
Tiago Callejon Santos – Acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia
Em 2011, o presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, foi deposto de seu cargo por meio das manifestações e pressões populares que se sucederam no país. Isso aconteceu graças ao contexto de eventos existentes, no mundo árabe, com a Primavera Árabe, permitindo com que o vice-presidente, Abdrabbuh Mansour Hadi, fosse elevado ao cargo de presidente do país.
Com esta transferência de poder, Hadi encontrou dificuldades severas em seu mandato uma vez que o país se encontrava em um estado emergencial referente aos seus aspectos de segurança alimentar, corrupção e tensões nacionais por meio de rebeliões de vários grupos sociais do país, sobretudo por meio das pressões do grupo “houthis”, um grupo social que luta pela causa da minoria xiita no Iêmen, onde este teve apoio de uma parcela da população iemenita, ocasionando, no ano de 2014, a tomada da capital do Iêmen, Saná, e o exílio de Hadi da presidência, originado a Guerra Civil no Iêmen.
Deste modo, o conflito desenvolveu-se de tal forma que para poder estabilizar novamente a condição política do país, “em 2015, a Arábia Saudita lançou uma operação militar para restaurar o poder do presidente Hadi e eliminar o poderio Houthi no Iêmen” (MARRA, 2019, p.2) por meio de uma coalização entre oito nações árabes – apoiados por algumas das potências ocidentais – a fim de promover o retorno de Hadi ao poder e ao estado de estabilidade política. Todavia, a preocupação desta coalizão de nações se deve mais à Arábia Saudita temer que os rebeldes houthis favorecessem belicamente e politicamente o Irã, proporcionando-o referências estratégias dentro do Iêmen, garantindo ao próprio Irã uma espécie de dominação regional por meio do tráfico de armas aos houthis.
No entanto, a coalizão destes países não teve êxito em expulsar os rebeldes de Saná e, naturalmente, do poder do país, permanecendo o exílio de Hadi na sua atuação de presidente da Nação e a continuação do conflito no país. Ademais a estes fatores, o Sul do Iêmen foi agravado por invasões de grupos terroristas da Al-Qaeda pelo controle da região, já que a devida instabilidade política, militar, social, sanitária e econômica da região proporcionou terreno para o domínio e as invasões dos terroristas nessas áreas.
Analisando este conflito à luz do pensamento de Andrew Linklater, autor referência da Teoria Crítica de Relações Internacionais, o autor pressupõe que a Política Internacional e o Sistema Internacional implicam em uma maior segurança e estabilidade ao próprio Sistema quando há a efetivação e a devida manutenção e aplicação das legislações internacionais para a redução de quadros de guerras, cismas e conflitos por todo o contexto internacional, isto é, ocasionando uma viabilização em maior grau da paz mundial.
Não obstante, a Legislação Internacional ou a Lei Internacional configura-se enquanto uma ferramenta de cooperação e comunicação dos países-membros da ONU em prol da procura de interesses e relevâncias mútuas entre os próprios, tal como a paz e a segurança, assim como incrementa a garantia de direitos e liberdade civis e individuais aos cidadãos constituintes dos Estados, relevando o papel desempenhado legalmente pela manifestação destas legislações. De fato, como afirmado por Linklater, o controle do comportamento do Cenário Internacional não se baseia meramente nas relações entre os Estados, contudo, são influenciadas pelo modo como a Lei Internacional é aplicada às suas áreas de jurisdição, sendo estas de domínio dos próprios Estados ou de atores não-estatais.
Outrossim, esta guerra interna no Iêmen é, de fato, preocupante para o Sistema Internacional, pois ela não apenas inviabiliza a instabilidade política e a tensões existentes entre os rebeldes houthis e Hadi, nem tampouco apenas se reflete nos embates bélicos entre a coalizão saudita e o Irã, porém também se reflete no temor das grandes potências mundiais no avanço regional e bélico da Al Qaeda na região da península arábica, assim como na viabilização do surgimento de novos grupos sociais ou movimentos os quais lutem pela causa do Estado Islâmico, no Iêmen, devido a todo este contexto. Ademais, o Iêmen detém relativa importância estratégica em sua região, pois há a ligação do Mar Vermelho ao Golfo de Áden, por meio do estreito de Bab al-Mandab, estruturando um ponto fundamental da movimentação diária de navios petroleiros no mundo.
Pelo pensamento de Linklater, o que acontece no Iêmen é uma clara visão de quando não há a apropriada manutenção das Leis Internacionais para o alcance da paz, permitindo que a guerra se prolongue no sistema. Considerando os interesses na região, a cooperação para a paz fica conflitante, as Leis Internacionais não atuam como deveriam, viabilizando o cenário litigioso no país.
Por fim, tratando-se da realidade humanitária do conflito em si, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que já houve mais de dez mil mortes de civis no conflito, sendo estes causados majoritariamente por meio de ataques da coalizão saudita (BBC News Brasil, 2018). Outros registros afirmam que 80% da população iemenita foi afetada pela guerra e solicita assistência humanitária em urgência, além dos que se encontram em estado imediato de socorro.
Conforme a situação de insegurança alimentar, estima-se um número de 14 milhões de pessoas nessa situação, agravando as proporções da fome e da desnutrição no país e, relativo à deslocação de indivíduos, estima-se que dois milhões ainda estejam deslocados.
Referências:
Por que há uma guerra no Iêmen e qual é o papel das potências internacionais. BBC News Brasil, 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46322964>. Acesso em: 08 de set. de 2021.
MOURA, Letícia. Crise no Iêmen: entenda o que acontece no país! Politize!, 2019. Disponível em: <https://www.politize.com.br/crise-no-iemen/>. Acesso em: 08 de set. de 2021.
Legislação Internacional da ONU e os Órgãos Envolvidos. Politize!, 2018. Disponível em: <https://www.politize.com.br/legislacao-internacional-da-onu/>. Acesso em 09 de set. de 2021.
MARRA, Ingrid Cagy. O entendimento da Guerra do Iêmen a partir de seu contexto geopolítico e geoeconômico. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: <file:///C:/Users/Pichau/Downloads/O%20entendimento%20da%20Guerra%20do%20I%C3%AAmen%20a%20partir%20de%20seu%20contexto%20geopol%C3%ADtico%20e%20geoeconomico%202.pdf>.