Matheus Silveira – Internacionalista graduado pela Unama e Mestrando em Relações Internacionais / PPGRI-UNILA
O movimento setembro amarelo, em prol da valorização da saúde mental, surgiu em 1994 quando, nos Estados Unidos, após o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometer suicídio, a veiculação em torno das causas para tal ato levaram à uma discussão nacional acerca do cuidado com a saúde mental das pessoas. Ao pensarmos em um mundo cada vez mais globalizado, no qual a velocidade não apenas das informações, mas na construção de ações, identidades e comportamentos nunca esteve antes tão acelerada, refletir acerca da necessidade do movimento nos remete a pensar como a saúde mental em sua expressão global é cada vez mais necessária.
Podemos identificar o movimento do setembro amarelo enquanto um exemplo de ação global em saúde mental, considerando sua capacidade transnacional de mobilização em respeito a um tema específico (prevenção do suicídio). Cada vez mais encontramos ações globais em saúde mental que nos mostram o quão interconectado às problemáticas sociais a saúde é. Ao analisarmos as diversas estatísticas relacionadas ao suicídio, entendido enquanto ato deliberado, vemos que uma em cada 100 mortes ocorrem pelo ato, assim como a prática é a 3ª causa de morte em jovens brasileiros de 15 a 29 anos (OMS,2020), embora não discuta as causas que levam ao ato, é importante pensarmos como a violência, o racismo, LGBTQIA+fobia, machismo, xenofobia, dentre outros, são variáveis consideráveis a serem inseridas em análises mais profundas.
A história global nos aponta que a saúde, como tema, era fortemente marginalizada nas discussões de política externa até o início do século XX, mas que, a partir dos impactos da globalização na saúde internacional, discussões acerca de condicionantes e obstáculos foram cada vez mais realizadas. Como apontam Vikram Patel e Martin Price (2010), quando falamos do movimento por uma saúde mental global, estamos nos referindo a um campo de estudo, pesquisa e prática que coloca uma prioridade na melhoria da saúde mental e atinge equidade em saúde mental para todos os povos do mundo.
Dessa forma, ao pensarmos no setembro amarelo enquanto um marco temporal para a construção de ações relativas à prevenção ao suicídio, é necessário para uma maior abrangência e sensibilidade das ações. Chamo a atenção para a necessidade de pensarmos a despatologização do sofrimento mental, analisando não apenas sobre sua vertente biológica, mas considerando também variáveis culturais, sociais, econômicas e políticas. Podemos dar um passo atrás e ir além, quando seguindo essa lógica, problematizamos também qual paradigma o conceito de saúde mental é compreendido.
Isso pois, a noção biomédica, de ausência de enfermidades mentais, ainda existe e é bastante reforçada, mas deve ser superada, por uma compreensão mais holística, complexa, como pontua Coutinho et al (2020): “Fatores culturais e contextuais influenciam profundamente todos os aspectos da experiência da doença mental, desde sua etiologia até sua expressão, ao tipo de ajuda procurada e aos resultados alcançados” (p. 3). Nesse sentido, estaremos alinhando ciência com prática para a construção de sociedades mais voltadas para o bem-estar das pessoas.
Referências:
COUTINHO, Maria Fernanda Cruz et al. Articulations between the Global Mental Health project and the cultural aspects of care in the Psychosocial Care and Primary Health Care Network in Brazil. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. 2020, v. 30, n. 02 https://doi.org/10.1590/S0103-73312020300219.
PATEL,V; Prince,M J. Global Mental Health: Principles and Practice. Oxford: Oxford University Press, 2010.
OMS alerta: suicídio é a 3ª causa de morte de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos. Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/09/10/oms-alerta-suicidio-e-a-3a-causa-de-morte-de-jovens-brasileiros-entre-15-e-29-anos/.