
Acadêmicos (as) do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Alana Andrade
Ana Beatriz Cruz
Jhennyfer de Souza
Kalwene Ibiapina
Desde o início de seu mandato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tinha projetos no Itamaraty para criar uma relação voltada para a economia doméstica e mundial e que favorecesse o multilateralismo. Exemplo disto é os BRICS, um grupo de países com economias emergentes, consolidado em 2006, com a finalidade de ampliar a infraestrutura econômica de nações emergentes e subdesenvolvidas. Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China, e com a adesão da África do Sul, em 2011.
Por meio deste grupo, no Governo Lula, o Brasil teve seu auge na política externa, intensificando sua relação com a China, que se tornou, até hoje, a principal parceira comercial do Brasil. A exemplo disso, temos um crescimento na economia durante a década de 2000, no qual os chineses realizaram 35,18% de importações.
A relação sino-brasileira foi construída sob uma égide de cooperação, laços amistosos e reciprocidade. Desenvolveram a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), com políticas desenvolvimentistas para o comércio, economia, e setores científico e cultural, assim como o agropecuário.
Em frente à crise de 2008, o Brasil criou a “Agenda China” para traçar estratégias de inserção internacional, retomando os objetivos comerciais e de investimento mútuo. Em 2009, a consolidação do G20 propiciou uma maior participação da China e do Brasil em decisões financeiras internacionais (OLIVEIRA, 2010). O “Plano de Ação Conjunta” estabeleceu metas e mecanismos permanentes entre os países, parcerias comerciais e de cooperação, criando um diálogo focado em direitos humanos e desenvolvimento social.
O governo Dilma teve como principal foco as relações Sul-Sul com o BRICS, fundamentais para o enfrentamento da crise econômica. A partir de 2011, a Presidente Dilma Rousseff retomou os objetivos do governo Lula e essa ação resultou em investimentos em fábricas de soja, aumento da exportação de carne suína, exportação de jatos da EMBRAER para companhias chinesas, instalação do Banco chinês “Commercial Bank of China” e a criação do Centro China-Brasil de Mudança Climática e Tecnologias Inovadoras de Energia (BECARD, 2011).
A partir de 2012, houve queda internacional no preço das commodities e menores taxas de crescimento para o Brasil, gerando impactos significativos. Em 2013, houve uma retração do fluxo comercial China-Brasil, em decorrência da instabilidade política e econômica durante o Governo Dilma, e que resultou em uma queda de 30% nas relações comerciais, entre 2013 e 2016.
No quesito político-diplomático, a relação atual Brasil-China está visivelmente estremecida. Seja pelo alinhamento automático do Brasil ao viés ideológico dos Estados Unidos, seja por causa de declarações não oficiais e ofensivas, divulgadas nas mídias sociais por políticos brasileiros, em específico, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, e o deputado federal, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
O governante estadunidense, Donald Trump, é uma referência para Bolsonaro. Com ele, o Brasil se alinhou de forma tão comprometida (e não recíproca) que os “inimigos” estadunidenses passaram a ser do Brasil também. Bolsonaro adotou para si a ideologia de que a China é uma grande ameaça comunista ao mundo e que é a responsável pela pandemia do novo coronavírus – doença que vitimou milhares de pessoas em 2020.
No último dia 24 de novembro, um porta-voz da Embaixada da China precisou fazer uma declaração oficial, em repúdio às mensagens em redes sociais feitas no dia anterior por Eduardo Bolsonaro. O conteúdo das mensagens acusava as empresas chinesas de praticar espionagem cibernética e incentivava uma aliança contra a tecnologia chinesa do 5G.
A China tem sido a principal parceira comercial do Brasil há 11 anos e o principal destino das exportações brasileiras. Diante disto, em réplica, a nação deixou bem claro que, com a continuação de tais comportamentos, a parceria sino-brasileira poderia ser abalada de forma severa e o Brasil sofreria consequências negativas disto.
Dentro do âmbito comercial já é perceptível o decrescimento da parceria sino-brasileira, com a diminuição do volume exportado pelo Brasil pelo segundo ano consecutivo, o valor exportado foi de US$58 bilhões, cerca de 7% a menos que em 2019.
Portanto, nos últimos anos é possível verificar o desgaste das trocas comerciais refletindo o que ocorre no âmbito político, tornando o Brasil menos atrativo aos olhos de compradores e investidores chineses, os quais irão buscar outras alternativas de mercado, impactando diretamente no saldo das vendas brasileiras.
A derrota do presidente Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020, expõe também a quebra do alinhamento automático da política externa brasileira com os Estados Unidos, uma vez que o próximo presidente, Joe Biden, é avesso às políticas de Bolsonaro. Por tanto, a falta de um “modelo” a seguir, torna os próximos anos desafiadores para o Brasil.
REFERÊNCIAS:
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BECARD, Danielly Silva Ramos. O que esperar das relações Brasil-China?. Rev. Sociol. Polit. [online]. 2011, vol.19, suppl.1, pp.31-44. ISSN 0104-4478. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782011000400004.
BERRINGER, T. BELASQUES, B. As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma. Carta Internacional, v. 15, n. 3, 8 nov. 2020.
CAPINZAIKI, Marilia Romão Os BRICS e as instituições internacionais: uma perspectiva comparada / Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais, Porto Alegre, BR-RS, 2018.
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RINALDI, Augusto Leal. BRICS: alinhamento estratégico e soft balancing. 2020. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
SILVA, Antouan Matheus Monteiro Pereira da. O BRIC na política externa do governo Lula (2003-2010): do conceito à coalizão. 2013. 156 f. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
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