Agata Abreu – Acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais

Victtor Rodrigues – Acadêmico do 2º semestre de Relações Internacionais

Após as Olimpíadas de Tokyo, torna-se muito oportuno traçar análises sobre as dinâmicas de poder e de identidade exercida entre os Estados nacionais, buscando entender suas relações em conjunto com a efêmera retomada do sentimento nacionalista além da interligaçao com o Soft Power durante as competições.
No Brasil, eventos esportivos sempre foram um estopim para uma comoção nacional, não sendo diferente com essa edição dos Jogos Olímpicos. As competições se tornaram um refúgio em meio a um turbilhão de problemas socioeconômicos, que já eram latentes no país e que, infelizmente, se tornaram crônicos diante da crise sanitária global gerada pela pandemia de Covid-19 e o atual cenário político do Brasil.
Os Jogos Olímpicos sempre incluíram muito simbolismo e, além de diversas competições, um certo teor político, dando visibilidade a diversas manifestações, com enfoque na busca pela credibilidade dos estados, seja por meio de sua influência ou por meio de sua cultura e nacionalismo, ainda mais considerando a visibilidade e a grandiosidade do evento.
Outrossim, segundo Joseph Nye, no Soft Power, “o país que consegue legitimar seu poder aos olhos dos demais encontra menor resistência para obter o que deseja. Contando ele com uma cultura e uma ideologia atraentes, os outros se mostram mais dispostos a acompanhá-lo” (2002, p. 39). A ação brasileira, enquanto ator internacional, para representar medidas de cunho leve e suave tomadas pelo estado, busca renovar a imagem de um país, como já foi um dia, conhecido por sua harmonia. Ainda mais, levando em consideração as diversas vezes que as Olimpíadas serviram como resquício de esperança e abrigo para momentos de paz, como na segunda guerra mundial. Provando por meio da geopolítica, o uso do soft power, aplicado em sua forma mais pura.
A guinada ideológica na presidência da república marcou o início de um movimento político, os símbolos que representam o Brasil foram adotando um outro significado, sendo usado em apoio às políticas do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Logo, uma boa parcela de brasileiros recusou-se a utilizá-los como forma de protesto e oposição. Com isso, a postura patriótica do povo brasileiro seguiu fragilizada.
Ademais, o uso do Nation Brand, se tratando de uma referência do estado, criando uma marca, com representações nacionais para a construção de uma imagem que seja favorável e o torne reconhecido, vem ocupando espaço e tentando afirmar uma credibilidade no cenário internacional. No entanto, quando se trata do cenário interno do Brasil, muito tem se perdido da sua identidade, tornando a sensação nacionalista um tanto rara, dando seguimento a um momento vivido e que não foi superado.
Vale ressaltar que a memória que unia os brasileiros foi sendo deixada de lado e até mesmo esquecida, não apenas com o desmonte de diversos símbolos e representações nacionais, mas também pelo abandono de tradições que compunham o nacionalismo brasileiro. Entretanto, a chegada dos jogos olímpicos de Tóquio marcou um retorno do sentimento de pertencimento, dando sentido ao “ser brasileiro”, um retorno do vigor patriótico, mesmo que por um momento, sendo esse o grande trunfo do esporte: o poder de unir pessoas.
Dessa forma, percebe-se que eventos altamente supervisionados servem como propaganda para os Estados. No caso do Brasil, tem-se utilizado o Soft Power, principalmente, para difundir a identidade nacional e cultural, estreitar relações diplomáticas e ações políticas.
Portanto, verifica-se que as olimpíadas, mais que uma busca por medalhas e renomes, foi utilizada pelos brasileiros também como forma de esperança, algo para se apoiar no sentimento, não apenas de ser parte de uma nação, mas também de amar e se orgulhar de ser brasileiro. Apesar das políticas socioculturais e econômicas, a busca pela identidade nacional brasileira segue na tentativa de se recuperar por meio do povo e de sua memória. Pelo momento, as olimpíadas, mais a frente seu prosseguimento por outros meios.

REFERÊNCIAS

CANALI, Enrico. Esporte e geopolítica competem nos Jogos Olímpicos. Jornal da universidade. Rio Grande do Sul: UFRGS, 20 de junho de 2020. Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/esporte-e-geopolitica-competem-nos-jogos-olimpicos/. Acesso em: 2 de agosto de 2021.

NYE, Joseph. O paradoxo do poder americano. Editora UNESP, 2002.

OLIVEIRA, Cristiana. “Nation branding: O Poder das ideias nas relações internacionais contemporâneas”. Observatório Político, Lisboa, 3 de maio de 2017.

SÁ, Francisco. Em meio às cinzas, a ideia de um Brasil que vale a pena. El País, 1 de agosto de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-07-31/em-meio-as-cinzas-a-ideia-de-um-brasil-que-vale-a-pena.html?mid=DM74533&bid=666255416?event_log=oklogin. Acesso em: 30 de Julho de 2021.