
Beatriz Coutinho – Acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Hanna Arendt, filósofa judia, escreveu sobre um importante conceito, que denominou de “banalidade do mal”. Em seu livro “Eichmann em Jerusalém: um retrato sobre a banalidade do mal” relatou suas observações acerca do julgamento de um importante general nazista, responsável pela logística e matança da chamada “solução final”, um plano de Hitler, para exterminar toda a população judaica.
Convidada para acompanhar a condenação de Eichmann, após 17 anos da queda do nazismo, que culminou com sua sentença de morte, Arendt concluiu que o general era um homem normal, mas que praticava o mal cotidianamente, por alegar que estava apenas cumprindo ordens superiores. Dessa forma, a filósofa analisa que a abdicação da liberdade de pensar, do senso crítico, e a sede por ascensão ao poder, fez com que o nazista ressignificasse ações maléficas, para meramente burocráticas.
Assim, a filósofa, de forma alguma, tirou a responsabilidade dos horripilantes atos cometidos pelo governante antissemita, mas extraiu disso uma lição: um povo que não reflete e apenas segue líderes, facilmente cai nas mãos de um governo tirano e genocida, como o de Hitler. Portanto, em sua obra, destaca a importância do pensar. Segundo ela, “uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos” (ARENDT, 1963).
A palavra Holocausto tem origem grega e significa “totalmente queimado”. No início, o uso da expressão era destinado a designar os sacrifícios humanos para deuses antigos. Entretanto, hoje é relacionado as aproximadamente 6 milhões de pessoas mortas pelo regime nazista. Diante da análise de Arendt, o Holocausto pode ser definido como a mais perversa face do homem, o qual se abstém de toda e qualquer razoabilidade.
As atrocidades cometidas contra judeus, mas também ciganos, homossexuais, negros, doentes mentais e outras minorias, marcarão para sempre a história da humanidade. Os campos de concentração, técnica muito utilizada no período da Segunda Guerra, são o retrato da brutalidade de Hitler. Estima-se que em um destes locais de tortura, Auschwitz- Birkenau, na Polônia, mais de um milhão de pessoas foram mortas por câmaras de gás, exaustão, má nutrição, “experimentos médicos”, entre tantos outros motivos assustadores.
Entre a Primeira e a Segunda Guerra, a Alemanha se transformou em um extraordinário centro de arte de vanguarda, onde surge o expressionismo na pintura e obras musicais inspiradas no jazz. Contudo, com a implantação do poder nazista, a utilização das artes como meio de reafirmação da ideologia dominante, rechaça qualquer manifestação artística moderna, enfatizando grandes artistas que reforçavam o conceito de um povo heroico, como Ludwig Van Beethoven. Foi neste ambiente de efervescência cultural e contradições, que o novo regime conduziu milhões de pessoas ao cometimento dos atos mais insanos da história.
O ideal disseminado de “raça ariana”, fez com que Hitler convencesse grande parte da Alemanha e outras partes do mundo, de que era necessário “purificar” a Europa. Seu discurso carregava ressentimentos de uma história de derrotas da Primeira Guerra Mundial, na qual, através do Tratado de Versalhes, os alemães foram responsabilizados pelas perdas ocasionadas pelo conflito. Sendo assim, foi num cenário de grandes instabilidades e busca por uma maior relevância, que o governo nazista ascendeu ao poder, e foi tão apoiado por parte da população.
Dessa forma, o estudo de fatos históricos, como o nazismo, é extremamente importante para que períodos como esse não se repitam. Apesar dos horrores e insanidade cometidos por Hitler e seus aliados, ainda hoje, existem pessoas que subestimam as atrocidades cometidas no Holocausto. Portanto, é somente através do estudo que será possível abolir qualquer ideia que se assemelhe a discursos de superioridade, exclusão, desumanização e racismo.
Diante disso, a Organização das Nações Unidas, em 1948, após os horrores da Guerra, definiu, através da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Salienta-se assim, a importância dos organismos internacionais para a elucidação da paz no mundo.
Por fim, espera-se que a Sociedade Civil Global e os Estados declarem-se fortemente contrários a todas as possibilidades de reaparecimento de manifestações, políticas públicas ou expressões que permitam o reavivamento de violações aos direitos humanos nos tempos contemporâneos.
REFERÊNCIAS
Porque falamos de 6 milhões de mortos no Holocausto? Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/13/internacional/1505304165_877872.html . Acesso em: 29 jan. 2021
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos . Acesso em 29 jan. 2021
O controle da cultura e da arte na Alemanha nazista. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/o-controle-da-cultura-e-da-arte-na-alemanha-nazista/ . Acesso em 29 jan. 2021
ARENDT, Hannah, Eichmann em Jerusalém, Um relato sobre a banalidade do mal. Hannah – Hannah Arendt; tradução José Rubens Siqueira. – São Paulo: Companhia das Letras, 1999
2014.HOLOCAUSTO. História em Meia Hora. 27/12/2020. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/62GaPbo7ARPDMud23l95eh?si=6cZqQaszSsKFtc678gNkBw Acesso em 29/01/2021