
Maria Bethânia Galvão e Natalia Antunes – Acadêmicas do 3º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
O fenômeno da globalização demonstra ser um processo contínuo e possui sua intensificação a partir do século XX, da qual os meios de transporte e comunicação passaram a formar redes de integração no mundo todo – ou, pelo menos, grande parte dele. Nesse sentido, o fluxo de capitais é a “peça-chave” do processo de globalização, pois a partir da rapidez em que os investimentos capitalistas se perpetuaram pelo globo, o capitalismo firmou-se como modo de produção vigente, constituindo um padrão de produção a ser seguido. Nesse contexto, os países hegemônicos são os atores que estabelecem a padronização do modo de produção a ser seguido pelos países periféricos nesse sistema. É a partir dessa organização desigual do sistema capitalista que se encontram os contrastes do processo de globalização.
Em primeiro lugar, cabe situar o Brasil e, consequentemente, a região amazônica como parte dessa porção periférica da cadeia de produção capitalista globalizada. Como efeito da globalização, a região amazônica ganhou notoriedade nos últimos anos pelo reconhecimento da sua biodiversidade e da peculiaridade da formação da fauna e da flora, assim como os potenciais desenvolvimentos científicos e de matéria-prima dos componentes naturais da floresta.
Esse reconhecimento resultou na inserção da Amazônia no debate ambiental global, uma vez que a região é de extrema importância para o bom funcionamento do ecossistema mundial, não se fala, hoje, em pautas ambientais e desenvolvimento sustentável sem considerar o impacto da floresta amazônica.
Contudo, esse reconhecimento internacional ainda possui um viés exploratório e colonizador, em razão do papel desempenhado pela região no capitalismo como exportador de commodities na D.I.T (Divisão Internacional do Trabalho). Conforme foi citado anteriormente, a Amazônia se encontra na periferia do sistema capitalista e ao contrário de países hegemônicos, não se beneficia plenamente da globalização, apesar de ter ganhado destaque na comunidade internacional, são gritantes os prejuízos com os quais a região lida tendo em vista a sua aproximação à “aldeia global”.
De modo geral, as desvantagens da globalização trabalham para os países desenvolvidos, são esses os Estados que conseguem disseminar sua cultura de modo global, expandir seu comércio, concentrar mais capital e, no fim, são eles quem realizam a exploração dos países periféricos. Nesse sentido, pode-se facilmente relacionar a globalização com um sistema imperialista modernizado.
Em acordo com os aspectos destacados ao longo do texto, somente será possível mudar a realidade da Amazônia diante da cadeia desigual do capitalismo pela elevação do seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por meio da distribuição equitativa da renda direcionada às áreas de saúde, saneamento básico e educação, esta última colaborará com a qualificação da mão de obra, criando oportunidades para a produção tecnológica na Amazônia que irá agregar valor aos produtos exportados, assim também contribuirá para a mudança da base produtiva da região completando as cadeias produtivas.
Assim como, essa ação deve contar com a promoção da inclusão social entre as comunidades locais existentes, respeitando as suas culturas, também deve-se levar em consideração a preservação do meio ambiente na busca de meios eficazes para fazê-la, baseando-se no uso sustentável das terras, de modo a reduzir drasticamente a concentração fundiária e o desmatamento.
A discussão aqui apresentada abre um leque bastante amplo de pesquisas. Algumas delas são indicadas abaixo.
Em primeiro lugar, permite avançar sobre o papel da Amazônia no contexto do avanço da lógica neoliberal que sustenta a globalização nos moldes como foi apresentada acima. Estas pesquisas vêm sendo já realizadas, por exemplo, pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPa e por Organizações Sociais, como os “Amigos da Terra Brasil” (http://www.amigosdaterrabrasil.org.br).
Outra área de pesquisa relaciona-se com os efeitos do avanço dessa lógica sobre as populações tradicionais a partir dos resultados do IDH. No campo da alimentação pode-se citar a pesquisa de ALMEIDA (2019). Sobre a saúde na região amazônica, podem ser citados o trabalho de COUTO (2021). No que se refere à educação existem pesquisas relevantes do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPa), em especial os da Linha de Pesquisa “Saberes Culturais e Educação na Amazônia”.
Por fim, cabe indicar pesquisas que discutem o valor da cultura amazônica frente ao processo de padronização de modos de vida trazidos pelo processo de globalização. Tais vieses podem ser encontrados, por exemplo, em PRAZERES & CARMO (2020).
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Mário Tito Barros. A dinâmica eco-geopolítica da fome e as relações de poder na governança global da segurança alimentar: a soberania alimentar como resistência. 2019. 305 f., il. Tese (Doutorado em Relações Internacionais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
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COUTO, Rosa Carmina de Sena. Saúde e ambiente na Amazônia brasileira. Novos Cadernos NAEA, [S.l.], v. 23, n. 3, jan. 2021. ISSN 2179-7536. Disponível em: <https://periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/7280>. Acesso em: 03 fev. 2021. doi:http://dx.doi.org/10.5801/ncn.v23i3.7280.
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LIMA, W. TELES; OLIVEIRA, A. M. LIBÓRIO; ALVES, C. O. SAMMYA. Globalização na Amazônia: questões e implicações sobre a territorialidade. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3269949.pdf. Acesso em: 26 jan 2021.
LOUREIRO, Violeta Refkalefski. A Amazônia no século 21: novas formas de desenvolvimento. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322012000200006. Acesso em: 25 jan 2021.
LOUREIRO, Violeta Refkalefski. Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re)construir. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9872/11444. Acesso em 27 jan 2021.
MELLO, Valeries de Campo. Globalização e desenvolvimento sustentável: o caso da Amazônia brasileira. Disponível em: https://search.proquest.com/openview/9265928ca34af3ffb4c18e78afe1446e/1?pq-origsite=gscholar&cbl=1936339. Acesso em: 27 jan 2021.
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PRAZERES, Maria Sueli Corrêa dos; CARMO, Eraldo Souza Do. Tecnologias Educacionais na Amazônia: Tensões, Contradições e Mediações. São Paulo: APPRIS, 2020.