
Carol Nascimento – Graduada em Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia
Nas Relações Internacionais, muito é abordado sobre o rápido e eficaz crescimento da China no Sistema Internacional nas últimas décadas. A inegável ótica de ultrapassagem dos Estados Unidos no setor econômico já é uma concepção discutida por muitos autores, bem como o seu também prestígio em campos como militar, científico e industrial. No entanto, nos últimos anos, a China tem apostado no aperfeiçoamento de mais uma de suas estratégias para garantir um lugar de destaque no cenário internacional: o “Soft Power”.
Conceito apresentado pelo teórico neoliberal das Relações Internacionais, Joseph Nye, no livro Paradoxo do Poder Americano (2002), o Soft Power consiste em exercer influências no Sistema Internacional por meio de mecanismos mais sutis, como, por exemplo, produções cinematográficas, a indústria musical ou até mesmo intercâmbios culturais. O Soft Power, na visão de Nye, é uma importante ferramenta de atração, não por meio da coerção, mas pelo livre-arbítrio.
Na política mundial, é possível que um país obtenha os resultados que quer porque os outros desejam acompanhá-lo, admirando os seus valores e aspirando ao seu nível de prosperidade e liberdade. Neste sentido, é igualmente tão importante estabelecer a agenda na política mundial e atrair os outros, quanto forçá-los a mudar mediante a ameaça ou o uso das armas militares ou econômicas. (NYE, 2002, p. 36).
Na cerimônia de abertura da Cúpula de Beijing (2018), do Fórum de Cooperação China-África, Xi Jinping, atual presidente chinês, clarificou em seu discurso a intenção chinesa em cooperação por meio do desenvolvimento de parcerias, a fim de obter benefícios mútuos entre a China e demais atores do Sistema Internacional.
Face ao cenário atual, a China considera como a sua missão fazer novas e maiores contribuições para a humanidade. A China está disposta a, juntamente com os outros países do mundo, construir uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade, desenvolver a parceria global, ampliar a cooperação amistosa, e trilhar um novo caminho de intercâmbio entre países distintos caracterizado pelo respeito mútuo, equidade e justiça, fazendo com que o mundo seja mais pacífico e seguro, e a vida da humanidade seja melhor e mais feliz. (JINPING, 2018)
Para Tremblay (2017), o uso que a China faz do seu soft power busca aumentar a consciência das intenções de seus líderes e convencer a comunidade internacional da natureza pacífica da sua emergência e das oportunidades que representa para seus parceiros (TREMBLAY, 2007).
O país tem realizado este feito por diferentes frentes e iniciativas, tendo como exemplo o Instituto Confúcio, que teve início em 2004 operando em cooperação com universidades em todos os cinco continentes do mundo, atualmente com cerca de 500 unidades. Seu principal objetivo é difundir o idioma e cultura da China, por meio de intercâmbios culturais.
A língua chinesa é uma importante fonte de soft power, e a China realiza várias atividades para promover o aprendizado da língua chinesa em todo o mundo. A principal delas é o estabelecimento de instituições de língua e cultura chinesas conhecidas como Institutos Confúcio (GIL, 2009, p. 59)
Além do Instituto Confúcio, pode-se citar também as artes marciais, protagonizados pelo Kung Fu e o Tai Chi Chuan, a culinária e grandes celebrações, como a comemoração do ano novo chinês em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil.
O que percebe-se ao longo dos últimos anos é que a procura de elementos culturais chineses como cursos de mandarim, aulas de kung fu entre outros, têm crescido na mesma proporção em que a China tem buscado ofertá-los para o mundo, com diversos programas educacionais e culturais voltados exclusivamente para o público estrangeiro. Com isso, cada vez mais a República Popular da China se faz conhecer e apreciar pela sociedade civil global.
REFERÊNCIAS
China’s Big Bet on Soft Power. https://www.cfr.org/backgrounder/chinas-big-bet-soft-power
DUARTE, Paulo. Soft China: o caráter evolutivo da estratégia de charme chinesa. Vol.34 no.2 Rio de Janeiro Dec. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-85292012000200005&script=sci_arttext
GIL. Jeffrey. China’s Confucius Institute Project: Language and Soft Power in World Politics. The Global Studies Journal, Volume 2, 2009.
Is China’s Soft Power strategy working? https://chinapower.csis.org/is-chinas-soft-power-strategy-working/
JINPING, Xi. Cerimônia de abertura da Cúpula de Beijing 2018 do Fórum de Cooperação China-África (FOFAC). Disponível em: http://portuguese.xinhuanet.com/2018-09/04/c_137443661.htm
NYE, Joseph S. Paradoxo do Poder Americano. São Paulo: Editora UNESP, 2002.
TREMBLAY, Mathieu. L’émergence du soft power chinois. Plateforme Qué-bécoise de Journalisme Citoyen , 2007.