
Sérgio Sales – Acadêmico do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Joseph Nye, importante cientista político e vultoso autor das Relações Internacionais, criou o termo “soft power” (ou “poder brando”) em 1980. Atualmente o termo é utilizado com certa frequência e diversas vezes de forma enganosa e errada, por acadêmicos, autores e até mesmo líderes de Estados. Mas do que se trata o tão falado soft power? Diferente do “Hard power”, que se classifica como a utilização de meios militares e econômicos, tendo como principais fontes o uso da força, ameaças e coerções para guerrear ou assumir alianças no sistema internacional, o poder brando se estrutura a partir da exploração cultural, além da aproximação dos princípios políticos e das políticas, tanto externas quanto internas, de um Estado.
Se tratando de um Sistema Internacional anárquico e extremamente conflituoso como o que vivemos atualmente, o hard power continua sendo crítico para Estados que buscam a constante luta para proteger sua independência e a manutenção de seu poder para com os outros países. Joseph Nye explica o que é o poder e como ele é utilizado no Sistema Internacional, afirmando que o mesmo é a simples capacidade de afetar os outros para conseguir os resultados desejados. Segundo o autor existem três maneiras distintas de utilizar o poder: através de ameaças ou coerção – chicotes; por meio de pagamentos – cenouras; ou fazendo com o que os outros queiram o que você quer. Essa terceira forma de utilização do poder é o que ele chama de soft power. O autor afirma que, se essa forma de utilização do poder for feita pelos países, muitas “cenouras e chicotes” seriam poupados.
Desde a metade do século XX, O Irã e os Estados Unidos têm passado por uma rigorosa (e até mesmo perigosa) interação de conflito. A história dos dois países passa por diversos níveis em sua relação. Nos primórdios, quando o Irã ainda era conhecido como Pérsia, os Estados Unidos eram grandes apoiadores e ferrenhos incentivadores das atuações iranianas. Em meados do ano 1907, a Rússia e o Reino Unido possuíam, respectivamente, colônias a sul e norte do território iraniano, e essas zonas de conflito foram resolvidas de forma pacifica através de um pacto que foi chamado de “Entente Anglo-Russa”, dividindo o Irã em três zonas de influência: norte com o Reino Unido, sul com Rússia e o restante ficou como uma zona neutra. Esse pacto e essa divisão aconteceram sem nem mesmo o governo iraniano ser consultado.
Diversos acontecimentos como os projetos de nacionalização do petróleo iraniano e as revoltas populares contra a monarquia são grandes exemplos de como a relação entre Irã e Estados Unidos foram de parceria a inimizade. Como grandes apoiadores da monarquia iraniana, os Estados Unidos passaram a ser vistos como inimigos dos revolucionários, levando até a invasão da embaixada norte-americana no Teerã por estudantes iranianos, cortando as relações diplomáticas entre os dois países em 1980.
Como abordado anteriormente, as relações entre os Estados Unidos e Irã sofreram quedas inimagináveis ao longo dos anos, gerando situações conflituosas onde o interesse internacional e geração de poder em ambas as partes são colocadas a postos sobre as relações no Sistema Internacional e atuação até os dias de hoje. Sabendo que as últimas ações do novo presidente iraniano, o ultraconservador Ebrahim Raisi, se recusando a se encontrar o presidente norte-americano Joe Biden, afirma essa situação conflituosa. Apesar de luzes terem sido colocadas ao final do túnel com o ex-Presidente Barack Obama fazendo uma ligação ao ex-Presidente iraniano Hassan Rohani, o acordo nuclear firmado pelo Irã com as seis maiores potências do mundo (Reino Unido, França, China, Rússia, Alemanha e os Estados Unidos), caíram por terra com o governo de Donald Trump (2016-2020).
Seguindo os fatos supracitados, e principalmente os ensinamentos e análises do cientista político Joseph Nye, para que haja uma melhora no Sistema Internacional e nas atuações de ambas as partes, a utilização do Soft Power deve ser seguida a risca em toda e qualquer circunstância de convivência, desde ligações econômicas entre os dois países, até em relações com terceiros, tornando o Sistema Internacional menos caótico e mais proveitoso e respeitoso possível.
Referencias:
Arantes, Maria Inez Fontenelle. Os EUA e a guerra como instituição: o caso do Irã. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/88072
PATRICK, Andrew. O Irã entre o Ocidente e sua autodeterminação. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsocp/a/G4Fs6bKLJwpNJtkQ9K8Mc9J/?lang=pt
Novo presidente do Irã rejeita se encontrar com Joe Biden. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2021/06/21/novo-presidente-do-ira-rejeita-encontrar-joe-biden.htm