Camila Neris – Acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais da Unama
O ativismo digital utiliza as mídias sociais para articular-se em torno de um objetivo, destacando-se como uma das ferramentas mais utilizadas na atualidade, uma vez que se desprende do monopólio exercido pelas grandes redes e faz valer a voz de muitos grupos e movimentos sistematicamente silenciados. Trata-se da reinvenção do próprio ativismo, que diante de novas demandas e dinâmicas dentro da sociedade contemporânea procura supri-las utilizando a internet como plataforma, que funciona essencialmente como um ponto de encontro de diferentes comunidades.
O ciberativismo transpõe a atuação política tradicional com partidos e coletivos, justamente por seu caráter livre e democrático, permitindo que todos os sujeitos tenham oportunidade de defender sua causa através da diversidade de ações e propósitos. “[…] Podem ocorrer sob a forma de: denúncia, protesto, explicitação de conflitos, oposições organizadas; cooperação, parcerias para resolução de problemas sociais, ações de solidariedade” (Scherer-Warren,1999, p.14). Para além, tem a possibilidade de alcançar grupos heterogêneos, resolvendo um dilema presente em muitas lutas sociais: a falta de socialização de pautas que tendiam a ficar restritas ao mesmo círculo social.
Em um mundo tão globalizado como este, onde o fluxo de pessoas, informações e mercadorias é grande e cada vez mais instantâneo, questões sociais e políticas adquirem também proporções globais. Logo, a necessidade de formular atos mais práticos e de alcance mundial se torna maior. Nesse sentido, a sociedade civil global ganha ainda mais protagonismo, articulando-se e reagindo às desigualdades do mundo, promovendo a universalização dos direitos humanos e lutando pelo funcionamento da democracia.
Kaldor (2003), aponta que o exponencial crescimento de movimentos sociais no século passado somado à crescente comunicação de nível global, vão originar a denominada sociedade civil global, que vai repensar a organização espaço-temporal civil para além do Estado como um “espaço de resistência, de movimentação social, de lutas por mudanças” ( LAGE, 2012).
Segundo Maria Gohn, (2004) no Brasil, o primeiro ato que expressou a força do ativismo digital ocorreu em junho de 2013, quando o MPL – Movimento Passe Livre, organizou uma série de greves em 12 capitais, que reuniu mais de um milhão de pessoas, inconformadas não só com o aumento da passagem de ônibus, mas com a conjuntura política da época.
De acordo com Moraes (2001), a internet oferece novas ferramentas de intervenção, como as campanhas virtuais, o correio eletrônico, grupos de discussão, fóruns, salas de conversação, boletins, manifestos online, murais, anéis de sites e árvores de link.
Dentro da perspectiva das comunidades e movimentos marginalizados, como o Queer, o feminista e o negro, mais que trazer atenção para suas causas, o ativismo digital tem sido também um meio de resistência, ao dar visibilidade às violências diárias que estes grupos sofrem. Portanto, há de se observar que as mídias ocupam hoje um papel enorme dentro das dinâmicas sociais, de modo que surge como ator emergente das Relações Internacionais (OLIVEIRA, 2012).
Frente aos fatos expostos, conclui-se que as mídias atuam mais que nunca exercendo o soft power, – termo proposto por Joseph Nye (2002), para se referir à um “poder brando”, isto é, o poder exercido por atores não estatais, que se dá por meio da propagação de ideologias, conhecimentos, ou estilo de vida – no exercício do poder político contemporâneo, mas que não está restrito somente aos veículos midiáticos tradicionais, de maneira que permite a expansão da atuação dos ativistas, que têm hoje, voz ativa na reivindicação de suas causas sem necessidade de intermédio de grandes organizações.
REFERÊNCIAS:
SCHERER-WARREN, Ilse. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. Hucitec, 1999.
DE MORAES, Denis. O ativismo digital. Biblioteca online de ciências da comunicação, 2001.
OLIVEIRA, Rafael Santos de et al. A mídia como ator emergente das relações internacionais: seu protagonismo no uso do soft power frente aos desafios das mudanças climáticas. 2012.
DA GLÓRIA GOHN, Maria. Sociedade civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs. Nomadas (col), n. 20, p. 140-150, 2004
LAGE, Victor Coutinho. ” Sociedade civil global”: agentes não estatais e espaço de interação na sociedade política. Contexto Internacional, v. 34, p. 151-188, 2012.
KALDOR, Mary. The idea of global civil society. International affairs, v. 79, n. 3, p. 583-593, 2003.
NYE JR, Joseph S. O paradoxo do poder americano. Unesp, 2002.