Dayane Larrat – Acadêmica do 4º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Historicamente, a sociedade foi construída a partir de pensamento patriarcal, ou seja, centrada na figura masculina. Assim, a figura feminina é tida como inferior e passa a ser marginalizada, oprimida e subjugada a cuidar do lar e das vontades masculinas, e nunca poderia ocupar posições de liderança e poder. Sob esse viés, essa visão distópica ainda se perpetua na sociedade vigente, uma vez que as construções sociais e políticas ainda são hierarquizadas e relacionadas a distinção dos papéis atribuídos aos gêneros.

Em face disso, as autoras V. Spike Peterson e Anne S. Runyan trazem o conceito de “poder de gênero”, no qual seria um sistema de valores e símbolos, criados para explicar a realidade e servir de classificação dos indivíduos e para guiar nossas ações e percepções (XAVIER, 2013), o que implica diretamente na construção política dos gêneros (PETERSON E RUNYAN, 1997, p. 26), uma vez que há uma supervalorização de tudo que é ligado ao homem e desprezo a tudo que é associado a mulher e a feminilidade, e isso gera uma organização política e social hierarquizada, onde privilegia os homens, o que fica bem explícito na diferença do acesso aos recursos, autoridade, poder e ocupação nos cargos de liderança política entre mulheres e homens.

Diante disso, essa lógica de poder pressupõe a figura masculina dominante e dotada de poder por “natureza” e por “comportamento”. Portanto, essa lógica exclui as mulheres de participação política exceto se as mesmas adotarem uma “postura masculina” de liderança (XAVIER, 2013), e esse fato de ter que adotar uma postura masculinizada, liga-se diretamente com o conceito de masculinidade hegemônica que é “um tipo ideal de masculinidade, repleto das características tidas como masculinas, mas às quais poucos homens de fato se conformam” (TICKNER, 2001, p. 15).  Para Tickner, essa identificação se fundamenta na presença predominantemente de homens no meio político e internacional.

A presença das mulheres nas lideranças políticas vem aumentando ao longo dos anos, no entanto, ainda é um processo lento. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais de 2019 do IBGE, “As desigualdades entre os sexos são atribuídas, dentre outros fatores, à discriminação no mercado de trabalho e à divisão por gênero das atividades de afazeres domésticos e cuidados, em especial quando ausentes legislação e políticas públicas específicas para endereçar essas questões”. No âmbito político, fica nítido essa desigualdade, uma vez que, ainda há uma baixa representatividade de mulheres, sendo que apenas 15% de cargos políticos são ocupados por mulheres e dessas apenas 25% são negras. Esses números são mínimos apesar da Lei das Eleições que dita uma cota mínima (30%) e máxima (70%) de candidaturas por gênero em cada partido.

Observa-se esse sentido em Vigdís Finnbogadóttir, por exemplo, que foi a primeira mulher presidente da Islândia em 1930, assim como do mundo, e mostra o quanto é difícil as mulheres ocuparem cargos políticos, já que não faz nem um século que a primeira presidente foi eleita. No Brasil, a primeira presidente eleita foi Dilma Rousseff, porém essa sofreu duras críticas durante seu governo, no qual, podemos classificar não como críticas políticas, mas sim como críticas misóginas, em que homens destilaram seu ódio e seu preconceito, disfarçado de opinião, indo nas redes sociais, fazendo os famosos “memes”, mas por trás de toda essa “brincadeira”, estava escondido o machismo, fruto dessa sociedade patriarcal, no qual, as sociedades foram criadas.

Entretanto, diante do cenário pandêmico que se instaurou no mundo, os países governados por mulheres mostraram melhores resultados no combate a covid-19, como é caso da Nova Zelândia, sob o governo da primeira ministra Jacinda Ardern. O país apresentou poucos caso da doença, pois a presidenta tomou medidas restritivas antes mesmo da primeira morte e levou a doença a sério, diferentemente de outros países, como o Brasil, onde a quantidade de mortos e infectados por dia só cresceu, diante do descaso do presidente.

Sendo assim, isto só reforça que mulheres são capazes de liderar um país, até melhores que homens, mas infelizmente, somente 6,3% de todos os líderes internacionais são mulheres (O São Paulo, 2021). Apesar dessa estatística, mulheres como Dilma Rousseff (primeira presidenta do Brasil), Esther de Figueiredo Ferraz (primeira ministra de estado), Alzira Soriano (primeira prefeita da América Latina), Benedita da Silva (primeira senadora negra) e Angela Merkel (Chanceler alemã) são inspirações para que realidade seja modificada e que cada vez haja mais presença das mulheres nas lideranças políticas.

Referências

DOMINGUES, Felipe. Países liderados por mulheres têm mais eficácia na gestão da pandemia. o são paulo. Disponível em: https://osaopaulo.org.br/mundo/paises-liderados-por-mulheres-tem-mais-eficacia-na-gestao-da-pandemia/

Forbes. Mulheres na liderança. Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2020/04/mulheres-na-lideranca-sao-o-diferencial-dos-paises-com-as-melhores-respostas-ao-coronavirus.

IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: em 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/29431-sintese-de-indicadores-sociais-em-2019-proporcao-de-pobres-cai-para-24-7-e-extrema-pobreza-se-mantem-em-6-5-da-populacao

MONTE, Izadora Xavier do. O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais.  Estudos Feministas. Santa Catarina, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/r3pc8yVXBf6FqHPBBcH9Xxy/?lang=pt .

MONTE, Izadora Xavier do. Gênero e Relações Internacionais – Uma Crítica ao Discurso Tradicional de Segurança. UNB. Brasília, 2010. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7726/1/2010_IzadoraXavierMonte.pdf

PETERSON, Spike V., and RUNYAN, Anne S. Global Gender Issues – Dilemmas in World Politics. Colorado: Westview Press, 1999.

TICKNER, J. Anne. Gendering World Politics: Issues and Approaches in the Post- Cold War era. New York: Columbia University Press, 2001.

TSE.Jus. Cota de 30% para mulheres nas eleições proporcionais deverá ser cumprida por cada partido em 2020. Disponível em: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2019/Marco/cota-de-30-para-mulheres-nas-eleicoes-proporcionais-devera-ser-cumprida-por-cada-partido-em-2020.