Jade Germano – Acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

As recentes eleições parlamentares na Noruega, dominadas pelo destino do setor petrolífero, tiveram como resultado a chegada ao poder da oposição de esquerda liderada pelo trabalhista Jonas Gahr Store, sendo reflexo do desejo da população por uma mudança na gestão política e econômica, até então, em vigor no país. No Estado nórdico, o setor de petróleo é muito significativo, representando mais de 40% das exportações e 14% do PIB (Produto Interno Bruto).

No entanto, embora a Noruega seja um dos países mais igualitários do mundo e com baixo índice de indivíduos vivendo em condições miseráveis, assuntos como mudanças climáticas e energética atreladas ao aumento da desigualdade social foram decisivos nos resultados eleitorais. Store, líder trabalhista e futuro premiê, venceu as eleições com propostas sobre enfrentar a crescente desigualdade social sob a taxação dos mais ricos e afirmou “a Noruega enviou uma mensagem muito clara: o povo norueguês deseja uma sociedade mais equitativa” (PAREDES, 2021).

Nesse sentido, cabe analisar a situação da Noruega à luz da teoria da escola ecopolítica das Relações Internacionais. Em suma, os debates ambientais ganharam maior relevância a partir de 1960, principalmente após a desmistificação de “abundância” do sistema capitalista e alavancaram as conferências ambientais da ONU (Organização das Nações Unidas). Desta maneira, é possível associar o chamado ecologismo autoritário ou Leviatã verde à teoria realista das Relações Internacionais, já que “O Leviatã”, obra de Hobbes, é considerado base no que tange à centralização do poder.

Uma vez que essa corrente defende que as ameaças das crises ambientais se resolveriam através de uma autoridade governamental pautada em estudos científicos em prol de assegurar a preservação ambiental, pode-se relacionar à tese de Garret Hardin (1968) acerca da tragédia dos comuns, a qual mostra a urgência de medidas severas para conter a degradação do meio ambiente (SANT’ANNA; MOREIRA, 2016).

Sendo assim, de acordo com Martinez- Alier (2007), a escola ecopolítica surge como um novo campo dedicado ao estudo dos conflitos a partir do uso de recursos ambientais, os quais tendem a se intensificar cada vez mais, pois quanto maior a interferência humana na natureza, mais acirrados serão os conflitos socioambientais.

Ademais, vale salientar que a sociedade é pensada de forma inseparável do meio ambiente. Para Paul Wapner (2008), as temáticas ambientais fazem parte dos mais perigosos desafios da humanidade nos dias atuais, pois eles interferem significativamente na qualidade de vida, principalmente dos mais pobres. (SANT’ANNA; MOREIRA, 2016).

Portanto, a percepção da população norueguesa acerca dos inúmeros malefícios e desafios causados pela exploração demasiada de petróleo, assim como sua comercialização, pode se respaldar na teoria da escola ecopolítica. Apesar do país nórdico ainda ser referência em qualidade de vida, a dependência da economia no petróleo já começou a aumentar a desigualdade social entre as classes, gerar problemas sociopolíticos e causar incertezas quanto ao futuro promissor do país.

Desse modo, a população escolheu mudar seus representantes parlamentares, elegendo, majoritariamente, candidatos de esquerda com discursos sobre impostos de acordo com a renda e, principalmente, sobre a transição de energia não renovável para energia limpa e substituição gradual das exportações de petróleo. Outrossim, fica evidente que os cidadãos, já cientes dos conflitos sociais que a exploração da natureza traz, e os futuros danos para a nação, como mostra a escola ecopolítica, escolheram a mudança governamental que atendam às suas necessidades de diminuição da desigualdade social e aumento da qualidade de vida.

REFERÊNCIAS:

CASTRO, Thales. Teoria das Relações Internacionais. Brasília: FUNAG, 2012. MARINHO, Henrique Jorge Medeiros.

HARDING, Garrett. The tragedy of the commons. Sciencev. 162, n. 3859, p. 1243-8, 1968.

MARTINEZ-ALIER, Joan. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. São Paulo: Contexto, 2007.

PAREDES, Norberto. O que significa a volta da esquerda ao poder nos 5 países nórdicos após 60 anos. BBC News, 23 de setembro de 2021. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58662615 > Acesso em: 13 de outubro de 2021.

SANT’ANNA, F. M.; MOREIRA, H. M. Ecologia política e relações internacionais: os desafios da Ecopolítica Crítica Internacional. Revista Brasileira de Ciência Política[S. l.], n. 20, p. 205–248, 2017. Disponível em < https://periodicos.unb.br/index.php/rbcp/article/view/2392 > Acesso em: 13 out. 2021.