Alana Andrade – acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

BRICS corresponde ao acrônimo (em inglês) do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o qual se oficializou apenas em 2010, mas ideia em si do grupo é datada em 2001, após um estudo publicado pelo economista britânico Jim O’Neill (2001), intitulado “Building Better Global Economic BRICs”, devido à projeção de aumento da presença econômica destes países no PIB mundial. Deve-se ressaltar que a África do Sul não está inclusa dentro dos estudos de O’Neill pois a mesma se torna membro apenas em 2010.

Os quatro países no início, se destacaram pela sua força econômica e possibilidade de gerar um novo pólo de poder frente aos países desenvolvidos como Estados Unidos, Japão e Inglaterra (o G-7). No entanto, o grupo não pode ser considerado uma organização internacional, pois não é institucionalizado. Sua cooperação se dá através de reuniões anuais e encontros informais à margem das reuniões do G-20.

A política externa brasileira, desta forma, caminhou durante certo tempo, junto aos países restantes do grupo, estreitando as relações por meio de trocas comerciais, científicas e culturais. Entretanto, ao avaliando o comportamento brasileiro por meio do modo de guiar sua política exterior desde do início do grupo até a atualidade, ou seja, examinando o governo Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, percebe-se dois processos: a coesão e o crescente desgaste.

Para examinar a política externa brasileira, é preciso entender o conceito do “multilateralismo da reciprocidade”, poisé ele que vai operá-la no início do século XXI. Segundo Cervo (2008), ele se desenha a partir de quando as regras do ordenamento multilateral beneficiam a todos, havendo a elaboração conjunta dessas regras para garantir a reciprocidade. Além disso, a nova configuração das ações externas do país, como demonstra Pecequilo (2008) vai priorizar o eixo horizontal, valorizando a relações sul-sul, o que direciona o governo da época (Lula, de 2003 à 2010) a priorizar as relações com países alternativos que também viessem a reforçar uma nova ordem dentro do cenário internacional, diferente da vinha sendo levada pelos países desenvolvidos.

Posteriormente, dentro do governo Dilma (2011 á 2016), as mesmas políticas de ordenamento sul-sul vão direcionar a política externa brasileira, que atinge o ápice da coesão dentro do grupo com a formação do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS em 2014, sediado em Xangai na China, cujo objetivo era além de estreitar economicamente a relação entre os membros (ANICIO PEREIRA; MILAN, 2021), vai financiar obras de desenvolvimento para incremento da economia, principalmente do Brasil, Rússia e África do Sul, que majoritariamente exportam commodities.

O governo de Michel Temer, que começa após o golpe de Estado contra a presidente Dilma Rousseff, e dura até 2018, inicia o processo de desgaste do grupo por parte do Brasil, o qual não prioriza mais suas ações conjuntas, e começa a se aproximar de alianças antigas, com os Estados Unidos por exemplo.

A partir de 2018, agora dentro do mandato de Jair Bolsonaro, há uma guinada á 180° graus para o eixo vertical ou norte-sul, como preconizado por Pecequilo (2008), ou seja, o Brasil na sua política exterior privilegia as relações com países europeus e norte-americanos, apesar de ser prejudicial para o próprio papel do país no cenário internacional, evidenciado pela escolha do presidente Bolsonaro em abrir mão do status de país em desenvolvimento na OMC, o que trazia certas regalias econômicas para o Brasil (EL PAÍS BRASIL, 2019).

Além disso, o total descaso com países africanos, quebra a ligação com a África do Sul, Estado cujo histórica de trocas comerciais e científicas tinha sido totalmente a favor do Brasil. Da mesma forma, episódios xenofóbicos e desrespeitosos contra a nação chinesa (ISTO É, 2020) impacta negativamente na relação entre os mesmos, demonstrando ser um desastre estratégico, pois o país é o maior parceiro comercial desta nação sul-americana.

A pandemia do Coronavírus escancarou a realidade do grupo, que apesar de fazerem reuniões, não possuem a mesma parceria vista nos tempos áureos do início do século. O conceito de “multilateralismo da reciprocidade” que guiava a política externa brasileira, apresentado por Cervo (2008) é abandonado completamente ao se perceber que o Brasil, não prioriza a elaboração conjunta de regras que garantem a igualdade dentro do sistema internacional, ao contrário, ele mina as relações que possibilitam diálogos mais abertos e igualitários.

A linha evolutiva do BRICS, dentro do seu conjunto original (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) apresenta coesão quando a perspectiva brasileira era de valorização das relações horizontais, ou seja, sul-sul, como foi evidenciado durante o governo Lula e Dilma. A partir do governo Temer, começa-se o desgaste da relação por conta da priorização de outras alianças, e com Jair Bolsonaro no poder, chega-se ao ápice da divergência com os constantes episódios xenófobos em relação à China, o não envio de vacinas da Índia, e o descaso com a África do Sul. Assim, abre-se espaço para novas configurações do grupo como o BRICS+, ou até mesmo uma realidade onde só existam o RICS.

REFERÊNCIAS:

ANICIO PEREIRA, R. A.; MILAN, M. O financiamento do desenvolvimento e o novo banco do BRICS: uma alternativa ao Banco Mundial?. Planejamento e Políticas Públicas, [S. l.], n. 51, 2021. Disponível em: //www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/view/866. Acesso em: 3 jul. 2021.

BENITES, Afonso. “Brasil deixou seu status na OMC para se agarrar a uma sinalização na OCDE. Não é prudente”. 2019. El País Brasil. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/11/politica/1570827156_314753.html. Acesso em: 02 jul. 2021.

CERVO, Amado Luiz. Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Editora Saraiva, 2008, 297 p.. ISBN 978-85-02-06570-3.

O’NEILL,  Jim. Building   Better   Global   Economic   BRICs. Goldman   Sachs,   nov. 2001. Disponível     em: http://www.goldmansachs.com/our-thinking/archive/buildingbetter.html.

PASQUATTO, Jo. A xenofobia contra os chineses. Isto É, 10 abr. 2020. Disponível em: https://istoe.com.br/a-xenofobia-contra-os-chineses/. Acesso em: 2 jul. 2021.

PECEQUILO, Cristina Soreanu. A política externa do Brasil no século XXI: os eixos combinados de cooperação horizontal e vertical. Rev. bras. polít. int. , Brasília, v. 51, n. 2, pág. 136-156, dezembro de 2008. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003473292008000200009&lng=en&nrm=iso>