
Escrito por Lana Jennifer Araujo Borges, 2 semestre
O mundo tem passado por uma série de mudanças políticas e econômicas nas últimas décadas. Os atentados de 11 de setembro foram um marco internacional nos ambitos militar e economico, tendo como principais fatos o inicio da guerra ao terror, e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001, o que provocou questionamentos e reflexões acerca da hegemonia dos Estados Unidos no mundo e o futuro do cenário político global (VADELL, 2011).
No cenário político e militar, segundo o que foi colocado por Tucídides em sua obra “História da Guerra do Peloponeso”, faz-se extremamente necessária a formação de alianças entre os estados, pois isso é o que irá garantir uma frente mais forte na defesa contra outras organizações que possam ameaçar a segurança dos países aliados, além de aumentar sua influência política e econômica com os mesmos. Nesse sentido, é de extrema importância fazer pactos militares para se defender nas disputas, sendo capaz de impor seus interesses e demonstrar poder nesses cenários conflituosos.
A aliança recentemente firmada entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos (AUKUS) tem gerado muitas discussões internacionais. O acordo prevê, dentre outras coisas, a obtenção das tecnologias Americanas e Britânicas de submarinos de propulsão nuclear por parte da Austrália (BBC NEWS, 2021). Essa nova aquisição representa grande avanço do ponto de vista da segurança do país, visto que esta é uma nação com grandes extensões de mar territorial, com acesso aos oceanos Índico e Pacifico, o que pode representar uma fraqueza militar, caso o estado não disponha dos recursos necessários para protegê-lo, ou grande vantagem quando de posse das tecnologias bélicas Norte- Americanas (FARINAZZO, 2021). Portanto esse acordo tem grande relevância não somente para a Austrália, mas também para todos os países envolvidos no pacto para a contenção do avanço Chinês na Ásia.
A tecnologia em questão diz respeito a submarinos de propulsão nuclear, os quais convertem água em vapor de alta pressão, que giram turbinas para impulsionar os submarinos, podendo os mesmos serem de dois tipos: Mísseis de ataque e Mísseis balísticos, ou boomers. Os últimos são submarinos capazes de ficar submersos por longos períodos, de prontidão para o contra-ataque. Esse submarino é quase indetectável e tem capacidade de transportar até 20 mísseis Trident, que são armas nucleares de 8 Ogivas, com alcance de 7400 quilômetros. Essas bombas têm rendimento de explosão entre 100 e 475 quilotons, o que representa uma média de 20 vezes as bombas de Hiroshima (CNN BRASIL, 2021).
Porém o tipo de submarino adquirido pela Austrália é o de Mísseis de ataque, os quais são projetados principalmente para busca e identificação de embarcações e submarinos inimigos, mais utilizados para missões de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento, além de carregar dezenas de mísseis de cruzeiro Tomahawk. Ambas as tecnologias dos EUA e UK, apesar de pequenas diferenças, representam grande vantagem em um campo de batalha. Na frota Americana podemos citar como o exemplo seus submarinos da classe Virginia, os quais têm dimensões de 8.000 toneladas e 377 pés (115 metros), que podem navegar a mais de 46 km/h e permanecer submersos indefinidamente. Já na tecnologia Britânica, os submarinos da classe Astute são capazes de alcançar mais de 56 km/h. Os mísseis Tomahawk tem um alcance acima de 1600 quilômetros, e podem ser direcionados a um novo alvo durante o voo, além da possibilidade de enviar imagens do campo de batalha para seu submarino-mãe (CNN BRASIL, 2021).
Do outro lado da disputa em questão, fazendo o equilíbrio de poder, a China possui seu arsenal de submarinos e está continuamente buscando o aprimoramento de suas tecnologias, com intuito de se equiparar à potência Norte-Americana. Tendo baseado seus primeiros modelos em antigos submarinos da União Soviética, a China aperfeiçoou suas máquinas até alcançar sua melhor tecnologia no mercado atual, com os submarinos da classe Shang (tipo 093B), os quais formam uma frota constituída de 6 boomers, com 110m de comprimento, capazes de andar a 55 km/h quando submersos, equipados com mísseis balísticos YJ-18 anti-navio, que têm um alcance de 400 quilômetros e 3 Ogivas nucleares (NTI, 2021).
Os submarinos são instrumentos bélicos extremamente vantajosos em uma disputa, pois são silenciosos e invisíveis, o que representa uma vantagem em relação a outras máquinas, pois “ao contrário dos porta-aviões, destróieres, e outros grandes navios de superfície, os submarinos passam a maior parte do seu tempo fora de vista, o que os torna muito mais difíceis de localizar e analisar” (FUNAIOLE, BERMUDEZ JR., HART, 2021). Ao mesmo tempo, são capazes de identificar alvos, lançar mísseis, e até mesmo bombas nucleares altamente destrutivas, representando grande símbolo do poderio militar de ambos os lados. Ainda que as forças chinesas não sejam exatamente do mesmo nível que a frente AUKUS, elas representam grande ameaça e continuam investindo na produção de novas tecnologias para se tornarem cada vez mais fortes.
Mearsheimer afirmou em 2008 que “A China ainda está distante do ponto em que terá poder econômico suficiente para investir na hegemonia regional. Sendo assim, não é tarde demais para que os Estados Unidos […] façam o possível para retardar a ascensão da China”. Com os recentes acontecimentos, percebe-se que é chegado o momento desse país utilizar seu poderio para buscar a dominação da Ásia. Para conter esse avanço, os Estados Unidos precisam montar uma frente de contenção, e tendo a Austrália como representante de seus interesses em uma posição altamente estratégica na região do indo-pacífico, munida de seus recursos tecnológicos de submarinos, os EUA estão formando uma base militar extremamente eficaz nessa disputa.
Como é colocado por Tucídides, é de grande vantagem e importância para os estados exercerem influência em níveis regionais, e no contexto globalizado atual, é estratégico que se exerça certo domínio também em nível mundial. Nesse sentido, as armas nucleares e submarinos com as capacidades de destruição que foram antes mencionadas, junto das alianças que estão sendo formadas, são a verdadeira representação de hegemonia e poder do ponto de vista da segurança internacional, fundamentais para a consolidação do domínio mundial pretendido.
Referencias:
- CNN BRASIL – Entenda o que são submarinos de propulsão nuclear e quais as ambições da Austrália > Disponivel em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/entenda-o-que-sao-submarinos-de-propulsao-nuclear-e-quais-as-ambicoes-da-australia/
- Nuclear Threat Initiative – China Submarine Capabilities > Disponivel em: https://www.nti.org/analysis/articles/china-submarine-capabilities/
- Center for Strategic and International Studies – A Glimpse of Chinese Ballistic Missile Submarines > Disponivel em: https://www.csis.org/analysis/glimpse-chinese-ballistic-missile-submarines
- VADELL, Javier, Rumo ao século chinês? A relação Estados Unidos-China pós 11/09, 2011 > Disponivel em: https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/41/25
- FARINAZZO, CMT Robinson, Arte da Guerra, O alvo é a China: submarinos nucleares para a Marinha da Australia > Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=0EDF4ofwSEI
- BBC NEWS – Aukus: Australia’s big gamble on the US over China > Disponivel em: https://www.bbc.com/news/world-australia-58635393
- MEARSHEIMER, John J. (2001), The tragedy of Great Power politics. New York: Norton.
- TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Prefácio de JAGUARIBE, Hélio. Tradução do grego de Mário da Gama Kury. – 4º. edição – Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001.