Amanda Araújo – Acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

As Relações Internacionais (RI) são divididas em antes e depois de sua virada linguística e epistemológica. Esta divisão separa as vertentes teóricas em positivistas – que explicam a realidade humana através do poder da razão e da ciência -, e pós-positivistas – estas negam o positivismo e proporcionam novas formas de reflexão. A Teoria Crítica das RI é classificada, no segundo grupo, com concepções políticas e sociais diversas, as quais elevam suas análises para além do sistema de Estados, com enfoque na eliminação das diferentes formas de dominação.
Este comportamento é atribuído à grande influência que a Escola de Frankfurt e seus ideais emancipatórios exercem. Instituída em meados dos anos 1920 e com base no Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, a escola alemã nasce da discussão crítica de vários cientistas sociais a respeito da ampla sociedade contemporânea e a investigação de suas estruturas, por meio da proximidade com os pensamentos marxistas e da crítica kantiana aos limites do conhecimento.
Dois conceitos motrizes para Escola de Frankfurt influenciaram no desenvolvimento do criticismo nas RI, o Aufklärung (Iluminismo) e o Aufhebung (dissolução), os quais abordavam, respectivamente, a emancipação do sujeito dos objetos do conhecimento e a disseminação das sementes de ruptura filosófica material diante do status quo (CASTRO, 2012).
Max Horkheimer, um dos principais autores da Escola de Frankfurt, em suas obras, nomeia de “Racionalidade Instrumental” a razão capturada pelo capitalismo, onde tudo é instrumentalizado para produção e o homem é julgado apenas por sua capacidade produtiva. Dentro desse contexto, a Escola de Frankfurt vai além dos questionamentos marxistas, criticando não somente os modos de produção, mas a mentalidade que os justifica.
Deste modo, o projeto emancipatório, proposto pelos teóricos de Frankfurt, procurava liberdade da dominação de ideais e pensamentos que a racionalidade moderna impunha. Essa emancipação se estende para além da dominação racional e, a partir da articulação interdisciplinar entre marxismo, economicismo e historicismo crítico, surgem novas críticas e olhares sobre as Relações Internacionais. Tais olhares estimulam a desconstrução epistemológica, uma tarefa bem executada pela Teoria Crítica que, através do questionamento ao debate neo x neo, expõe a dominação e desigualdade existente entre atores internacionais, mascarados pela tradicional dicotomia realismo-liberalismo dentro das R.I.
A Escola de Frankfurt também influencia nos pensamentos dos principais teóricos críticos das RI, Robert Cox e Andrew Linklater. Cox percebe que as teorias tradicionais são marcadas pela metodologia positivista e pela tendência de legitimar a ordem social e as estruturas políticas prevalecentes (SARFATI, 2005).
Já Linklater, em seu artigo The Achievemnts of Critical Theory (1996), diz que a incidência da guerra e as perspectivas de paz dependem, entre outros fatores, da eficácia das normas internacionais. Esta fala pode ser associada à ideia de norma universal, do teórico frankfurtiano, Jürgen Habermas, que pregava a emancipação pelo diálogo e afirmava que poderia haver uma norma universal, desde que todos os afetados por ela estivessem de acordo com suas consequências.
Ademais, é possível perceber que a Escola de Frankfurt possui grande importância no desenvolvimento da Teoria Crítica das Relações Internacionais e, para entender a teoria pós-positivista, é necessário estudar a escola filosófica que deu origem às suas ideias e que abriu espaço para que mais teorias e perspectivas diferentes das tradicionais pudessem existir.


REFERÊNCIAS

CASTRO, Thales. Teoria das Relações Internacionais. 2012

MATOS F. C, Olgária. A Escola de Frankfurt: luzes e sobras do Iluminismo. 1° edição, 5° impressão. 2001

PETRY B, Franciele. O conceito de razão nos escritos de Max Horkheimer. Cadernos De Filosofia alemã. 2013

SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. 2005