Wendew Lucas Rodrigues Pereira- acadêmico do 3° semestre do Curso de Relações internacionais-UNAMA.

Em meados do século XX, o mundo se via dividido entre capitalistas e socialistas. No meio dessa crise política e diplomática, surgiu um dos mais conhecidos conflitos até os dias atuais: a Guerra do Vietnã, marcando a história de toda uma sociedade, na qual, muitos estudiosos afirmam que foi a “Guerra perdida” dos Estados Unidos.

Ao fim da segunda Guerra mundial, os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a soberania global, pois, as duas nações trilhavam uma forte corrida armamentista, tecnológica e cientifica, nas quais, tentavam alcançar maior notoriedade e influência no cenário internacional, logo, diversas nações foram obrigadas a escolherem um lado.

Por isso, essa divisão ficou mais tensa à medida que alguns países se recusavam a pertencer somente um bloco, como foi no caso do Vietnã. Sabe-se que os vietnamitas nunca aceitaram a divisão de seu país, entretanto, com a forte influência dos Estados unidos no sul (capitalista) e o domínio do comunismo no norte, apoiados principalmente pela China e União soviética, onde forneciam armamentos e suplementos para os combatentes vietnamitas, a divisão tornou-se inevitável.

Após o fim da guerra da Indochina, o sudeste asiático se tornava mais uma vez alvo de uma guerra, dessa vez ainda maior. Todavia, até o ano de 1964, os Estados Unidos agiam no Vietnã apenas de maneira indireta, fornecendo armamento e treinamento para os soldados do sul, pois além das tensões nas fronteiras com o norte, o sul também enfrentava uma dura guerra civil contra os vietcongues, que já dominavam um território equivalente metade do Vietnã do sul. Entretanto, tudo viria a mudar após o incidente no Golfo de Tonkin, pois, nessa ocasião, um navio não identificado atacou dois navios norte-americanos, sendo o maior precursor para a entrada definitiva dos Estados Unidos na guerra.

 Até então, o presidente norte-americano Lyndon Baines Johson achou que seria uma guerra fácil e rápida, afinal, seria impossível um país de terceiro mundo, defendido por fazendeiros vencer tal conflito contra a maior potência do mundo, pois, ali estava a oportunidade perfeita para demonstrar a superioridade norte-americana sob as nações comunistas.

Nos primeiros anos do conflito, cerca de 80% da população dos Estados Unidos apoiavam a entrada do país na guerra, milhares de jovens se alistaram de maneira voluntaria para defender seu país, mesmo estes não tendo conhecimento algum sobre o Vietnã, mas, apesar do otimismo visível dos soldados, muitos não retornariam a sua nação novamente. Porém, a dura realidade do conflito se perpetuou por longos 11 anos, demonstrando a incapacidade dos Estados Unidos contra os vietnamitas do norte e vietcongues no sul.

O conflito não era contra uma superpotência organizada e rica, no entanto, os camponeses sabiam usar o terreno a seu a favor, matando milhares de soldados norte-americanos com simples ou bem elaboradas armadilhas em meio as florestas. Ao contrário do racismo que acontecia nos Estados Unidos, os soldados norte-americanos no Vietnã, independentemente de sua cor, estavam dispostos a morrer por seus companheiros, afinal, uma guerra não é feita apenas de jovens defendendo sua pátria, mas de homens que amam uns aos outros, dando suas vidas para proteger aos seus colegas, aqueles que em meio ao caos, são sua família.

Sendo a guerra mais bem registrada, a Guerra do Vietnã era mostrada em tempo real em todos os telejornais americanos e as barbáries do conflito atemorizavam toda população, que passou a enxergar tal guerra com outros olhos, em menos de 3 anos de conflito direto, apenas 46% da população apoiava a permanência na guerra. Como uma forma de mudar essa situação, as autoridades passaram a usar a imprensa para trazer novamente o otimismo para seu povo, mostrando que a guerra estava próxima de ser vencida, entretanto, os discursos não eram capazes de mudar a perspectiva de uma guerra vencida em números de mortos e não territórios.

Em 1968, nos Estados Unidos, iniciou-se uma rebelião de estudantes, que inicialmente ocuparam suas universidades e logo depois ampliaram-se para manifestações ainda mais significativas. Desde a criação do movimento dos estudantes em 1960, algumas manifestações já ocorriam dentro do campus nas universidades, utilizando as bandeiras do “Movimento pela Livre Expressão”, conseguindo expandir o movimento pelo país inteiro, apesar de suas manifestações estarem ocupando mais notoriedade no cenário midiático, os estudantes eram severamente combatidos pela polícia, sendo que em 8 de fevereiro de 1968, três estudantes foram assassinados pela polícia da Carolina do sul.

Financiados pelos comunistas, os estudantes se união em grandes acampamentos como uma forma de protesto, no qual, faziam questão de demonstrar a vida pacífica de se viver, com símbolos de paz e cabelos longos, trazendo uma contradição com os curtos cabelos dos militares. Por isso, o maior defensor dos direitos civis da população negra norte-americana, Martin Luther King Jr, na presença de mais de 3.000 pessoas na igreja de Riverside Church, condenou a Guerra do Vietnã com o discurso “Beyond Vietnam: it is time to break the silence” (Para além do Vietnã: é hora de quebrar o silêncio), pois, além de um defensor dos negros, Dr King defendia a vida de todos e como pastor se preocupava com a paz na humanidade, deixando claro para os jornalistas do programa Face the Nation, seu posicionamento contrário as mortes que ocorriam no Vietnã.

Todavia, é necessário ressaltar que Dr King se viu sozinho logo após seus pronunciamentos contra a Guerra, pois, ele foi duramente criticado pela imprensa, tendo seu discurso considerado um “erro” pelo New York Times, e a Associação Nacional para Avanço das Pessoas de Cor também resolveram se afastar de Matin Luther King, haja vista que consideravam errado unir esses dois assuntos.  Partindo de tais pressuposto, portanto, era notável que a permanência dos Estados Unidos na guerra estava ameaçada, pois, a Parada do Dia da Solidariedade ao povo do Vietnã reuniu mais de meio milhão de pessoas, dentre elas, nomes como Dr. Bejamin Spock e Monsenhor Rice, que marcharam ao lado de Martin Luther King, para o fim da guerra.

Referências:

LUTHER KING INTEGROU A LUTA PELOS DIREITOS CIVIS COM A DENÚNCIA DA AGRESSÃO AO VIETNÃ. Hora do Povo, 22.01.2019. Disponível em:<https://horadopovo.com.br/luther-king-integrou-a-luta-pelos-direitos-civis-com-a-denuncia-da-agressao-ao-vietna/> Acesso em: 28 de Fevereiro de 2021.

NEVES, Daniel. Guerra do Vietnã. Guerras Brasil Escola. Disponível  em:<https://brasilescola.uol.com.br/guerras/guerra-vietna.htm&gt;. Acesso em: 28 de Fevereiro de 2021.

KOKOTOWSKI,Christa.1964:Começa Bombardeio do Vietnã  do Norte pelos EUA. DW TV ao vivo,04.08.2020. Disponível em:<https://www.dw.com/pt-br/1964-come%C3%A7a-bombardeio-do-vietn%C3%A3-do-norte-pelos-eua/a-602782>. Acesso em: 28 de Fevereiro de 2021.