
Jhennyfer de Souza – acadêmica do 6° semestre Relações Internacionais da UNAMA.
Por natureza, o homem parece ser conflituoso e que se põe em primeiro lugar em todas as situações. No entanto, é de sua natureza ser empático e ter humanidade dentro de si. São esses e muitos outros sentimentos que fizeram algumas pessoas a se tornarem um exemplo para a sociedade e as suas criações e realizações continuam vivas até hoje.
Para o filósofo Immanuel Kant em “À paz perpétua”, a guerra deveria ser extinta. Ela só deveria ocorrer para fins realmente necessários, pois os Estados precisavam, para viver tranquilos, interagir de forma pacífica. No entanto, essa não é a realidade que vivenciamos.
A partir desses argumentos, o teórico crítico Andrew Linklater postula a necessidade das pessoas serem mais solidárias e de terem compaixão pelo próximo, incentivando a promoção da Cidadania Cosmopolita Internacional, que seria a responsabilidade coletiva e individual na sociedade. Neste sentido, a efetivação dos direitos de cada pessoa também é essencial para o autor. De acordo com Robert Cox (1986), existem algumas vertentes que influenciam o comportamento de alguns grupos da sociedade, como é o caso das instituições, que são arranjos estabilizadores de uma dada ordem, que influenciam o comportamento social e fornecem modos de lidar com os conflitos (JATOBÁ, 2013).
O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é um dos maiores exemplos de instituições que levam ajuda humanitária pelo mundo. Criada em 1863 pelo suíço Henry Dunant, é uma instituição neutra, imparcial e independente que busca assegurar a proteção humanitária e a assistência às vítimas de conflitos armados ou qualquer tipo de violência, sempre com o propósito de levar ajuda ao próximo. A instituição conta com mais de 90 milhões de voluntários pelo mundo todo e está presente em mais de 80 países, tento ajuda de doações para a realização de suas ações e trabalhos (CICV, s/d).
Com o surgimento da instituição, o Direito Internacional Humanitário passou a ser mais estudado e reconhecido, pois é ele que serve para cercear os impactos da guerra ou conflito sob os voluntários que estão ali para levar ajuda à todas as pessoas que precisam, e civis que não fazem parte do conflito, só estando presentes por acaso. Os acordos e protocolos que guiam o DIH estão presentes nas Convenções de Genebra, que é o resultado de vários tratados, assinados para definir normas e leis internacionais para o direito humanitário.
Esses acordos servem para restringir algumas situações em combates, como o uso de armas táticas que causem sofrimentos desnecessários ou ações que causem danos graves para o meio ambiente, o DIH proibiu muitas armas químicas e biológicas que provocavam problemas duradouros à vida. Henry Dunant, em seu livro “Lembranças de Solferino”, fez questão de destacar o papel importante que o DIH tem no trabalho voluntário, a preocupação com o seu semelhante está presente em todos os seres humanos, assim como alguns são atraídos para a guerra, há outros que agem pela bondade e solidariedade em seus corações (DEYRA, 2001).
Dentro da instituição há sete princípios a serem seguidos: humanidade, que tem por finalidade o respeito à pessoa humana; imparcialidade, não faz distinção de religião, condição social, raça ou inclinação política, o movimento é imparcial na sua forma de atuar; neutralidade, aceita qualquer pessoa para voluntariado e se abstém de qualquer hostilidade, ideologia ou religião; independência, a instituição não pode ser influenciada pela política dos países; voluntariado, as pessoas que ali ingressam não terão cargo remunerado, é uma instituição sem fins lucrativos; unidade, em cada país só pode haver uma Sociedade da Cruz Vermelha, tendo apenas filiais nos Estados e universalidade, existe apenas um Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, que atua em âmbito universal (CICV, s/d).
O voluntariado é muito importante na vida das pessoas, além de mostrar caráter solidário, empático e humanitário, ele leva ajuda aos mais necessitados. A Cruz Vermelha trabalha com as sociedades a fim de desenvolver os ideais de paz, respeito mútuo e compreensão entre os homens e todos os povos, ela coopera com as instituições públicas para garantir o respeito ao Direito Internacional Humanitário. Os projetos realizados têm várias áreas de atuação, como educação, saúde, apoio aos imigrantes e pessoas em situação de rua, atendimento de primeiros socorros em praças, balneários, praias e eventos. Crianças e jovens também podem fazer parte da instituição, participando de pequenas palestras e cursos, mesmo que não seja necessariamente para ajudar de imediato alguém, mas para cultivar a empatia e a compaixão, pois assim, a criança vai crescer com a ideia de solidariedade, sentimento que deve ser compartilhado por todos na sociedade.
A Cruz Vermelha está preparada para qualquer eventualidade, tem voluntários capacitados, que passam por cursos e provas de resistência, para testar os seus conhecimentos, capacidades e habilidades. Ela está presente constantemente nos países mais pobres e que estão em conflito contínuo, como é o caso do Afeganistão, a entidade leva alimentos e utensílios essenciais à vida do ser humano, além de tentar amenizar a dor que é causada pela guerra.
Os Estados vivem em um medo constante, a natureza do homem faz com que ele reaja de forma ofensiva, com a finalidade de proteger-se, mas dentro de si também existe a capacidade de amar e ter compaixão pelo outro, pois se não fosse a empatia e a solidariedade do ser humano, não existiriam as instituições que buscam promover a igualdade e levar ajuda aos que mais precisam.
O trabalho do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e de outras entidades com os mesmo princípios e missão, é fazer este sentimento aflorar dentro de todas as pessoas, fazendo com que elas doem uma parte de si para lutar pela vida do seu semelhante. Assim, a promoção da paz e da cooperação é essencial para o Movimento para que, com a ajuda da sociedade, mesmo que de forma mínima, haja uma grande chance e esperança de que um dia o mundo seja um lugar melhor, justo e seguro, para todos e todas.
REFERÊNCIAS
JATOBÁ, Daniel. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.
CICV. Comitê Internacional da Cruz Vermelha. s/d. Disponível em https://www.icrc.org/pt.
DEYRA, Michel. Direito Internacional Humanitário. Editora: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 2001.