
Larissa Schoemberger – Acadêmica do 7° semestre de Relações Internacionais
No dia 29 de maio de 1453, em uma guerra que durou cerca de 53 dias entre o Império Bizantino e o Império Turco-Otomano liderado pelo sultão Mehmed II, ocorreu a queda da cidade de Constantinopla na Anatólia (Ásia Menor) e o fim do Império Bizantino. De acordo com historiadores, isso marca a passagem da idade média para a idade moderna, pois com a dominação de Constantinopla pelo Império Otomano, a principal rota comercial que liga o mar negro ao mediterrâneo é fechada forçando os europeus a buscarem novas rotas para chegar à China e à Índia, o que levou posteriormente ao descobrimento do Novo Mundo (YUDENITSCH, 2019).
Diante desses acontecidos podemos nos questionar, a queda da cidade mais rica e influente daquele período poderia ter sido evitada? Ou era algo irrevogável? Existem dois acontecimentos ao longo dessa história que poderiam ter evitado esse trágico fim, o primeiro é a “grande cisma” em 1054, e o segundo, a “quarta cruzada” em 1204.
No século IV d.C, com várias crises sucessivas e muitas invasões bárbaras, o imperador Constantino I decide mudar a sede do Império Romano para o território helenístico Bizâncio, criando a cidade chamada Constantinopla que significa cidade de Constantino, também conhecida como a nova Roma. Nesse período o imperador Constantino havia se convertido ao cristianismo e com isso fundou a basílica Hagia Sophia, a igreja da Sagrada Sabedoria (igreja ortodoxa cristã bizantina), considerada a mais grandiosa do mundo (ROBERTSON, 2014). Por causa da sua localização, Constantinopla era a cidade mais rica e também mais almejada pelos demais impérios, além de ser a cidade bem mais protegida que existia, contando com o maior e mais forte muro já levantado que cercava toda a cidade, havendo resistido a mais de 20 ataques – de hunos, búlgaros, russos, germânicos e avaros (YUDENITSCH, 2019).
Em 1054 aconteceu o “grande cisma”, o qual significou o afastamento da Igreja Católica Apostólica Romana comandada pelo Papa e a Igreja Apostólica Ortodoxa comandada pelo Constantino I, o que representou as divergências entre as práticas cristãs das duas igrejas e a disputa pelo poder político e econômico daquela região do mediterrâneo (ROBERTSON, 2014). No período de 1202, a cidade era governada por Alexios III, mas seu filho Alexios Agelos, sabendo da ida dos cruzados a mando do papado para recuperar Jerusalém, pediu para que eles fizessem um desvio para Constantinopla para tomar o trono do seu pai, o que deu certo pois Alexios Agelos tornasse imperador em 1230. Entretanto no ano seguinte, acontece uma revolta na cidade e o imperador Alexios, o filho, é levado para a masmorra. Os cavaleiros da quarta cruzada sabendo disso voltam para tomar Constantinopla como forma de pagamento que havia sido prometido por Alexios Agelos. O cerco começou em 8 de abril de 1204 e no dia 12 os cruzados conseguiram atravessar os muros, começando um saque que iria até o dia seguinte (MARTON, 2018). A quarta cruzada também ficou conhecida como cruzada da vergonha porque cristãos saquearam cristãos.
Após isso, a cidade nunca conseguiu se recuperar por completo ficando vulnerável, o que teve efeito 250 anos depois com o ataque do sultão Mehmed II. Em 1347, aquela região ainda teve que passar pela “peste negra” que matou 1/3 da sua população e agravou ainda mais a vulnerabilidade daquele povo. Todos esses acontecimentos contribuíram fortemente para a queda da cidade em 1453.
Na primavera de 1453, Mehmed II escreveu uma carta para Constantino XII oferecendo a chance de render a cidade, o imperador por sua vez recusou, e respondeu à Mehmed II dizendo que o sultão claramente “deseja a guerra mais do que a paz” e por isso ele fecharia os portões da sua capital e defenderia seu povo, em suas palavras “até a última gota de sangue” (ROBERTSON, 2014). Então em 6 de abril de 1453, os otomanos começaram a bombardear a cidade, os bizantinos conseguiram resistir bem, a lembrar dos feitos em 16 a 20 de abril, nos quais conseguiram derrotar os otomanos que cercavam a cidade, porém não por muito tempo. Constantino enviou uma carta ao Papa pedindo reforços para resistir aos otomanos e recebeu uma resposta positiva dizendo que seria enviado reforços e mantimentos para eles, mas com os dias passando apenas uma embarcação chegou como reforço e os bizantinos não conseguiram resistir por muito mais levando sua queda no dia 29 de maio de 1453.
Como forma de mostrar sua vitória e sua dominação para o resto da Europa e países cristãos, primeira coisa que Mehmed II fez quando invadiu e dominou a cidade foi transformar a basílica Hagia Sophia em uma mesquita. Sua intenção era dominar as duas capitais com grande influência cristã e uma ela já tinha conseguido, com isso nomeou a capital de Istambul, que hoje é a maior cidade da Turquia.
Concluindo, é notório que se a grande cisma não tivesse acontecido, Constantino XII teria tido um grande apoio e reforço da igreja quando foi pedido durante o confronto com os Turcos-Otomano e se a quarta cruzada não tivesse acontecido, o povo bizantino não estaria fragilizado e conseguiria resistir a dominação do Império Otomano.
REFERÊNCIAS
MARTON, Fábio. A Cruzada da vergonha: Quando cavaleiros saquearam cristãos. Aventuras na História. 17 jul 2018. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/reportagem/quarta-cruzada.phtml. Acesso em: 08 mai 2021.
ROBERTSON, Join Gordon. The Fall of Constantinople. CBN News. 20 nov 2014. Disponível em: https://www1.cbn.com/video/specials/the-fall-of-constantinople?show=700club. Acesso em: 08 mai 2021.
YUDENITSCH, Natalia. Constantinopla, 1453: Desaba a idade média. Aventuras na História. 29 mai 2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/historia-hoje/constantinopla-1453-desaba-a-idade-media.phtml. Acesso em: 08 mai 2021.