Eduardo Oliveira – Acadêmico do 8° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Através das epistemologias analíticas das Relações Internacionais, as teorias pós-positivistas compreendem um grupo mais extenso de variáveis capazes de entender os fenômenos, tangíveis ou não, dentro do sistema internacional, além da interação entre seus agentes internos ou externos aos estados.

Dentro deste arcabouço teórico, situa-se, após a virada linguística-epistemológica, os argumentos construtivistas das Relações Internacionais. Segundo os autores que repercutem seus principais conceitos, o mundo, e suas complexas inter-relações estão em contínuo processo de modificação. Outrossim, nada é estático, imperando a lógica de co-construção entre o agente e a estrutura, ou seja, vivemos em um mundo que construímos, no qual somos os principais protagonistas, que é produto das nossas escolhas. (WENDT, 1992)

Atos terroristas, tais como foram descritos em Rabello (2007), tornaram-se usuais e são caracterizados como sinais de desequilíbrios sistêmicos globais. Mesmo não sendo um fenômeno recente, as suas marcas mais profundas, internacionalmente, repercutem o marco histórico trazido pelos atentados terroristas, em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, ao World Trade Center. (PROCÓPIO, 2001)

Mesmo que suas raízes, enquanto fenômeno estrutural, remontem os anos 63-73 d.C., a sua evolução enquanto terrorismo internacional ganha destaque após ultrapassarem as barreiras do estado-nação e adquirirem status de ator internacional capaz de desestabilizar as políticas deste ator.

Ao longo dos últimos 20 anos, a guerra ao terror, oriunda das respostas emergenciais de segurança estadunidenses, foi lançada àqueles que não se encaixavam nos moldes ocidentais e que, em disputa de áreas de influência, eram os alvos e, portanto, culpados pela disseminação do terror, sendo tal discurso pretexto suficiente para iniciar uma guerra e manter duas décadas de conflitos armados.

O tema em discussão é extremamente atual e relevante pois representa as faces deste novo micro ator, o qual conseguiu alterar as ações dos estados-nação nas políticas de segurança nacional e internacional, fazendo com que as construções de conhecimento sobre o tema repercutam, automaticamente, o 11/09 enquanto marco espacial e histórico como gênese do terrorismo.

A medida em que se aprofundam os estudos acerca do fenômeno, percebe-se que a problemática está muito mais ligada às questões relativas à desigualdade, à concentração de renda, à pobreza, do que puramente uma agenda de segurança, belicista. Portanto, a falha mais grave da política antiterror é a desconsideração das desigualdades como geradoras destes atos de resistência que se trasvestem em atentados isolados e indiscriminados de terror. (DA COSTA, 2016)

Nesse sentido, analisando o crescimento e evolução do terrorismo após 20 anos do atentado que revelou ao mundo seu poder nocivo, são visíveis as repercussões e modificações geradas no hodierno internacional.

Assim como a guerra fria, o 11/09 foi um “divisor de águas” na história das Relações Internacionais e relações internacionais pois, houve um alargamento no número de atores no campo científico de estudo e modificou os rumos das tratativas internacionais no campo prático de segurança internacional entre as nações, respectivamente.

Enquanto estrutura o Sistema Internacional não é o mesmo, pois foi modificado pelos agentes terroristas, os quais continuam em processo de construção mútua até hoje, seja através do surgimento de novos grupos terroristas, seja através das diversas reverberações nas políticas nacionais antiterror ao redor do globo.

Dessa forma, a alta volatilidade da realidade oriunda do desequilíbrio sistêmico global, que é o terrorismo, nos faz pensar do subproduto da Guerra ao Terror deliberada pelos Estados Unidos após os atentados. Desde então, as marcas deixadas nos lembram do único aniversário que de nada tem a ser comemorado.

REFERÊNCIAS

WENDT, Alexander. Anarchy is What States Make of It, 1992.

DA COSTA, José M. D. A Luta contra o Terrorismo na Europa Ocidental. Revista Nação e Defesa. Nº 143, p. 88-93, 2016.

PROCOPIO, Argemiro. Terrorismo e relações internacionais. Rev. Bras. Polít. Int. [online]. 2001, vol.44, n.2, pp.62-81. ISSN 1983-3121. https://doi.org/10.1590/S0034-73292001000200004.

RABELLO, Aline L. S. S. O conceito de terrorismo nos jornais americanos: Uma análise de textos do New York Times e do Washington Post, logo após os atentados de 11 de setembro. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p.20-37, 2017.