Alana Andrade da S. Costa – 8º semestre

Os desdobramentos ocorridos durante o século XX moldaram a humanidade e forma de se comportar. Ideologias nacionalistas, militaristas ou até mesmo fascistas, surgem e se concretizam nos anos iniciais deste centenário, fazendo parte do dia a dia de uma determinada população e moldando sua identidade. As duas grandes guerras (1914-1918 e 1939-1945) se destacam por representarem um novo formato de conflito bélico, envolvendo mais nações e sendo muito mais destrutivo.

O contexto internacional dessa época era da corrida armamentista entre as nações desenvolvidas da Europa e sua disputa por territórios em outros continentes. A Rússia, ainda czarista, enfrentava a fome na maior parte de seu território e não era industrializada, dessa forma o cenário da guerra generalizada acentuou a miséria e o sentimento revolucionário da sua população, ocasionando na sua retirada do conflito e na consequente Revolução Russa em 1917.

A partir desta saída da guerra, o descontentamento da população russa (agora soviética) com o antigo regime deu forças para o movimento revolucionário, liderado por Lênin, fazer uma mobilização maciça e crescer rapidamente. A partir daí, já distanciado do ideal socialista da força militar nas mãos de operários e camponeses, o que se vê é a concentração de poder na mão do partido, que assume uma doutrina militar ofensiva, disciplinar e centralizada, adequando-se ao contexto belicoso da época (JUSTO, 2012).

A Guerra Civil ocorrida um ano após a revolução de 17, acentua a identidade ofensiva e militarista do exército soviético, também conhecido como exercito vermelho, mudando o tom revolucionário de antes. Segundo Morais (2020), este conflito representou uma guerra total para esta população, pois mobilizou todas as forças vivas do país contra o outro ideal contrarrevolucionário, o qual representava os resquícios do czarismo.

Os dois lados da guerra representavam visões diferentes de como levar a Rússia. De um lado como falado anteriormente, o exército vermelho era o braço armado da revolução, representando o futuro daquele país e a sua força de resistência frente às outras nações. O lado da contrarrevolução era denominado como “exército branco”, e correspondia á identidade do passado czarista, pois defendia a volta do regime e a adoção do modelo liberal pela Rússia.

É importante frisar que o exercito branco recebia o apoio das nações ocidentais como Itália, França, Estados Unidos, Polônia, entre outros, e que o exército vermelho bolchevique era apoiado pela China, Alemanha e Coreia. Este tipo de detalhe serve para acentuar a polaridade de visões existentes na época, e a vitória do exército revolucionário caracterizava-se como a vitória da identidade nacional contra a presença militar estrangeira (MORAIS, 2020)

O conflito civil soviético foi bastante destrutivo, causando baixas de cerca de 4,5 milhões de pessoas (3% da população), com a influência da comunidade internacional ao apoiar um dos lados da guerra. Seu desfecho demonstra como o contexto da época, o período entre duas grandes guerras para ser mais exata, influenciou na identidade militarista do exército vermelho, que foi estruturado para salvaguardar o Estado e representar a defesa nacional (MORAIS, 2020).

O resultado dessa luta é a grande máquina de guerra soviética que foi decisiva no final da Segunda Guerra Mundial, o lado oposto do capitalismo durante a Guerra Fria desenvolvendo tecnologia nuclear, e o desenvolvido exército russo da atualidade, player  decisivo nos novos moldes de conflito atuais.

REFERÊNCIAS

JUSTO, Symon de Oliveira. O pensamento militar de León Trotsky e a formação do exército vermelho: 1918-1925. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual Paulista, 2012.

MORAIS, Ronaldo Queiroz de. Por uma leitura político-militar da revolução russa: o Estado soviético e o comunismo de guerra permanente. Esboços, Florianópolis, v. 27, n. 46, p. 434-451, set./dez. 2020.