
Rayana Yukari Fachinetti Inomato – 4 Semestre
O final da primeira década do século XXI é marcada pelo retorno político e econômico de um ator internacional importante para o xadrez econômico mundial, o Talibã. O grupo, que governou o Afeganistão durante os anos de 1996 a 2001 (ano em que ocorreu uma intervenção militar estadunidense no país), retornou à frente do país completamente reinventado perante a economia política internacional. A partir das ideias do economista Reinaldo Gonçalves, em seu livro “Economia Política Internacional” (2005), pode-se afirmar que o Talibã, como um ator internacional, utilizou-se da obtenção de riquezas – a partir do comércio do ópio, para influenciar o campo social afegão – a partir da coerção, da doutrina ideológica e da manipulação comercial, resultando na tomada do poder estatal e sua nova ascensão.
Após a intervenção estadunidense no Afeganistão em 2001, o Talibã desenvolveu exponencialmente sua economia e expandiu gradualmente sua influência no país. Esse crescimento do poderio econômico do grupo se deu principalmente ao comércio de ópio e a cobrança de impostos para fazendeiros. Segundo os relatórios anuais do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes) “Afghanistan Opium Survey” de 2019 e 2020, são pagos por produtores da região sudoeste afegã (região onde há o maior cultivo de papoula – a planta originária do ópio – do país) 58% de impostos sobre a venda de ópio para o Talibã, ou seja, mais da metade da renda obtida pelo comércio do ópio é destinado ao grupo político. Além do imposto sobre a venda, há um imposto islâmico tradicional cobrado pela produção agrícola de 10% do total produzido, chamado “Ushr” (UNODC, 2019).
Em 2020, o relatório informou que a região sudoeste é responsável por 71% do total da produção de ópio do Afeganistão, cujo se configura como o maior produtor de ópio do mundo – detém cerca de 84% da produção mundial (UNODC, 2020), ou seja, o Talibã passou gradualmente a controlar a cadeia de produção do tráfico de uma das drogas mais rentáveis do mundo, além de controlar – nos dias atuais – o próprio estado afegão.
Durante os 20 anos desde a descensão Talibã, o governo estadunidense valeu-se de várias ofensivas para diminuir a influência do grupo, podendo se destacar a “guerra às drogas”, em parceria com o UNODC (UNODC, 2020). Essa ofensiva se caracterizou (no Afeganistão) em operações para a interceptação de ópio nas fronteiras e incentivos à fazendeiros para a troca da produção de papoula para outros produtos agrícolas como o trigo, a fim de aumentar as zonas livres de ópio no país. Essas operações não foram eficazes perante a influência Talibã e a rentabilidade da produção de papoula, resultando no aumento gradativo das mesmas.
Segundo Max Weber, em sua obra literária “Ensaios de Sociologia” (1974), o desejo de prestígio de uma liderança – ânsia de glória – pode levar a estratégias de expansão e de aumento do poder, e o grupo Talibã desde sua descensão do poder a frente do estado afegão, se desenvolveu progressivamente para retornar ao poder e recuperar sua “glória”. Utilizou-se de meios econômicos e sociais (religião) para garantir o seu poder efetivo, cujo pode se denominar como a capacidade na qual um ator paraestatal exerce sua vontade perante uma estrutura social (GONÇALVES, 2005) e, no caso do Afeganistão que depende da economia da papoula, a capacidade do ator (Talibã) de desestabilizar um país economicamente. Em suma, pode-se afirmar que a ascensão econômica Talibã se dá a partir de uma reivindicação do exercício do poder, o qual se dá pela governabilidade do Afeganistão.
REFERÊNCIAS:
AFGHANISTAN Opium Survey 2019 – Executive Summary. UNODC, [s. l.], 2019.
AFGHANISTAN Opium Survey 2020 – Executive Summary. UNODC, [s. l.], 2020.
Economia política internacional: fundamentos teóricos e as relações internacionais do Brasil / Reinaldo Gonçalves. — Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. [S. l.: s. n.], 1974.