Renata Almeida Romanholy Ferreira – Acadêmica do 3º semestre em Relações Internacionais

A pólvora é o nome genérico do composto que deriva de dois tipos de explosivos, um sendo formado pela mistura de enxofre, carvão vegetal e nitrato de potássio (salitre), conhecida como pólvora negra e a segunda conhecida como pólvora sem fumaça, composta  por nitrocelulose, nitroglicerina e agentes plastificantes e gelatinizantes. A pólvora negra, composto mais utilizado e tido como pioneiro dos explosivos modernos, foi o primeiro componente químico explosivo conhecido, o qual não permite identificar a data de sua criação, bem como, de seu uso em campos de batalha.

Segundo Valença (1987), a pólvora negra foi criada pelos chineses, séculos antes de Cristo, tendo o segredo de sua fórmula adentrado a Ásia Central e encontrado caminho pela Europa através dos árabes por volta do século XIII. Porém, experimentos com um dos componentes da pólvora, o salitre, já possuíam uso, sendo reconhecido o “fogo grego”, utilizado pelos gregos para destruir a esquadra árabe e cercar Constantinopla em 668.

Seguindo o percurso histórico do material explosivo, os primeiros estudos com a pólvora foram desenvolvidos na Idade Média e atribuídos ao monge franciscano Roger Bacon (1214-1284), que em o tratado Sobre a Nulidade da Magia, descreve sobre composições explosivas e incendiárias à base de pedra de tagus (salitre), carvão de madeira e enxofre, a fórmula de pólvora negra, apesar de ser de uso inadequado como propelente.

Por este trabalho e por outros estudos sobre materiais explosivos à base da fórmula da pólvora negra, Bacon foi declarado como o inventor da pólvora na Europa. Entretanto, devido a controvérsias e discussões, outros também são reconhecidos como pais da pólvora, tais como o Frade Constantino Auclitzen ou o Frade e alquimista Berthold Schwartz, criador do canhão.

Alfredo Bernardo Nobel, nome de referência mundial no estudo e desenvolvimento da indústria de explosivos, trouxe um marco para a história do explosivo ao desenvolver uma fórmula que culminou no dinamite, em 1867. Como resultado de suas pesquisas e produtos como o dinamite, Nobel acumulou riquezas, as quais foram determinadas que após a sua morte fossem distribuídas como prêmio, resultando no Prêmio Nobel.

Apesar do uso da pólvora em outras áreas, o campo bélico foi seu principal campo de desenvolvimento, gerando uma revolução profunda na história. Os espanhóis, embora em menor número, causaram as civilizações Inca e Azteca fortes impactos destrutivos tendo somente artilharia de 23 arcabuzes e alguns canhões. Igualmente, a superioridade da artilharia francesa corroborou para as vitórias de Luís XII e de Francisco I em Itália (Quintela et al., 1995).

Em 1886, Paul Vieille criou na França a pólvora sem fumaça, chamada de Poudre B, sendo um componente que revolucionou o campo de armas curtas e rifles ao não gerar fumaça durante o disparo e por ser muito mais eficiente do que a pólvora negra, resultando em uma precisão de aproximadamente 1.000 metros aos rifles. Igualmente, a pólvora sem fumaça viabilizou o desenvolvimento de armas semiautomáticas e automáticas.

Nesse âmbito, a primeira arma semiautomática foi criada por John Gatling na segunda metade do século XIX, a metralhadora, formada por seis canos independentes e dispostos circularmente que são movidos por uma manivela, bem como podia ser recarregada enquanto efetuava os disparos. Esse armamento mudou consideravelmente tudo na forma de fazer guerra, visto que combates corpo a corpo ou uma quantidade numérica superior de soldados foram superados, dois soldados e bastante munição eram suficientes.

A partir da linha histórica da pólvora, compreende-se que seu constante desenvolvimento não deu-se aleatoriamente. Em vista disso, a Teoria Neorrealista indica os aspectos que guiam a análise dessa questão. A priori, enquanto teoria que foca na lógica de sobrevivência, disputa e domínio, diante da anarquia do sistema internacional, defendendo como estratégia de preservação e da defesa da territorialidade de um Estado, a utilização do militarismo e do armamentismo.

Desse modo, John Mearsheimer, apoiado no seu Realismo Ofensivo, indica que esse estado de anarquia adjunto do constante estado de desconfiança impulsiona os Estados a competir constantemente pelo poder. Porém, o autor também destaca que não há hegemons absolutos, resultando numa distribuição desigual de poder, o que igualmente impulsiona as potências para mudar esse equilíbrio. Por conseguinte, “essa inexorável busca de poder significa que as grandes potências têm propensão a procurar oportunidades para alterarem a distribuição do poder mundial a seu favor” (MEARSHEIMER, 2007).

Em vista disso, as potências sempre buscarão tornar-se num hegemon, através da maximização de seu poder. A partir dessas premissas, o contínuo desenvolvimento e aperfeiçoamento da pólvora deu-se pautado na ótica militar, sendo amplamente desenvolvida e incrementada de outros materiais para que os efeitos fossem mais eficazes e satisfatórios e através disso ter seu uso amplificado sob o ideal de defesa nacional e numa eventual necessidade de guerra.

REFERÊNCIAS

LIMA, Victor. De Gatling a Kalashnikov: a evolução da guerra e das armas ao longo da contemporaneidade. 3º Encontro de Pesquisa em História: Historiografia e Fontes Históricas, 2015. Disponível em:https://unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/wp-content/uploads/2016/09/8.-VICTOR-LIMA.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2021.

MEARSHEIMER, John J. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Tradução de Tiago Araújo. Lisboa: Gradiva, 2007.

Pólvora. Portal São Francisco, S.I. Disponível em: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/curiosidades/polvora&gt;. Acesso em 28 de jun. 2021.

QUINTELA, A. C.; CARDOSO, J. L.; MASCARENHAS, J. M. & ANDRÉ, M. C. (1995) – A Fábrica da Pólvora de Barcarena e os seus sistemas hidráulicos. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras

VALENÇA, Ubirajara da Silva. Quem descobriu a pólvora. Revista Militar de Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, p. 20-26, mar. 1987. Disponível em: http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_1_tri_1987/quem_desc_polvora.pdf.Acesso em: 28  de jun. 2021.

VALENÇA, Ubijara da Silva. Um pouco da história dos explosivos através de seus descobridores. Revista Militar de Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, v.XVIII, n. 1, p. 43 – 62, 1º quadrimestre de 2001. Disponível em: ISSN 0102 – 3542. Acesso em: 28 de jun. 2021.