
Leonardo Dias Alvarez de Castro – Acadêmico do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
A Rússia do século XXI apresenta muitos desafios e problemas semelhantes aos que a Rússia dos czares e dos bolchevistas tiveram que lidar, com o desafio principal sendo provocado pela geografia do país, por apresentar uma extensão territorial verdadeiramente continental. Este possui uma característica geográfica peculiar por estar situada no meio da grande planície europeia, que se estende desde as montanhas dos Pirineus na França e vai até as montanhas Urais dentro da Rússia. Logo, esta grande planície acaba privando o país de muitas barreiras naturais, como montanhas ou grandes rios, que poderiam providenciar alguma defesa contra invasões (FRIEDMAN, 2008).
O país em si é ocupado por populações de diversas etnias distintas e uma pluralidade de religiões diferentes, o que por muitas vezes, acaba produzindo conflitos políticos e armados, devido em parte ao tratamento preferencial que é dado pelo Estado russo a etnia russa, que compõe cerca de 77% da população, ocasionando a necessidade de uma presença miliar mais forte dentro do país para assegurar a estabilidade interna.
Ao observar a história russa, é possível notar que esta é marcada por várias invasões, desde os mongóis durante o século XIII até a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, onde devido a este histórico de invasões, o Estado russo tomou uma postura mais expansionista contra os seus vizinhos, visando alcançar alguma barreira natural que pudesse aumentar a segurança do país, e assim estabelecer Estados clientes perto de suas fronteiras, que seriam maleáveis aos seus interesses. No entanto, as poucas fronteiras seguras que ele conseguiu estabelecer, foram nas montanhas do Cáucaso e nos desertos da Ásia Central (FRIEDMAN, 2008), deixando os centros urbanos e industriais mais importantes na parte ocidental do país, como Moscou, São Petersburgo e Smolensk, relativamente desprotegidos.
Devido a este histórico de invasões estrangeiras, fronteiras porosas e populações heterogêneas, as forças militares russas tiveram um papel de grande importância dentro do funcionamento do Estado, caindo nelas a função de proteger o país de ameaças internas e externas. Para assegurar estas funções, o Estado russo ainda conta com uma força militar grande, com cerca de 800 mil militares em serviço ativo e obrigatório.
Apesar da dissolução da União Soviética em 1991, o Estado russo moderno do século XXI, continua enxergando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como uma das suas principais rivais no âmbito internacional e uma das suas principais ameaças para integridade do país, pois quando forças políticas dentro da Geórgia em 2008 e na Ucrânia em 2014 optaram por relações mais próximas com o ocidente e buscavam por uma cooperação maior com a OTAN, a Rússia viu a invasão militar destes países como o melhor meio para proteger as suas fronteiras e manter esses Estados vizinhos dentro da esfera russa de influência, onde ficou claro que as forças armadas russas ainda detém uma larga superioridade tecnológica e organizacional sobre os países fronteiriços.
Dado que a geografia possui um papel tão importante na formação de políticas públicas do Estado russo, é necessário examiná-las dentro da teoria geopolítica do Heartland do pensador Sir Halford J. Mackinder.
Criada no início do século XX, a teoria identifica o continente da eurásia como uma região de “pivot area/ Heartland”, onde quem seria capaz de controlar politicamente e economicamente esta região, poderia estabelecer a sua supremacia sobre a política internacional (ISMAILOV; VLADIMER, 2010). Dentro da teoria de Mackinder, a Europa Oriental ocupa um lugar de importância para quem quiser controlar o “Heartland”, pois ela representa a via de acesso mais direta para alcançar os abundantes recursos naturais da eurásia (ISMAILOV; VLADIMER, 2010). Por tanto o controle político sobre os países da Europa Oriental se torna um passo extremamente importante para poder se controlar o interior do “Heartland” na Ásia Central.
Desta forma podemos observar que a postura que pode ser considerada como mais agressiva e bélica que a Rússia toma com os seus vizinhos, tem motivações mais estratégicas de estado. Onde o Estado russo estaria procurando meios para aumentar o seu controle sobre o “Heartland”, não só para poder garantir a sobrevivência do Estado, mas também pra manter o seu status de grande potência internacional onde as forças armadas da federação russa precisam desempenhar um papel indispensável para garantir que a Rússia ainda tem um lugar de destaque dentro da política internacional.
Referências:
FREIDMAN, George. The Geopolitics of Russia: permanent struggle. GEOPOLITICS. 2008.
2021, https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/russia/
CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais / Thales Castro. – Brasília: FUNAG, 2012 ISMAILOV, Eldar & VLADIMER Papava. “The Heartland Theory and the Present-Day Geopolitical Structure of Central Eurasia.” Institute of Strategic Studies of the Caucasus 2010.