925331_ARQUIVO_e26b9c6d35d7c83bc8feecc3a75f55af.pdf. Acesso em: 15 out. 2021.

LENDON, Brad et al. Tanto a Coreia do Norte quanto a Coreia do Sul disparam mísseis balísticos à medida que as tensões aumentam na península. CNN. 2021. Disponível em: https://edition.cnn.com/2021/09/15/asia/north-korea-missiles-intl-hnk/index.html. Acesso em: 16 out. 2021.

MAFRA, Roberto Machado De Oliveira. Geopolítica: Introdução ao Estudo. 1 ed. São Paulo: Sicurezza, 2006. 226 p.

OLIVEIRA, Henrique Altemani de. “A PENÍNSULA COREANA: PROPOSIÇÕES PARA MUDANÇAS. ” (2009).

SANTOS, Mieny Cássia Nakamura dos; PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos. A GUERRA DA COREIA (1950-1953): um estudo sob a ótica do legado teórico de Edward Hallet Carr. Revista de Iniciação Científica, São Paulo, 06 outubros 2016. Disponível em: https://doi.org/10.36311/1415-8612.2014.v14n1.6348. Acesso em: 15 out. 2021.

YANG, Heekyong. Coreia do Norte diz que ainda há esperança para paz e cúpula com Coreia do Sul. CNN Brasil. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/coreia-do-norte-diz-que-ainda-ha-esperanca-para-paz-e-cupula-com-coreia-do-sul/. Acesso em: 15 out. 2021.