
Luiz Orlando Sampaio – Acadêmico do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Reinaldo Gonçalves, no livro Economia Política Internacional, de 2005, argumenta que a complementação da política dentro do campo econômico auxilia no objetivo de tornar mais precisa e abrangente as análises e críticas acerca dos objetos de estudo ou temas relacionados. Segundo o autor, a economia e a política são relacionais e qualquer tentativa de separação das duas esferas tende a tornar insuficientes ou limitadas qualquer interpretação da realidade advinda desta tentativa.
Baseado nisso, o autor utiliza uma alegoria para fortalecer seu argumento. De acordo com Gonçalves (2005), o mercado é o reino do homo economicus, onde é possível encontrar oferta e demanda de bens, serviços e fatores de produção. Nesse sentido, o homo economicus tem por objetivo maximizar os benefícios econômicos e buscar satisfazer seus desejos materiais. O Estado é o reino do homo politicus, que busca aumentar seu poder, entendido como a probabilidade de um ator social maximizar sua vontade independentemente da vontade alheia a qualquer custo, ignorando qualquer outra ótica.
Partindo disso, Gonçalves chama o homo politicus e economicus de caolho, pois são incapazes de utilizar os 2 olhos para enxergar a totalidade da realidade. Seguindo essa lógica, economia e política se relacionam pois não se restringem somente à lógicas de maximização de bens materiais e aumento de poder.
Segundo Joseph Nye (2008), interdependência complexa pode ser interpretada como efeitos decorrentes de acontecimentos e fatos cuja influência pode ser sentida e observada em diversos países. De acordo com o autor, é possível identificar os custos da interdependência: quanto mais vulnerável um país é, mais dificuldade terá em frear os efeitos da interdependência, e quanto mais sensível o país é, mais afetado será pelos efeitos da mesma.
De acordo com a Folha de São Paulo (2020), durante a pandemia, 19 milhões de brasileiros foram atingidos pela fome e cerca de 116 milhões conviveram com algum grau de insegurança alimentar. A pesquisa foi realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e os dados obtidos no momento em que o auxílio emergencial sofreu diminuição de R$600 para R$300. Aliado a isso, dados do IBGE de 2020 expuseram que o desemprego atingiu cerca de 13,5% dos brasileiros, demonstrando um aumento no índice de 1,6% em relação a 2019.
Dentre as variadas conceituações de economia, a mesma pode ser definida como uma ciência social que estuda a produção, distribuição e utilização de bens e serviços. A escolha feita sobre o que produzir, como distribuir e como utilizar, tem o plano de fundo político, principalmente sobre como o Estado se comporta em relação à economia.
Ao longo da história da humanidade houve diversas dinâmicas diferentes na relação entre esta instituição e a economia. Na economia planificada, por exemplo, o Estado tinha o controle absoluto da administração econômica. Outros pensadores mais moderados o idealizaram como um interventor, deixando o mercado agir até um certo ponto. Existem também os defensores da pouca ou nenhuma intervenção estatal na economia: os neoliberais. Estes acreditam que o Estado é o responsável por anomalias dentro do sistema econômico e por isso concedem a ele pouca ou nenhuma participação na economia.
A crise econômica advinda do COVID-19 trouxe diversos malefícios a muitos países, apesar de iniciada no oriente, mais especificamente na China, a crise se alastrou pelo planeta e afetou o Brasil, que demonstrou ser um país muito vulnerável à interdependência e muito sensível à mesma, necessitando de muito esforço para conter seus efeitos, como elucidado pelos dados citados.
O governo atual se aproxima bastante da lógica neoliberal, sendo comandada pelo ministro da economia Paulo Guedes. Nesse sentido, o discurso de diminuição da participação do Estado ganhou força e vem sendo colocado em prática. No contexto de crise, defender a diminuição do Estado ou agir seguindo essa lógica, significa negligenciar milhões de brasileiros que são incapazes de viver com dignidade, e que precisam sobreviver sem emprego e com fome.
Nesse panorama, podemos observar o prevalecimento do homo economicus, que ignora qualquer outra perspectiva acerca da realidade e que busca somente maximizar seus benefícios econômicos e satisfazer seus desejos materiais. Quando tais características fazem parte da política econômica de um determinado país em momentos sensíveis de crise, significa abandonar uma população que necessita de assistência e seguridade social.
REFERÊNCIAS
Folha de São Paulo. Fome atinge 19 milhões de brasileiros durante a pandemia em 2020. 21 de maio de 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/04/fome-atinge-19-milhoes-de-brasileiros-durante-a-pandemia-em-2020.shtml
GONÇALVES, Reinaldo. Economia política internacional: Fundamentos teóricos e as relações internacionais do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
NYE, Joseph. Cooperação e conflito nas relações internacionais: uma leitura essencial para entender as principais questões de política no mundo. 1 edição. São Paulo: Editora Gente, 2008
UOL. Desemprego bate recorde no Brasil em 2020 e atinge 13,4 milhões de pessoas. 22 de maio de 2021. Disponível em:https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2021/02/26/desemprego—pnad-continua—dezembro-2020.htm#:~:text=A%20taxa%20m%C3%A9dia%20anual%20de,Brasileiro%20de%20Geografia%20e%20Estat%C3%ADstica