Agata Poliany Abreu (acadêmica do 1º semestre de RI da UNAMA)

Muito tem se falado sobre a doação de vacinas dos Estados Unidos para países considerados mais pobres, evidenciando não apenas a necessidade de alguns Estados pela vacina, mas também revelando, de forma brusca, a desigualdade mundial. Tal cenário, parte do discurso proferido pelo atual presidente, Joe Biden, que se refere à proteção da economia e das nações, gerando o questionamento acerca de quais os reais interesses dos Estados Unidos com tal medida.

Ações que vão desde revistas em quadrinhos produzidos para retratar o país como herói até a condutas como doações e financiamentos, que aparentam ser atitudes sem segundas intenções, porém, que escondem grandes interesses, seja por meio de intervenções, obtenção de recursos naturais ou interferências geopolíticas com discursos voltados para uma pseudo ajuda desenvolvimentista.  

 A política externa de assistencialismo dos EUA já é bastante conhecida, vindo desde auxílios em guerras e financiamentos de armamento até a ajuda humanitária. Logo, quando se considera o cenário atual, em que diversos países se encontram sem a devida munição de vacinas, há uma esperança quanto a doação do insumo (BBC, 2021). Aparentemente, são atitudes sem segundas intenções ou não estratégicas, mas que, na verdade, possuem interesses escondidos, levando a crer que não há real intenção de ajuda, e sim preocupação com sua interação no contexto internacional.

Contudo, apesar das afirmações do atual presidente estadunidense, de que não haverá comprometimento com favores, é difícil acreditar que, de fato, não há interesses por trás das ações promovidas, ainda mais analisando o histórico de estratégias voltadas para que os Estados Unidos alcancem seus objetivos, fazendo o que for necessário para a maximização de seu poder e garantir a sobrevivência e hegemonia do Estado. Logo, baseando-se em tais premissas seguidas de modo corriqueiro pelos EUA, a promoção de interesses se faz algo comum (PEREIRA, 2011). Ainda mais, quando considera-se que como detentor de tal riqueza, a distribui do modo que considerar conveniente.  

Ademais, tem-se a atenção muito voltada também para uma preocupação com o Soft Power (conceito formado por Joseph Nye) exercida por meio da influência de outros Estados quando se trata da conhecida “diplomacia das vacinas” (CNN, 2021). Tendo como premissa a necessidade de fomentar a recuperação da imagem de poder no contexto internacional. Sendo, não apenas a doação de vacinas, mas também a demanda e poder de compra (GONÇALVES; GUIMARAES, 2010), utilizada pelos Estados Unidos como uma forma de reposicionar sua soberania e credibilidade na política externa em detrimento a outros estados que vem ganhando destaque.

Portanto, percebe-se que a temática vai muito além de uma questão de bondade advinda de uma nação, implicando também na demasiada influência que ela exercera no estabelecimento de políticas e relações externas. Apesar da doação de vacinas dos Estados Unidos aparentarem ter ótimas intenções, pode-se esperar que venha revestida de interesses e estratégias, seja no sentido de busca por algo de seu interesse ou até mesmo na manutenção de sua soberania no sistema internacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GONÇALVES, Carlos Eduardo. GUIMÃRAES, Bernardo. 1 edição. “Introdução à economia”. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

LEMOS, Vinicius; SANCHES, Mariana. “Vacinas prometidas ao Brasil pelos EUA são poucas mas ajudarão, dizem especialistas”. BBC News Brasil. São Paulo; Washington. 3 de junho de 2021. Disponível em: <Vacinas prometidas ao Brasil pelos EUA são poucas mas ajudarão, dizem especialistas – BBC News Brasil>. Acesso em: 24 de junho de 2021

PEREIRA, Alexsandro Eugenio. “Três perspectivas sobre a política externa dos Estados Unidos: poder, dominação e hegemonia.”. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 19, n. 39, p. 237-257, jun. 2011. Disponível em: < 1_ensaio_alexsandro_eugenio_pereira_23_05_2011.p65 (scielo.br)>. Acesso em: 24 de junho de 2021

VEIGA, Edilson. “’Guerra fria’ das vacinas acentua desigualdade global”. CNN Brasil. 22 de março 2021. Disponível: < ‘Guerra fria’ das vacinas acentua desigualdade global (cnnbrasil.com.br)>. Acesso em: 24 de junho de 2021