Alana Andrade – Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Segundo a ONG Cáritas, cerca de 800 milhões de pessoas no mundo sofrem de desnutrição crônica, apesar da produção alimentar ser suficiente para suprir todo o planeta (CÁRITAS, 2020). Isso resulta da distribuição de riqueza desigual entre os países, explicitado pela forma de como o mesmo se situa dentro do sistema econômico. Países do continente africano, além de lidarem com séculos de exploração que deixaram marcas estruturais na sua formação, enfrentam guerras e desastres naturais que afetam diretamente na sua cadeia de produção.

Zimbabwe é um país situado no sul da África que não tem saída para o mar, dificultando mais ainda seu acesso à água e consequentemente torna sua população refém de secas, as quais ocorrem com bastante frequência e deixam cerca de 2,2 milhões sem água potável nas áreas urbanas do país. Além disso, como citado anteriormente, o Zimbabwe é primordialmente um país exportador de commodities, enviando fumo, ferro-ligas, produtos têxteis e minerais (MRE, 2012), entretanto, o que já foi considerado o “celeiro” da África hoje importa alimentos para a sua população principalmente o milho , segundo Hilal Elver, relatora da ONU (ONU NEWS, 2019)

Além disso, os dados disponíveis nos indicam que a balança comercial do país apresenta uma variação negativa em 2020 de 77,30%. Evidenciando a necessidade do país do mercado exterior, o preço dos alimentos dentro do seu território é diretamente afetado, sendo no mês de outubro de 2020 registrado 472% na taxa de inflação (TRADING ECONOMICS, 2020), o que repassado diretamente para a população através  do aumento de preços.

Desta forma, devido às crises econômicas e políticas que afetam o país, 90% da população encontra-se desempregada, ou seja, sem os recursos necessários para comprar alimentos, assim, cerca de 60% da população enfrenta a insegurança alimentar neste país, das quais 5,5 milhões vivem na área rural (ONU NEWS, 2019), e por conta das chuvas fracas e padrões climáticos irregulares (lembrando que o Zimbabwe não tem saída para o mar), intensifica-se um problema já agravado por questões criadas pelo homem.

Em 2019, foi lançado o “Apelo Humanitário Revisado do Zimbabwe”, uma parceria do governo nacional com a ONU, a sociedade civil e parceiros de desenvolvimento, visando uma resposta conjunta de ajuda humanitária para as pessoas vulneráveis que enfrentam a crise climática e econômica no país, aplicando US$331 milhões entre julho de 2019 e abril de 2020 (ONU NEWS, 2019). Entretanto, estruturalmente ainda é necessário fazer modificações pois assim quebrará o ciclo de dependência que existe no país.

A parceria Estado-ONGs seria extremamente necessária pois assim, através das ferramentas disponibilizadas pelas ONGs, a curto prazo é possível educar um número específico de adultos que serão empregados futuramente no país, desta forma, a população mantém o nível de qualificação profissional adequada ao trabalho, consequentemente podendo aumentar até sua faixa salarial.

O investimento estatal em tecnologia da alimentação também poderia mudar estruturalmente a necessidade do país em importar produtos alimentícios, e a partir daí aumentar sua produção que será inicialmente dividida entre a população vulnerável, para diminuir a médio prazo a taxa de 90% de crianças de 6 meses a dois anos que não consomem a dieta mínima saudável.

Em conclusão, a problemática máxima do Zimbabwe está em sua economia estagnada que não oferece emprego a sua população, a qual consequentemente não tem dinheiro para arcar com a alimentação hiperinflacionária do país. O que nos traz de volta ao assunto econômico, percebendo-se a necessidade do país em importar alimentos. Logo a reestruturação estatal surge como forma de melhoria do país, principalmente se vermos a corrupção como uma das grandes causadores da fome generalizada.

REFERÊNCIAS

Insegurança alimentar afeta cerca de 5,5 milhões de pessoas das áreas rurais de Zimbábue. ONU News, 7 ago. 2019. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/08/1682761. Acesso em: 14 nov. 2020

Guia de Negócios Zimbábue. Ministério das Relações Exteriores, 2012. Disponível em:       https://investexportbrasil.dpr.gov.br/arquivos/Publicacoes/ComoExportar/GNZimbabue.pdf. Acesso em: 14 nov. 2020.

Sécurité Alimentaire. Caritas International, 2020. Disponível em: https://www.caritasinternational.be/fr/urgence-et-developpement/la-securite-alimentaire-une-priorite-caritas/. Acesso em: 14 nov. 2020.

Zimbabwe – inflação de alimentos. Trading Economics, 2020. Disponível em: https://pt.tradingeconomics.com/zimbabwe/food-inflation. Acesso em: 14 nov. 2020.

Zimbábue enfrenta fome causada pelo homem, diz especialista da ONU. ONU News, 29 nov. 2019. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/11/1696191. Acesso em 14 nov. 2020.