Escrito por Larissa Schoemberger – Acadêmica do 7° Semestre

Você já ouviu falar nas Bruxas da Noite? Pois bem, esse apelido refere-se a um grupo de aviadoras militares soviéticas que faziam parte do 588° Regime de Bombardeio Noturno, no período da segunda guerra mundial. O apelido “Bruxas da Noite” foi dado à essas mulheres por nazistas, por causa da tática usada por elas de desligar os motores dos aviões a noite quando se aproximavam deles, fazendo com que eles não conseguissem notar sua presença.

No período de 1941, quando a Alemanha nazista decide invadir território Russo quebrando o pacto de não agressão que durará 10 anos, a URSS ainda estava relutante em permitir a participação de mulheres na guerra e há relatos de que quando mulheres iam se alistar para a guerra os soldados respondiam que isso era trabalho dos homens e que o lugar delas era cuidando dos lares russos. Porém, no dia 8 de outubro de 1941, Stalin decreta que as mulheres poderiam se voluntariar para ir na guerra que os nazistas estavam até o momento ganhando e esse decreto teve uma força maior em 1942 quando uma coronela pioneira da aviação soviética propõem a criação de três regimes totalmente femininos.

Com isso houve a criação da divisão 586 de caças, divisão 587 de bombardeio de mergulho bimotor e o 588 de bombardeio noturno, mas desses o único que continuou sendo exclusivamente formado por mulheres foi o regimento 588 conhecido em alemão com “Nachthexen” ou as Bruxas da Noite.

A área de segurança e defesa nacional e internacional, e a militar sempre foi, e ainda é, majoritariamente dominada por homens. Tickner (1992), explica que a marginalização das mulheres por meio de estereótipos de gênero na arena de política externa e militar sempre aconteceu no estado moderno, já que essas políticas sempre foram conduzida por homens, cria-se uma associação automática a imagem de segurança e defesa a “masculinidade hegemônica”. Connel define que “masculinidade hegemônica” é uma “masculinidade culturalmente dominante” […] “é um ideal cultural socialmente construído que, embora não corresponda à personalidade real do maioria dos homens, sustenta a autoridade patriarcal e legitima uma ordem política e social patriarcal” (TICKNER, p. 10, 1992).

Essa ideia culturalmente construída pode explicar o porquê dessas heroínas da segunda guerra foram desligadas após a guerra acabar e um tempo depois praticamente esquecidas. Como uma grande autora feminista, Simone de Beauvoir, explica existe uma “superioridade masculina” e a ideia de dar a vida pelo país e o patriotismo são de exclusividade deles, essa é uma virtude do qual as mulheres foram excluídas (TICKNER, 1992). 

Mesmo com mais de 70 anos após a segunda guerra a área de segurança e defesa tanto no âmbito teórico como na área militar são majoritariamente pensados e praticados por homens, apesar de hoje as mulheres já fazerem parte das forças armadas e outras estudarem segurança e defesa nacional e internacional, ainda existe a ideia de que a defesa do estado e os avanço de seus interesses internacionais sendo soldados e/ou diplomatas, são papeis dos homens e as mulheres ficam com papeis de ordem e conforto, tanto na esfera domestica como sendo mães ou exercendo profissões que remetem essa ordem e conforto.

Apesar de relações internacionais ser uma área que também tem essa dominância masculina, atualmente dentro das relações internacionais estão aparecendo mais e mais autoras feministas que estudam segurança e tem um papel muito importante contribuindo para a área, como a Tickner, que é uma pensadora feminista e pós-positivista dentro de RI a tendência é que mais autoras como ela surjam para que as mulheres sejam reconhecidas e sempre lembradas pelo seus papel na historia como “As Bruxas da Noite”.

REFERÊNCIAS

DOMÍNGUEZ, Juan Manuel P. As bruxas da noite, o terror do exército nazista. Midia Ninja. 15 mai. 2020. Disponível em:< https://midianinja.org/juanmanuelpdominguez/as-bruxas-da-noite-o-terror-do-exercito-nazista/>. Acesso em: 16 jun. 2021.

GEARINI, Victória. As bruxas da noite: as aviadoras que aterrorizavam tropas nazistas. Aventuras na História. 03 dez. 2019. Disponível em:< https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/vitrine/historia-livro-bruxas-da-noite.phtml>. Acesso em: 16 jun. 2021.

H2G2. The Night Witches – Russian Combat Pilots of World War Two. The Hitchhikr`s Guide to the Galaxy: Earth Edition. 02 dez. 2005. Disponível em:< https://h2g2.com/edited_entry/A5849076>. Acesso em: 16 jun. 2021.

MELO, Gisele P. As bruxas da noite que aterrorizaram os alemães. AERO Magazine. 31 out. 2020. Disponível em:< https://aeromagazine.uol.com.br/artigo/bruxas-da-noite-que-aterrorizaram-os-alemaes_5939.html>. Acesso em: 16 jun. 2021.

TICKNER, J. A. CAP 1. Engendered Insecurities: Feminist Perspectives on International Relations. IN Gender in International Relations: Feminist Perspectives on Achieving Global Security. New York Columbia University Press 1992.