Rafaela Moraes Vale, acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia (UNAMA)

Além do destaque como um dos conflitos que melhor demonstra a dualidade ideológica, na qual, o sistema internacional encontrava-se no período conhecido como Guerra Fria, a Guerra do Vietnã carrega o peso da formação de um embaraço histórico presente nas recordações da grande potência imperialista norte-americana.

            Inicialmente, o atrito da região a envolver os territórios hoje conhecidos como Camboja, Laos e Vietnã, se definia como Guerra da Indochina, aspirando sua emancipação num território que anteriormente pertencia à França e temporariamente vindo a pertencer ao Japão durante a Segunda Guerra Mundial. A região se destacava como um ponto geograficamente estratégico e promissor, devido a  sua proximidade com o mercado da China, portanto, tornou-se visada por nações de ambos os lados ideológicos da Guerra Fria.

            A Conferência de Genebra, ocorrida em 1954, resultou num acordo de cessar fogo, além de nova demarcação territorial na região. Desde sua época como território pertencente aos franceses, havia um questionamento acerca do funcionamento da sociedade com a forte influência europeia, que estava a cada dia mais forte entre os habitantes vietnamitas, desde vestimentas à alimentação. Ao norte do paralelo 17 da região se forma a República Democrática do Vietnã, em posse do grupo de viés nacionalista Viet Minhs, cuja principal figura e fundador Ho Chin Min simpatizava com os ideais comunistas e ditatoriais. Ao sul, o imperador Bao Dai seguiu como governante do Estado do Vietnã, onde a presença francesa foi concentrada. O acordo também permitiu aos cidadãos um prazo de circulação na região fronteiriça para que pudessem definir a região de sua escolha para residir, momento este que foi conveniente para os Estados Unidos, nação de grande influência da ideologia capitalista, iniciar uma estratégia para atrair pessoas para a região sul. É válido destacar o país como um ator não participante do acordo, embora acatasse inicialmente o cessar-fogo. A questão da locomoção na fronteira também foi útil para a República Democrática do Vietnã, que também a utilizou de modo estratégico para envio de apoiadores da Frente de Libertação Nacional, os Viet Congs, para o lado sul.

            O apoio americano veio ao novo governante do Estado do Vietnã, Ngo Dinh Diem, cuja eleição não foi realizada de modo justo e sua presença representativa não estava sendo agradável. Por isso, o apoio adiantou o agravamento de tensões com a República Democrática do Vietnã, ameaçando o cessar-fogo, que realmente se tratava de uma violação por parte dos estadunidenses a soberania dos atores envolvidos na questão. Porém, havia uma problemática trazida do Tratado de Genebra que envolvia a independência estatal da região sul, não podendo ser considerada como um Estado soberano até então, o que dificultava a classificação de seus conflitos, assim, aquele contexto não poderia ser classificado como uma guerra interna, como estava sendo apontado por Ho Chin Minh.

            O aumento de Viet Congs na região sul também foi um fator da participação americana, pois, foi observada a ameaça eminente para seus aliados da região sul, situação que desencadeou o rompimento do cessar-fogo, visto que, formariam alianças militares na região, com a participação de Austrália e Nova Zelândia, enquanto a região ao norte foi apoiada por China e União Soviética.

            Ao longo do conflito, se tornaram destaque como representação estadunidense os presidentes John F. Kennedy, seguido por Lyndon Johnsson.  Já ao redor do mundo, a reputação da nação ficou manchada como incapaz de alcançar uma resolução pacífica devido a sua cobiça por poder e também por seus atos lesivos contra civis, incluindo a utilização de bombas de napalm e do agente laranja.

            Portanto, apesar de sua intervenção na região ser algo discutível, os fatores expostos trariam ao ponto de vista estadunidense a validação a esta ação, além de contextos em que as leis internacionais não poderiam ser aplicadas e o fato de que os Estados Unidos da América não estava impedido juridicamente segundo qualquer acordo.

REFERÊNCIAS

HATJE, Vitor Augusto Larrosa. Uma Análise da Guerra do Vietnã perante o Direito Internacional. Revista Perspectiva: reflexões sobre a temática internacional, v. 12, n. 23, 2019.

LAWRENCE, Mark Atwood. The Vietnam War: A concise international history. Oxford University Press, 2010.

LIND, Michael. Vietnam: The necessary war. Simon and Schuster, 2013.