Emí Vilas Boas Feitosa – Acadêmica do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

A Amazônia é a maior floresta tropical em biodiversidade do mundo, sendo assim, ela é uma reserva natural fundamental, especialmente por ser um fator chave de sustentabilidade para o planeta. Entretanto, essa não é a única linha de visão sobre a floresta, pois a ela também se atribui o papel de fonte de recursos fundamentais para a expansão do sistema capitalista, isto é, a fronteira econômica para este modelo.

A lógica do capital, que foi analisada por Karl Marx, entende a história da humanidade como uma consequência dos modos de produção, assim, os conflitos sociais, conceitos de direito, justiça, educação, progresso e outros, são dependentes da análise econômica. Segundo ele, o alicerce do sistema capitalista estaria na mais-valia, na propriedade privada e na exploração do trabalho. (MARX, 1996)

 As ideias de Marx são atuais na área ambiental, especialmente na Amazônia, uma vez que a natureza adquiriu variados significados diretamente ligados ao seu uso, domínio e apropriação, alvos diretos da lógica capitalista que a dimensiona como simples utilidade, natureza objeto, natureza mercado. Este pensamento agravou-se durante os séculos, tornando-se um comércio super lucrativo, onde a rotatividade de matérias-primas e espaços ecológicos ultrapassam o ideal à sobrevivência. A crítica do capitalismo de Marx e Engels é o fundamento indispensável de uma perspectiva ecológica, a fim de questionar a lógica destrutiva induzida pela acumulação ilimitada do capital (ENGLES, 1876).

A história da região, desde a chegada dos primeiros europeus à Amazônia até os dias atuais, representa uma trajetória de exploração, diretamente ligada ao modo capitalista de produção, passando a ser uma fonte de lucros no período das “drogas do sertão” ou ainda a maior produtora e exportadora de borracha, tornando-se uma das regiões mais rentáveis do mundo, em determinada certa fase. A Amazônia é hospedeira de 1/3 das florestas tropicais úmidas do planeta, concentrando assim, cerca de 30% da diversidade biológica mundial, o que expõe um grande potencial genético, princípios ativos de grande interesse econômico e social, além da oferta de produtos florestais com alto valor no mercado (LOUREIRO, 2002).

Apesar do longo histórico de exploração, a intensificação da inserção do capital na Amazônia se deu principalmente a partir da década de 70, no contexto das duas crises energéticas do petróleo. Com isso, a área deixa a condição de reserva de recursos para tornar-se de fato fonte de mercadorias estratégicas para exploração (BECKER,1982). É notável a grande participação do Estado Brasileiro em parceria com o grande capital privado no processo de inserção da economia da Amazônia no espaço de acumulação do centro-sul do país e do capital transnacional. 

As atividades extrativistas possuem grande importância para as comunidades ribeirinhas, caboclos, quilombolas e povos indígenas da região, já que, o uso de produtos florestais é fundamental para a sobrevivência de populações tradicionais que ali residem, sendo atividades indissociáveis não apenas da alimentação, mas também ligadas aos seus próprios modos de vida. Os primeiros impactos da expansão recaíram sobre esses grupos, quase exterminando-os ou expulsando-os mais para frente, dentro da própria mata, ou para as cidades. (TORRES, 2005).

Não se pode considerar que as riquezas da Amazônia são apenas seus bens materiais, mas deve ser levado em conta a riqueza regional, a cultura e os saberes de seus povos, entendendo que estes são elementos extremamente necessários para melhor conhecimento e uso da floresta. Seus habitantes acumularam conhecimentos únicos sobre suas características e seu funcionamento. Assim, o patrimônio biológico representa grande potencial ecológico, econômico e político, de importância estratégica regional, nacional e internacional (LOUREIRO, 2002).

As políticas de desenvolvimento para a Amazônia não podem ser regidas apenas pelos interesses econômicos nacionais ou internacionais, como é possível observar durante o governo vigente no Brasil. As políticas de desenvolvimento para a região devem ser pensadas para benefício dos amazônidas. Isso significa que as decisões tomada para o desenvolvimento regional devem seguir uma lógica diferente da do capital.

Referências:

BECKER, Bertha. Geopolítica da Amazônia: a nova fronteira de recursos. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

DARDOT, Pierre & LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2016

Engels, F. (1876). Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em Homem. Edição eletrônica: Ed. Ridendo Castigat Moraes.

LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re)construir. Estud. av. [online]. 2002, vol.16, n.45 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200008&lng=en&nrm=iso&gt;.

MARX, Karl [(1867:189)1996] – O Capital – Editora Nova Cultural – Vol. III, Capítulo XV.

TORRES, Maurício. Fronteira: um eco sem fim. In: TORRES, Maurício (Org.) Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR- 163. Brasília: CNPQ, 2005.