Prof. Dr. Mário Tito Almeida – Coordenador do Curso de RI da UNAMA e Coordenador Geral do Site Internacional da Amazônia.

Em 1919, quando a área de Relações Internacionais (RI) ganhou o status de campo de pesquisa acadêmica em si, o foco era investigar o porquê da recorrência da guerra e as possibilidades de construção de paz entre os Estados. Assim, guerra e paz são dois dos focos mais importantes das análises em RI e sobre eles muitos autores já se debruçaram e construíram seus arcabouços teóricos.

Na verdade, a busca de uma paz menos efêmera e mais duradoura sempre esteve presente nos escritos dos autores chamados de idealistas clássicos, os quais sublinhavam a importância de descrever o mundo como deveria ser, não obstante os conflitos existentes. Neste sentido, Marsílio de Pádua (com a “Civitas”, na obra Defensor Pacis), o Abade de Saint Pierre (“Projeto para tornar perpétua a paz na Europa”), Thomas Morus (“Utopia”) e Immanuel Kant (“À paz perpétua”), desenvolvem argumentos para mostrar que a Paz corresponde às aspirações mais profundas do homem e deve ser o objetivo de toda sociedade humana.

Com Woodrow Wilson e Norman Angell, estas ideias ganham maior profundidade, pois são aplicadas ao âmbito internacional e relacionam paz com desenvolvimento, com cooperação e com mediação de conflitos. Por acreditarem na importância das instituições internacionais, sublinham que a promoção da paz passa pela construção de acordos entre os Estados e ações para superação de tensões, em relações definidas como win-win (ganha-ganha).

Pois bem, o novo ano chegou. Com ele renovam-se os desejos de ter um mundo novo, cheio de paz. Um ano de superação de tudo o que fez de 2020 um ano tenso, preocupante, triste e doloroso. Marcado pela pandemia, o ano que passou deixou marcas profundas e revelou a crueldade de um sistema excludente, desigual e injusto onde a violência contra o humanum gerou a sensação de que nunca haverá paz.

Por isso, para 2021 eu desejo PAZ.

Não a Paz como ausência de guerra, mas a Paz que valoriza o que de melhor há nas pessoas e nas culturas.

Desejo a Paz que é superação da fome. Aquela que nasce das quebras do domínio das grandes Corporações Transnacionais alimentares sobre a produção de alimentos e que permite que as populações locais possam produzir sua comida de maneira soberana, baseada na agricultura familiar e na agroecologia.

Desejo a Paz como acesso às condições de saúde para todos, onde não somente vacinas e medicamentos sejam disponibilizados, mas também os cuidados aos mais necessitados sejam não caridade passageira, mas políticas públicas consistentes.

Desejo a Paz que é fruto da valorização dos direitos humanos, especialmente dos refugiados e dos que padecem pela xenofobia, pelos deslocamentos ambientais forçados e pelo fato de ousarem serem “diferentes”.

Desejo a Paz que significa dar voz e vez aos excluídos do banquete da vida, onde as expressões culturais, religiosas, afetivas sejam valorizadas. Onde as decisões políticas sejam pautadas pelo benefício dos que precisam, e não pelo interesse dos que querem mais poder.

Enfim, desejo a Paz que nasce da superação dos fascismos, dos negacionismos e dos obscurantismos, os quais revelam a face mais cruel da maldade humana e que se constituem nas necropolíticas cotidianas, configurando-se como culto à morte e ao desprezo pelos mais pobres.

Desejo PAZ, PACE, PEACE, PAIX, EIRENE, MIR, HÉPÍNG!

Utopia?

Se você entende isso como um objetivo que move toda uma existência, SIM. Sem utopias a gente não tem PAZ.