Antonio Amorim – Acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Ser negro no Brasil implica constantemente ser “avaliado” por diversos fatores, avaliado por seu comportamento, sua origem, seu bairro, sua posição social, quais pessoas você se relaciona e etc. Esta criteriosa avaliação sobreposta à população afro-brasileira nos reforça quão importante é o Dia da Consciência Negra.

A data de 20 de novembro é símbolo de luta e resistência reconhecida por decreto federal. Do ponto de vista prático, o que separa o indivíduo negro do indivíduo branco são duas questões centrais: a construção social do que gira em torno e a condição de vida que o indivíduo negro vive.

Esta ideia se desenvolveu por vários séculos em nosso país, principalmente no período da escravidão. Ao longo deste período, um total estimado em 4,5 milhões de negros escravizados em 350 anos fez do Brasil o maior território escravagista do Ocidente. As cicatrizes desse passado jamais serão apagadas, mas graças a medidas afirmativas implementadas por lei e após muita pressão de movimentos populares, a história da cultura negra vem sendo aos poucos resgatada.

A data foi instituída oficialmente pela primeira vez em 1987, como lei estadual no estado do Rio Grande do Sul. Mas a ideia começou mesmo a se disseminar em todo o país a partir de 1995, com o tricentésimo aniversário da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares. Símbolo da resistência dos escravos negros, Zumbi foi inscrito em 1997 no livro de aço do Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A memória de 20 de novembro entrou para o calendário escolar em 2003.

Em 2020, num ano marcado por uma pandemia a questão do racismo não deixou de ser reverberada para ser combatida, muito pelo contrário. A questão da identidade fora muito reforçada nos últimos anos, se por exemplo, uma pessoa entrar em uma casa no Brasil onde a família seja de origem italiana, eles saberão responder sobre seus antecedentes familiares, costumes, e se afirmarão quanto sua origem. Se uma pessoa for na casa de uma família descendente de japoneses há o mesmo processo de afirmação da sua origem, por exemplo.

Contudo, se você entrar na casa de uma família brasileira de descendência africana onde sua origem se firmou no país através do processo de escravidão, não se saberá ao certo sua origem, seus costumes, de qual país ou região da África seus ancestrais vieram. E isso foi historicamente negado aos afrodescendentes, pois nunca houve uma preocupação em se organizar e dar acesso à tais informações, e isto não é uma coisa irrelevante, tem haver com identidade.

Neste sentido, a importância pelo movimento afro-brasileiro e a afirmação do dia 20 de novembro serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. A cultura afro nos influencia diretamente nos aspectos sociais, políticos, gastronômicos e religiosos em todo o país. É um dia que devemos comemorar nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura afro-brasileira.

Mas, acima de tudo, é preciso lembrar que se o dia 20 marca uma importante data para discutir esta questão na sociedade, é também fundamental entender que, por causa de tudo o que foi dito aqui, o Dia da Consciência Negra é todo dia. O resgate histórico das populações negras submetidas à condições desumanas neste país e a necessidade urgente de modificar estruturas racistas faz com que a luta seja todos os dias.

REFERÊNCIAS

– Como 20 de novembro se tornou o Dia da Consciência Negra. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/como-20-de-novembro-se-tornou-o-dia-da-consci%C3%AAncia-negra/a-55664979 . Acesso em 20 nov 2020.

– Vídeo: Ser negro no Brasil: A escravidão como elemento civilizatório. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yYJSbG7rETY

– Documentário Consciência Negra. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wbNv–cnkAA