Yanne S. de Paula – Acadêmica do 7° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O histórico de relação entre o Brasil e África é longo, e entre esses anos, o relacionamento se desenvolveu a passos lentos, entre avanços e paralisações. A busca brasileira por cooperação era pequena, até que uma real e forte relação começa, mais precisamente em 2003, com o Brasil na liderança do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Desde a década de 1950, o Brasil busca um desenvolvimento em cooperações internacionais e, tradicionalmente, a política externa tem se pautado em tentar conciliar parâmetros e tentativas divergentes. Nesse seguimento, a diplomacia brasileira buscou aumentar a margem de manobra internacional em diferentes conjunturas política, econômica e social.

De acordo com Cervo (2002), o Brasil abandona o mecanismo e inserção dependente para situar o Brasil entre as nações que buscam seu destino independente, sendo assim, consistindo o avanço de qualidade do modelo brasileiro de estado logístico e inserção internacional na virada do milênio. Com uma nova percepção de política externa, positiva e afirmativa, e a noção de Estado logístico, são validas as transformações nas relações exteriores brasileiras, onde afirma Cervo “recuperar a autonomia decisória da política exterior sacrificada pelos normais […] implementando um grande modelo de inserção pós-desenvolvimentista” (CERVO, 2008, p.85).

O governo de Lula tornou a cooperação Sul-Sul uma das suas principais prioridades, a cooperação passou a ser utilizada também para facilitar relações com outros países em desenvolvimento, que fez ainda mais a relação com a África crescer, estabelecendo parcerias; fortalecendo vários projetos com países africanos, dentre eles, o principal foi a África do Sul com uma forte atuação. O Brasil apresentou importantes negociações tanto globais quanto regionais, com uma impressionante “capacidade de fixar regras de ordenamento das relações internacionais” (CERVO, 2008).

As estratégias atribuídas à África, na política diplomática do governo Lula, reforçaram a capacidade interventiva do Brasil no cenário internacional, nesse período, as diretrizes governamentais deram prioridade a uma política de solidariedade mais ativa ao continente africano, além de defender um posicionamento de autonomia de sua soberania (ALMEIDA, 2004). Os maiores avanços nesta relação foram vivenciados na presidência de Lula, não somente com a África, mas com países emergentes e, principalmente, na criação do BRICS.

Após os oitos anos de mandato de Lula e de uma memorável relação e cooperação com a África, o Brasil começa a apresentar declínio em suas relações internacionais, já com o governo de Dilma Rousseff (2011-2016), onde sua política externa não dispunha de grandes cooperações. Após o impeachment de Rousseff e com Michel Temer (2016-2018) na presidência, muitas incertezas caíram sobre a atuação internacional do Brasil. Então, em 2018, Jair Bolsonaro é eleito, entretanto, desde sua campanha, o atual presidente brasileiro já apresentava falas e posicionamentos duvidosos, principalmente em relação a cooperação Sul-Sul e com importantes parceiros do Brasil.

A relação entre Brasil e os países africanos atualmente se encontra desestruturada e em total retrocesso; toda a cooperação que matinha, hoje se encontra paralisada e sem nenhum interesse de retorno. A política adotada pelo governo Bolsonaro começa mostrando total devoção à volta do alinhamento com os Estados Unidos e indo contra seus principais parceiros, como a China. As medidas adotadas pelo atual governo acabaram distanciando o Brasil, não somente na cooperação Sul-Sul, mas também com seus parceiros latinos e no BRICS.

Durante sua campanha eleitoral, o atual presidente, deu declarações consideradas racistas, referentes a nação africana e que consideravam a relação estritamente ideológica, fazendo com que as autoridades africanas mostrassem sua indignação e declarassem que, no atual momento, não tem interesse de relacionar-se com o Brasil, por não sentir confiança na atual gestão brasileira. Portanto, a cooperação Sul-Sul e a relação com a África permanecem estremecidas. Com a chegada da pandemia da Covid-19, causando não somente crise na saúde, mas também na economia, aprofundou o afastamento entre o Brasil e os países africanos e desarticulou a agenda baseada em programas e cooperação de com forte impacto nas relações comerciais.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Paulo Roberto de. Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula. Rev Brasileira Política internacional, v. 47, n.1, p. 162-184.

CERVO, Amado Luiz. Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Saraiva – 2008.

CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais/Editora da Universidade de Brasília, 2002, p. 526.

FRANCISCO. Flávio Thales Ribeiro; MATRONE. Giovanna Bonato; CAMPOS. Isabela Costa; SANTOS. Vitor Hugo dos. O realinhamento brasileiro e o fim da África estratégica. Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil, 2019. Disponível em: https://opeb.org/2019/08/11/o-realinhamento-brasileiro-e-o-fim-da-africa-estrategica/. Acesso em 20, de maio, de 2021.

FREITAS, J. S. ; ARAUJO, W. L. . A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA PARA A ÁFRICA: O ENVOLVIMENTO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES DE PAZ COMO INSTRUMENTO DE INSERÇÃO INTERNACIONAL NO CONTINENTE AFRICANO. Politica Hoje (UFPE) , v. 23, p. 105-121, 2014.

JÚNIOR, Haroldo Ramanzini. AYERBE, Luis Fernando. POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA, COOPERAÇÃO SUL-SUL E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS. São Paulo : Cultura Acadêmica, 2015.

VISENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Daanilevicz. A POLÍTICA AFRICANA NO GOVERNO LULA. UFRGS. Rio Grande do Sul – 2008.

FRANCISCO. Flávio; SANTOS. Kathelyn; ALVES. Maryanna Sagio. O vácuo brasileiro nas relações Brasil-África e as transformações no continente africano. OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA E INSERÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL, 2021, p. 8-20.