Keity Silva de Oliveira (acadêmica do 1º semestre de Relações Internacionais), Maria Bethânia Galvão e Natalia Antunes (acadêmicas do 3º semestre de Relações Internacionais) 

Em um mundo cada vez mais globalizado, as variações climáticas, compõem uma questão chamada de fronteiras planetárias, conceito proposto por Rockström (2009) para propor limites ambientais seguros nos quais a humanidade, poderia desenvolver atividades sem haver impactos para o meio ambiente. A queima de combustíveis fósseis, principalmente o dióxido de carbono, são consequências do desmatamento, que interfere diretamente na vida das pessoas. Nesse viés, em 2021, o presidente norte-americano Joe Biden anunciou a realização da conferência ambiental da Cúpula de Líderes sobre o Clima para atualizar as metas de preservações ambientais, firmadas no Acordo de Paris, em 2015. Um dos principais temas discutidos durante a Cúpula foi o compromisso do presidente brasileiro Jair Bolsonaro com a redução do desmatamento na Amazônia, tendo em vista que desde quando assumiu a presidência, a ocorrência de crimes ambientais na região elevou-se, sendo um preocupante fator para a agenda de mudanças climáticas de vários países. 

Em primeiro aspecto, é válido ambientar a Cúpula do Clima quanto à organização do evento que coincidiu com o dia da Mãe Terra, nos dias 22 e 23 de abril, foi realizada por meio de videoconferência, contando com a participação de chefes de Estados, chefes de Governos e de funcionários de Organizações Internacionais. A reunião da Cúpula do Clima, convocada por Joe Biden, teve o objetivo de dialogar com os representantes das economias responsáveis por 80% das emissões dos gases estufa, um debate que prepara a agenda de discussão para a COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).  

Nesse sentido, Joe Biden garantiu se empenhar em reduzir 50% das emissões de carbono dos EUA até 2030, um aceno positivo para a mudança de comportamento ao legado negacionista e negligente de Donald Trump. Por sua vez, o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, o qual tem adotado posicionamento descompromissado com as questões ambientais no cenário doméstico, demonstrou comprometimento com a “neutralização climática”, alegando que as discussões sobre o clima possuíam viés ideológico. 

Desde o início do seu mandato, em 2019, Bolsonaro adotou um comportamento negacionista acerca das problemáticas ambientais recorrentes no Brasil.Importante relembrar que a gestão do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, compactuou com a ação de grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais, equivalente a “milícias da Amazônia”, não é à toaque durante a administração dessas duas entidades políticas no ano de 2020, o desmatamento na região amazônica bateu o recorde, tendo o maior índice dos últimos 10 anos, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon. Nesse cenário, durante o evento, Salles se comprometeu a diminuir o desmatamento em até 40% até 2030, apenas se o governo estadunidense doasse 1 bilhão de dólares, contudo, essa negociação não obteve resultado. 

Como resultado dessa conferência, o Brasil continua mantendo sua imagem de que não está completamente comprometido com as questões climáticas e do meio ambiente, assim como de falsear dados e desvirtuar sua responsabilidade para outros atores. Essa atitude deve ser problematizada, pois o Brasil pertence a uma dinâmica globalizada multilateral das Relações Internacionais, o país está em constante relacionamento com o globo, seja para negociações, seja para discussões de tópicos importantes para o estreitamento de laços, essas ações são importantes para inserir o país na chamada ‘interdependência institucionalizada’, que corresponde à reunião dos diversos atores para além do Estado, que estão envolvidos em oferecer soluções para os desafios do globo. Caso o Brasil perca espaço nesse sentido, as problemáticas tenderão a se agravar, como afirma BENTO (2002): 

“[…] a interdependência […] acarretas novos riscos e responsabilidades para os povos, relativas à proteção dos direitos humanos contra a ação de governos criminosos, à restauração da autoridade colapsada em Estados dilacerados pela guerra civil, à proteção do meio ambiente e à promoção da justiça econômica global, distribuindo de forma mais igualitária as oportunidades de desenvolvimento, integrando mais efetivamente as regiões mais pobres do globo às vantagens da globalização”. 

Como foi trabalhado anteriormente no quadro Amazônia em Foco, em razão da ausência de políticas ambientalistas e a aplicação de estratégias econômicas de viés explorador e destrutivo, o Fundo Amazônia – considerado a maior transferência de recursos entre países para a preservação de florestas – está parado, sem receber doações. Desse modo, pode-se afirmar que a postura negligente e negacionista adotada no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro, em 2019, apresenta não só uma ameaça para o maior bioma em extensão territorial do Brasil, mas para as relações exteriores do país, uma vez que situações como a interrupção do funcionamento do Fundo Amazônia implicam em uma péssima imagem para o governo brasileiro, principalmente na temática de preservação ambiental. 

De acordo com o que foi abordado ao longo do texto, o tema tratado possui conexão com os seguintes trabalhos: 

O artigo de BENTO (2007) acerca do conceito de governança global sob a perspectiva das Relações Internacionais no contexto da interdependência e da globalização consegue dialogar com as importância dos regimes internacionais de cooperação. 

Em seguida, o texto de AGUIAR (2002) traça uma análise crítica da efetividade da interdependência complexa nas reuniões entre os países acerca da questão climática, evidenciando desafios e resoluções que devem se aprimorar. 

Por fim, DA SILVA (2014) descreve as contradições existentes no desenvolvimento sustentável, principalmente no que tange aos projetos globais nesse sentido. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

AGUIAR, Aimara Cobério Terena de. As limitações da aplicação da interdependência complexa no regime internacional de mudança climática (RIMC). FAPEMIG:  Revista Conjuntura Global v. 9, n. 2 (2020) 

BRAGANÇA, Daniele. O Eco: Desmatamento recorde em abril expõe política da terra arrasada do governo Bolsonaro. Disponível em: < https://www.oeco.org.br/salada-verde/desmatamento-recorde-em-abril-expoe-politica-terra-arrasada-do-governo-bolsonaro/ > Acesso em: 21 de maio de 2021. 

BENTO, Leonardo Valles. Governança Global: uma abordagem conceitual e normativa das relações internacionais em um cenário de interdependência e globalização. UFSC: Florianóplis, 2002. 

DA SILVA, Pollyana Luz. Desenvolvimento sustentável e suas contradições. UFF: Revista Internacional de Ciências · v.4 – n.2 · jul./dez. 2014. 

Imazon. Desmatamento na Amazônia cresce 30% em 2020 e bate recorde dos últimos dez anos. Disponível em: < https://imazon.org.br/imprensa/desmatamento-na-amazonia-cresce-30-em-um-2020-e-bate-recorde-dos-ultimos-dez-anos/ > Acesso em: 21 de maio de 2021. 

KHALILI, Amyra El. EcoDebate: Cúpula do Clima 2021: Que paguem, por uma transição justa! Disponível em: < https://www.ecodebate.com.br/2021/04/28/cupula-do-clima-2021-que-paguem-por-uma-transicao-justa/ > Acesso em: 21 de maio de 2021. 

MARETTI, Eduardo. Rede Brasil Atual: Ricardo Salles, Bolsonaro e ‘milícias da Amazônia’ devastam imagem do Brasil no mundo. Disponível em: < https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2021/04/ricardo-salles-bolsonaro-milicias-amazonia-devastam-brasil/ > Acesso em: 21 de maio de 2021. 

Rockström, J., Steffen, W., Noone, K. et al. A safe operating space for humanity. Nature 461, 472–475 (2009). https://doi.org/10.1038/461472a > Acesso em: 15 de maio de 2021 

VIANA, Virgilio. Cúpula do Clima, Biden e Amazônia. El País, 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-04-22/cupula-do-clima-biden-e-amazonia.html > Acesso em: 15 de maio de 2021.