Peter Wesley Mendes Barauna – Acadêmico do 3º semestre em Relações Internacionais da UNAMA

Não é muito comum associarmos o contexto do militarismo com a homoafetividade, no entanto, um dos mais emblemáticos batalhões foi composto completamente por casais homoafetivos, o famoso Batalhão Sagrado de Tebas. Composto por 300 homens, 150 pares de amantes (erastes) e amados (eromenos) o batalhão foi criado pelo comandante tebano Górgidas em 378 a.C., e marcou o contexto da Grécia antiga inovando nas táticas militares com a introdução da famosa “Ordem Obliqua” (PASTORE, 2011).

O motivo da atribuição do nome “Batalhão Sagrado” advém da localidade onde os soldados treinavam e conviviam – a Cadmeia – lugar sagrado centro dos órgãos do poder político e templo da divindade protetora da cidade, a políade. De tal modo, a relação entre os soldados conhecida como pederastia seria:

“como um ritual iniciativo – a passagem da juventude para a idade adulta, com o despontar dos primeiros pelos faciais; na afirmação do sujeito, enquanto ser viril e másculo, simbolicamente traduzido na sua honra, e membro integrante da comunidade” (ALVES, 2013, p.138).

E não se limitava somente ao cunho sexual, mas sim de forma mais ampla emaranhando desde a ética militar até a relação pedagógica, onde o amante se torna educador, orientando e acompanhando o seu amado, o aprendiz, e também o controle da natalidade com casamentos heterossexuais tardios.

No contexto militar, Tebas, aliada à Esparta, se revolta com seu aliado após a vitória da Liga do Peloponeso, liderada pelos espartanos, devido ao crescimento de Esparta na região tebana, a Beócia. Assim o líder tebano Amtálcidas decide cortar os laços entre as Cidades-Estado no ano de 386 a.C., e como consequência disso acaba culminando na tomada dessa região pelo exército espartano em 382 a.C. que posteriormente foi reavida por Tebas com os líderes Pelópidas e Epaminondas.

O surgimento da tática da “ordem obliqua” acontece durante a batalha de Tegira, liderados por Górgidas e Pelópidas, contra o batalhão de Esparta — numericamente superior — que não aceitara a derrota anterior. O batalhão sagrado vence após o comando de Pelópidas que instruiu os soldados a agir em grupo, diferente das táticas comuns de agir dispersos pelo campo (PASTORE, 2011).

Desse modo, a perda do domínio sobre Tebas, fez com que Esparta perdesse sua hegemonia sobre a Grécia na batalha de Leuctras em 371 a.C., tendo passada para vitoriosa Tebas graças as estratégias de combate de Epaminondas com a introdução de fato da “Ordem Obliqua” onde a sua formação estava disposta na manutenção de uma grande e forte unidade militar, no caso o Bando Sagrado, na retaguarda esquerda da linha de batalha tebana com o propósito de utilizá-la de forma integral e em grupo no momento e no local decisivo do engajamento (PASTORE, 2011).

No entanto, o invencível Batalhão Sagrado perdurou por apenas quarenta anos e teve sua ruina na batalha da Queronéia contra Filipe e Alexandre da Macedônia e seu exército macedônico em 338 a.C. marcando não somente o fim de um clico glorioso, como também a personificação da democracia tebana em que o Batalhão Sagrado exercia e seu sistema de vida tão vangloriado pelos Helenos. (ALVES, 2013)

O Batalhão Sagrado de Tebas marcou a história não apenas pela sua inovação em táticas militares, mas contribuiu para um olhar da diversidade do mundo Grego e como ela se relaciona com o contexto militar. A homoerótica presente no contexto do batalhão, se alinha ao entendimento da teoria queer, que traz debates sobre a diversidade — gênero, orientação sexual, identidade, identificação e relações sociais —, onde fazendo diálogo com as relações internacionais, essa teoria “viabiliza a concepção crítica do Estado e da nação como construções históricas que regulam as atividades sexuais para permitir a sua reprodução biológica e social” (SANTOS, 2014, p. 58) e nos permite fazer observações quanto a pratica de pederastia, que por sua estrutura constrói a relação ente erastes e eromenos  com a finalidade da manutenção militar e social da polis, como também a  manutenção da natalidade, educação e na prevenção da delinquência.

Além disso, apesar da teoria queer assumir o caráter crítico da modernidade, o pensamento Foucaultiano, propõe nas suas ideias ao examinar a “invenção homossexual” que as identidades sociais eram efeitos da maneira como o conhecimento era organizado e a produção social de identidades era naturalizada nos saberes e assim entender que a sexualidade é socialmente construída e como isso influenciaria na produção histórica e socióloga (SANTOS, 2014).

Assim, apesar do Batalhão Sagrado de Tebas atribuir-se como corpo militar ideal, formado por amantes e amados lutando juntos em defesa da polis, a sua estrutura revela uma Grécia composta por companheirismo, bravura e diversidade

Referências

ALVES, Tiago Oliveira.  Em torno do batalhão sagrado de Tebas. Cadmo, Nº 23 (2013). Disponível em: http://dx.doi.org/10.14195/0871-9527_23_9. Acesso em: 04 jul. 2021.

PASTORE, Fortunato. O Batalhão Sagrado de Tebas: militarismo e homoafetividade na Grécia Antiga. Revista Eletrônica Trilhas da História, v.1 n.1 p. 39-51, jun./nov. 2011. Disponível em: https://periodicos.ufms.br/index.php/RevTH/article/view/341.  Acesso em: 04 jul. 2021.

SANTOS VIEIRA DE JESUS, D. O mundo fora do armário: Teoria Queer e Relações Internacionais. Revista Ártemis – Estudos de Gênero, Feminismos e Sexualidades[S. l.], v. 17, n. 1, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/artemis/article/view/18751. Acesso em: 6 jul. 2021