
Pollyana Bernardes – Acadêmica do 4º semestre de Relações Internacionais
Com a saída das tropas estadunidenses do Afeganistão, o grupo extremista conhecido como Talibã retomou seu poder em Cabul, obrigando civis do país a viver em meio a uma guerra de décadas, impedindo-os de exercer suas liberdades individuais.
Segundo a Universidade de Brown, desde o ataque às torres gêmeas em 2001, até os dias atuais de 2021, pelo menos 78.000 civis do Paquistão e do Afeganistão foram mortos, incluindo jornalistas e ativistas.
Dessa forma, os afegãos encontram-se em uma linha instável e turbulenta, e consecutivamente, as mulheres afegãs perderam grande parte dos seus direitos sociais.
Segundo Adriana Carranca, autora do livro “O Afeganistão depois do Talibã”, apesar das palavras ditas do grupo extremista à mídia internacional – de que as mulheres não serão vítimas – as afegãs estão em uma situação além da vulnerabilidade já subentendida pela minoria, e esse fator sucessivamente gera pânico no país. Em entrevista recente, a autora comenta suas idas ao Afeganistão e como as jovens já se despedem de liberdades civis com a chegada do Talibã, visto que o grupo impede mulheres de frequentarem até mesmo escolas e faculdades, bem como as mesmas possuem medo de até sair de casa, para frequentar qualquer lugar que seja, o que caracteriza um retrocesso misógino para o Oriente Médio.
Ainda que as falas do “novo Talibã” sejam, de alguma maneira, moderado em relação às mulheres, a líder da Aliança Feminina para Liderança de Segurança (WASL) da ICAN, Anderlini, explica que o receio certamente é muito grande, visto que não há garantias mínimas de que esse grupo tenha de fato evoluído quanto aos pensamentos dos direitos de mulheres afegãs.
Em contrapartida, o autor de Teoria Crítica, Andrew Linklater, afirma que os princípios morais, políticos e legais devem ser universalizados e, portanto, mantidos pelo Estado sobre seus cidadãos. Contudo, a corrupção e a quebra do governo afegão, impedem qualquer ação sobre a questão dos direitos civis das mulheres afegãs, e assim perpetuam ainda mais o caos e o fortalecimento do grupo extremista no país.
Dessa maneira, é fundamental a interferência de atores externos que possam garantir assistência às mulheres que estão no meio desta guerra que agora perdura por duas décadas, retirando seus direitos e impedindo qualquer reivindicação destas como civis, e acima de tudo, como próprios seres humanos com liberdade individual, para que então, mulheres realmente deixem de ser as vítimas vulneráveis às guerras criadas pelos próprios homens.
REFERÊNCIAS
LO PRETE, Renata. Afeganistão na Mão do Talibã. O Assunto. G1: 17 de agosto de 2021. Podcast
MACKENZIE, Sheena. Talibã assume o Afeganistão. CNN Internacional: 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/taliba-assume-o-afeganistao-o-que-isso-significa-para-mulheres-e-meninas/ Acesso em: 24 de agosto de 2021.
LINKLATER, Andrew. Critical Theory and World Politics: Citizenship, sovereignty and humanity. Special Indian Edition, Delhi: Routledge/Manohar, 2008. p 240.