
Matheus Castanho Virgulino – acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais, UNAMA
A Guardia Svizzera Pontificale (Guarda Suíça Pontifical) é não somente o menor exército do menor país do mundo, mas também é uma das unidades militares de tradição militar mais longa da história. Por mais de 500 anos suas armaduras polidas e roupas bufantes atraem a atenção daqueles que visitam a basílica de São Pedro e a cidade de Roma.
Para entender a história da Guarda Suíça é importante entender que o Papa por mais de 1000 anos foi não somente o líder espiritual do catolicismo, como também um líder secular que reinava sobre boa parte da Itália central nos denominados Estados Papais. Começando com o patrimônio de São Pedro dado por Constantino o Grande no século IV, e expandido drasticamente por Carlos Magno no século IX, os territórios pontifícios geralmente incluíam as atuais regiões de Lazio, Marche, Umbria e Emilia-Romagna. Isto significava então que o Papa além de bispo de Roma e chefe da Igreja católica Romana era também um governante por seu próprio direito, e extremamente importante na política Italiana (SNELL, 2019).
Por conta de neutralidade política da Confederação Suíça, os seus mercenários eram considerados acima das disputas políticas do continente Europeu. Além disso, os suíços dominaram a arte da guerra estilo “lança e tiro”, um tipo de guerra que consistia em grandes regimentos com lanças longas intermediados por arquebuseiros e artilharia. É esta forma de guerrear que viria a dominar os campos de batalha da idade média tardia e a era moderna, acabando com a dominância da cavalaria. Estes fatores junto com sua reputação de lealdade, fariam com que os mercenários suíços fossem almejados pela maior parte dos governantes da Europa, incluindo os reis da França e os imperadores Habsburgo, até mesmo Maquiavel considerando-os o suprassumo de guerreiros disciplinados (PERGALIS, 2013).
Os Guardas Suíços viriam a serviço papal durante as infames guerras Italianas, uma série de conflitos entre a França, Espanha e as cidades-estados da Itália que perduraram de 1494 até 1559. Em 1503 o papa Júlio II, mais conhecido como o papa guerreiro, formou a liga de Cambrai para lutar contra a República de Veneza e depois formou a Santa Liga para expulsar o rei Luís da França do Norte da Itália, assim jogando os Estados Papais no meio das guerras Italianas (BRITANNICA, 2021). Foi o mesmo papa Júlio II que após se impressionar com os feitos dos mercenários Suíços em serviço ao rei da França, contratou cerca de 150 deles para servirem como sua guarda pessoal e para proteger a basílica de São Pedro, que estava começando a ser construída.
O momento de maior renome da Guarda Suíça pontifical foi durante o infame Sacco di Roma de 1527, quando tropas do imperador Carlos V invadiram a cidade de Roma em uma onda de destruição e massacre que a cidade eterna não havia visto desde a época das invasões dos góticos e vândalos na antiguidade tardia. Cerca de 147 Guardas Suíços sacrificaram-se nos degraus da basílica de São Pedro lutando contra milhares de soldados Landsknecht Alemães para que o Papa Clemente VII conseguisse escapar e refugiar-se na fortaleza Castel Sant’Angelo nas margens do rio Tibre (BRITANNICA, 2021). Com o declínio das cidades italianas e a eventual unificação italiana no século XIX, os Estados Papais diminuíram até ficar somente a cidade do Vaticano, com a Guarda Suíça servindo um papel majoritariamente cerimonial.
É interessante analisar o papel que o Soft Power tem no conceito e funcionamento da Guarda Suíça e do Vaticano. Como explicado por Nye (2005) o Soft Power implica na habilidade de uma entidade política de influenciar as ações e comportamento de outros agentes de forma indireta por meio da diplomacia, cultura, ideologia e etc. No caso da Guarda Suíça é visto que a sua motivação voluntarial não está no Estado do Vaticano em si, mas no fato de ele ser a sede da maior religião mundial com mais de 1 bilhão de fiéis e presidida por uma organização que pode influenciar direta e indiretamente as ações de indivíduos e entidades ao redor de todo o globo.
Logo, apesar de não mais lutar em guerras, a guarda Suíça ainda é uma força militar com o dever de defender o sumo pontífice e a cidade do Vaticano de qualquer ameaça. Para se inscrever na guarda, é necessário alguns requisitos: ser homem, suíço, católico, solteiro, ter entre 19 e 30 anos, ter completado treinamento militar no exército, ter um diploma de ensino superior e ter no mínimo 1,74 de altura. A guarda acompanha o papa em eventos oficiais e não oficiais no Vaticano e ao redor do mundo, além de treinarem com alabardas, mosquetes, espadas e outras armas tradicionais, também são treinados em equipamento militar moderno e fazem atividades físicas regulares (BRITANNICA, 2021).
REFERÊNCIAS:
Bunting, Tony. THE SACK OF ROME. Encyclopaedia Britannica, 2021. Disponível em : https://www.britannica.com/event/Sack-of-Rome-1527 Acesso em 18 de Julho de 2021.
BRITANNICA. THE ITALIAN WARS. Encyclopaedia Britannica, 2021. Disponível em : https://www.britannica.com/event/Italian-Wars Acesso em 18 de Julho de 2021.
BRITANNICA. THE SWISS GUARDS. Encyclopaedia Britannica, 2021. Disponível em : https://www.britannica.com/topic/Swiss-Guards Acesso em 18 de julho de 2021.
PERGALIS, Vassilis. “THE PONTIFICAL SWISS GUARD: PROTECTING SAINT PETER’S BISHOP.” Medieval Warfare, vol.3, no.2, 2013.
NYE, Joseph. SOFT POWER: THE MEANS TO SUCESS IN WORLD POLITICS. New York, Public Affairs, 2005.
SNELL, Melissa. THE ORIGIN AND DECLINE OF THE PAPAL STATES. ThoughtCo, 2019. Disponível em : https://www.thoughtco.com/the-papal-states-1789449 Acesso em 18 de julho de 2021.