Foto: 28/12/2017 – Ascom/SDR

Jorge Malheiros – acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Os movimentos sociais rurais estão assumindo cada vez mais posturas críticas frente às posições e obstáculos que são impostas à classe campesina, além de representar a vanguarda da luta pela garantia de direitos de qualidade de vida dessas pessoas. A articulação de ações coletivas, que agem como resistência à exclusão e que provocam novas dinâmicas sociais, seja na cidade ou no campo, vem se reformulando e ganhando novos contornos sociais (MIRANDA, 2017; FIÚZA, 2017).

Na atualidade, vivemos o chamado capitalismo financeiro. Fase em que temos uma supervalorização e uso do capital especulativo, ou seja, lucro em cima de juros e títulos de dividas. Nessa fase, temos uma diminuição do investimento na economia real de um determinado país, pois, ela impacta diretamente a sociedade com geração de empregos. Dessa forma, os grandes monopólios crescem ainda mais através do investimento no mercado financeiro, excluindo os pequenos produtores.

Por isso, a subjugação aos interesses do capital levou à aceleração do extrativismo, incluindo a agricultura industrial, pecuária e pesca (VIA CAMEPSINA, 2020). Dowbor (2017) apresenta os grandes desafios frente a esta dinâmica, como a destruição do planeta dentro de um sistema econômico que beneficia uma minoria, além do alto nível de desigualdade na sociedade. Em relação à situação, os movimentos rurais lutam pela distribuição justa de terras, além de se tornarem movimento de resistência frente ao avanço do capital especulativo sobre a terra.

Atualmente, em nível internacional, os camponeses contam com a Via campesina. Isto é, uma organização internacional composta por diversos movimentos rurais ao redor do mundo, defendendo em primeiro lugar a agricultura camponesa e a soberania alimentar como meio de promover justiça e dignidade social, além de se opor à agricultura corporativa que destrói as relações sociais e a natureza (VIA CAMPESINA, 2016). A exemplo dentre muitos, na América do Sul temos a Confederación Campesina del Perú (CCP), Consejo Asesor Indígena (CAI) na Argentina e a Coordenação Nacional das comunidades quilombolas (CONAQ) no Brasil. Pois, a organização engloba movimentos de cunho indígenas e quilombolas, se tornando uma forte rede de ativismo da pauta rural, tratando sobre terra, soberania alimentar e etc.

Portanto, compreendemos todos os movimentos sociais rurais como forma de resistência, pois, através de ações coletivas, agem como resistência à exclusão e provocam novas dinâmicas sociais no campo (MIRANDA, 2017. FIÚZA, 2017). Além de desenvolverem uma nova alternativa de desenvolvimento, que foge da ótica moderna que atrela desenvolver com industrializar, estes grupos se mostram fundamentais enquanto atores de transformação da realidade social, pois, através de estratégias conseguem evidenciar suas demandas e pressionarem os órgãos decisórios do Estado.

REFERÊNCIA

DOWBOR, L. A era do capital improdutivo – a nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta. São Paulo: Outras Palavras & Autonomia Literária, 2017.

LA VIA CAMPESINA – Folheto Organizacional. 2016. Disponível em https://viacampesina.org/en/la-via-campesina-organisational-brochure-edition-2016/.

____________________ – Por que consideramos uma Reforma Agrária Integral e Popular uma questão de urgência? 2020. Disponível em <https://viacampesina.org/en/timetotransform-why-do-we-regard-an-integral-and-popular-agrarian-reform-as-a-matter-of-urgency&gt;.

MIRANDA, Edna Lopes; FIUZA, Ana Louise Carvalho. Movimentos Sociais Rurais no Brasil: o estado da arte1. Rev. Econ. Sociol. Rural, Brasília, v. 55, n. 1, p. 123-136, Jan.  2017. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032017000100123&lng=en&nrm=iso&gt;.