
Leônidas Machado Barbosa, 4 Semestre
A causa curda sempre foi um tópico de muita controvérsia e desinformação, muitas vezes sendo interpretado de forma simplificada por atores ocidentais e vizinhos (Turquia) como terroristas. A história do povo curdo data desde do século X onde se tem relatos feitos por Mongóis e Turcos (BRITTANICA,1998), mas nunca realmente se uniram politicamente e, normalmente, viviam nas sombras de conflitos do império otomano, consequentemente desenvolvendo, aos poucos, formas de principados ao longo de algumas regiões onde hoje se situa o Iraque, Turquia e Síria.
O fim da Primeira Guerra Mundial trouxe consigo a dissolução da hegemonia e do controle otomano na região, resultando em formação de Estados, uns permanentes e outros provisórios, com o segundo sendo o caso do povo curdo com um planejamento futuro de estado permanente. Todavia, temporalmente o estado curdo foi desfeito e nunca se foi alcançado o plano antigo, com o mais próximo sendo em 1974, no Iraque, onde se foi alcançada uma certa autonomia, a qual apenas foi consolidada e reconhecida pelo governo iraquiano em 2005, se tornando algo parecido com a situação catalã na Espanha
Os curdos atualmente se destacam pela repartição em vários partidos representativos, podendo se destacar o KDP (Iraque), PKK (Turquia) e o PYD (Síria), com o mais novo sendo o sírio devido às consequências da primavera árabe que desencadeou a guerra civil no país em 2011. O estouro do conflito entre as forças de Assad e rebeldes abriu espaço para que grupos como o Estado Islâmico almejassem conquistas de poder e territórios, tornando-os uma força séria e em ascensão como se foi evidenciado em suas propagandas de execuções e atentados, podendo se dizer estarem em seu auge por volta de 2014 a 2017.
A expansão desenfreada do Estado Islâmico alcançou os territórios curdos e pôs em ameaça os mesmos. Isso fez com que a PYD assumisse o front da luta contra o Estado Islâmico e formasse sua ala armada que ficaria mundialmente conhecida como o YPG (Unidas de Proteção Popular) e a criação da renomada divisão feminina chamada YPJ (Unidades de Proteção das Mulheres). A luta curda contra os extremistas trouxe atenção do mundo para a causa curda e, como consequência, financiamento e armamento bélico de nações como os Estados Unidos foram enviadas. Apesar disso, essa ajuda vinha de forma bem precária comparada a antigos financiamentos efetuado pelos americanos, com a justificativa formal do país sendo que a constituição americana não permitia ajuda a atores não-estatais (DYLAN,2015), entretanto sabemos que isso é uma fala um tanto incoerente devido ao histórico do Estados Unidos.
A ajuda insignificante americana é ligada ao fato de que sua aliada da OTAN, a Turquia, declara o grupo curdo PKK e seus afiliados como terroristas e frequentemente ataca posições curdas e financia grupos mercenários, entre outros, que participam dos ataques. Portanto, a ajuda internacional do grupo não vem de grupos estatais e sim de atores não-estatais, o YPG abriu ondas de inscrições para voluntários incorporarem seus exércitos, centenas de pessoas de outros países vieram a ajuda dos curdos em sua luta contra o Estado Islâmico, entre elas podemos citar os brasileiros Luís Felipe e Jefferson que lutaram lado ao lado com os curdos ao ponto de ganharem apelidos, sendo respectivamente Baz Dilsoz e Soresh (FOLHA DE SÃO PAULO,2019)
A composição do YPG e suas interações com vários outros atores variam desde dos voluntários internacionais ao de questão de identidade e pertencimento ao lugar, Buzan explica em seu livro “New Patterns of Global Security in the Twenty-First Century”, International Affairs que os setores de segurança se estendem em 5, entre eles podemos citar o político e social. Na situação comentada no texto, o setor social é o que mais se encaixa no contexto curdo, visto que as ameaças sociais são compostas por questões identitárias e étnicas (BUZAN,1991) e o quão graves elas são na região, sendo assim, vemos isso sendo traduzido na composição dos exércitos populares curdos onde eles não exatamente são compostas por nações e sim, questões tribais e culturais, com curdos vindo de inúmeros cantos do mundo e pessoas que se identificaram com a luta contra o Estado Islâmico.
Referências:
. Buzan, Barry. “New Patterns of Global Security in the Twenty-First Century.” International Affairs (Royal Institute of International Affairs 1944-) (1991)
. Kurdistan. (1998, July 20). Encyclopedia Britannica. https://www.britannica.com/place/Kurdistan
. O’Driscoll, Dylan. (2015). The YPG and the Changing Dynamics of the Fight against IS.
. POR religião OU altruísmo, brasileiros foram a Síria combater Estado Islâmico. (2019, September 2). Folha de S. Paulo. https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/09/por-religiao-ou-altruismo-brasileiros-foram-a-siria-combater-estado-islamico.shtml