
Luiz Sampaio – acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Uma das características do neoliberalismo nas Relações Internacionais diz respeito à cooperação por meio das instituições e do multilateralismo. Em determinadas momentos existem situações e problemas cujos os Estados, de forma unilateral, não conseguem resolver e é nessa oportunidade, no qual, a cooperação e o multilateralismo ganham força, pois, “os atores devem ter interesses em comum para poder cooperar, ou seja, eles devem perceber que têm algo a ganhar com a cooperação” (SARFATI, 2005). Espaços de discussão e instituições, sejam elas Organizações Internacionais, Regimes internacionais ou convenções, são fundamentais nesse processo, pois elas regularizam os anseios de cooperar dos atores e coordenam o processo de resolução de determinada agenda.
Durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a política externa brasileira era pautada no multilateralismo da reciprocidade, cujas características se baseavam na ideia de que as regras do ordenamento multilateral beneficiam todas as nações na mesma medida, nos campos da economia, do comércio, da segurança, das questões ambientais, da saúde e dos direitos humanos. Nesse sentido, o multilateralismo da reciprocidade tinha como objetivo tornar mais igual as relações entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento por meio de ordenamentos e regras nas organizações internacionais, tentando evitar que a diferença de poder das grandes potências prejudicasse os países mais pobres (CERVO; BUENO 2002).
Nos dias 21 e 22 de novembro ocorreu o encontro do G20, grupo formado pelas maiores economias do mundo. O encontro teve como foco o fortalecimento do multilateralismo, o comprometimento e o reforço na cooperação envolvendo questões climáticas e o aumento de prestígio das organizações internacionais, em especial a Organização Mundial da Saúde (OMS), já que, um dos tópicos de debate foi o combate ao novo coronavírus. A participação do Brasil na cúpula teve como destaque o pronunciamento do presidente a respeito do caso de racismo, que resultou na morte de João Alberto, alegando que “há tentativas de importar para o nosso território tensões alheias a nossa história” (G1, 2020b). Além disso, o presidente saiu em defesa do meio ambiente e da agropecuária, criticando aqueles que enxergam com maus olhos a política ambiental brasileira, elucidado na seguinte fala: “O que apresento aqui são fatos, e não narrativas. São dados concretos e não frases demagógicas que rebaixam o debate público e, no limite, ferem a própria causa que fingem apoiar” (G1, 2020a).
O afastamento da política externa brasileira com o multilateralismo e as críticas, as organizações internacionais podem ser observadas através da aproximação com os Estados Unidos, em específico com Donald Trump e a postura crítica contínua em relação aos organismos multilaterais, encabeçada pelo chanceler brasileiro Ernesto Araújo. Assim, esse fato faz com que, de certa forma, o Brasil saia prejudicado, seguindo a lógica neoliberal, pois, dessa forma, as agendas que têm relevância para o Brasil, elas não têm mais resultados satisfatórios, pois, o nosso país adotou uma postura mais isolacionista, evitando o multilateralismo e diminuindo os arranjos de cooperação, trazendo mais malefícios do que benefícios em relação à defesa de seus interesses. Portanto, a política do multilateralismo e da reciprocidade foi abandonada e substituída por uma postura observadora e coadjuvante, perdendo a oportunidade de ser visto pelos outros países como um ator engajado e apoiador nas tentativas de restaurar a estabilidade no mundo.
REFERÊNCIAS:
CERVO, Amado Luiz & BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais/Editora da Universidade de Brasília, 2002.
G1. Após recordes de desmatamento e queimadas, Bolsonaro diz no G20 que sofre ‘ataques injustificados’ de ‘nações menos competitivas e menos sustentáveis’. 22 de novembro de 2020a. Disponível em https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/11/22/apos-recordes-de-desmatamento-e-queimadas-bolsonaro-diz-no-g20-que-sofre-ataques-injustificados-de-nacoes-menos-competitivas-e-menos-sustentaveis.ghtml.
__. Em discurso no G20, Bolsonaro diz que tensões entre raças no Brasil são importadas e ‘alheias à nossa história’. 21 de novembro de 2020b. Disponível em https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/11/21/em-discurso-no-g20-bolsonaro-diz-que-tensoes-entre-racas-no-brasil-sao-importadas-e-alheias-a-nossa-historia.ghtml.
SARFATI, Gilberto. Teorias de relações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.